O Estado de S. Paulo
O que se espera de Lula nos Brics:
pragmatismo, equilíbrio e discurso lido, sem improvisos
Segundo o presidente Lula, ao lado do trumpista Javier Milei, na Cúpula do Mercosul, “a Ásia (não os EUA...) é o centro dinâmico da economia mundial”. Foi uma senha para o que está em jogo numa cúpula muito mais poderosa, a dos Brics, que começa hoje no Rio de Janeiro e reúne oito países asiáticos, a começar da China e da Rússia e, para piorar, o Irã, o que empurra o foco da reunião para o “outro lado”, Estados Unidos e Israel. Com o presidente de Cuba, Miguel Diaz Canel, presente...
As questões temáticas são razoavelmente
consensuais: valor monetário dos dados da IA, “saúde dos pobres” (problema
comum a todos) e responsabilidade dos países ricos sobre a sustentabilidade
ambiental dos não tanto. Até nelas, porém, o alvo continua sendo Donald Trump
que, por exemplo, suspendeu recursos para a saúde dos próprios americanos,
asfixiou a USAID, braço dos EUA para ajuda humanitária, e rompeu com o Acordo
de Paris. De quebra, reativou todas as sanções contra Cuba.
A ausência de Xi Jinping e Vladimir Putin
(que entrará por vídeo) tem dois lados. Se esvazia o peso da Cúpula – e da foto
-, alivia a tensão no grupo e a pressão sobre Brasil e Lula. O Brics, que
criticou a invasão de Israel e dos EUA no Irã, agora quer mais: uma condenação
contundente, com citação explícita aos dois países, o que não convém nem aos
interesses do bloco, nem aos de cada país. Um documento final assim teria, ou
terá, consequências graves e duradouras
O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, chegou
ao Rio trazendo na mala a velha negação do
Estado de Israel, renovada com os ataques de
Netanyahu e depois de Trump a suas usinas de enriquecimento de urânio. Mas, do
outro lado, Índia, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita não
querem confusão com os EUA. O Brasil está no grupo que atua para equilibrar – e
amenizar – uma posição final.
Lula também receberá em Brasília, em visitas
separadas, Narendra Modi, da Índia, e Prabowo Subianto, da Indonésia. A Índia
passou a China como maior população mundial, quase 2,5 bilhões de habitantes, e
a Indonésia tem 280 milhões.
A Índia é top em tecnologia, na área
farmacêutica e em medicamentos genéricos e a Indonésia, com poderosas florestas
tropicais e o foco nas energias renováveis, deve ter destaque na COP 30.
Além de driblar as pressões do Irã e calibrar
o tom contra EUA e Israel, o desafio de Lula será deixar de lado os improvisos
e ler os textos dos profissionais. Quem banca a política externa é o
presidente, mas quem entende do recado é a diplomacia. Ainda mais num momento
delicado – e explosivo – dentro e fora do Brasil.
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