terça-feira, 15 de julho de 2025

É o fim do bolsonarismo moderado? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Ou adere-se ao clamor pela supressão do nosso Judiciário em subserviência aos EUA ou rompe-se com Bolsonaro

Um nome de direita pode chegar ao segundo turno das eleições de 2026 sem o apoio de Bolsonaro? Por mais que isso me entristeça, sou obrigado a admitir: "provavelmente não". A não ser que uma revolução do sentimento popular ocorra, o candidato que disputará o segundo turno com Lula será aquele ungido por Bolsonaro.

É claro que o melhor para o Brasil é ter uma direita democrática e que rejeite o bolsonarismo. A criação dessa direita, contudo, é um trabalho de mais longo prazo. No horizonte previsível, o ex-capitão segue incontornável em 2026.

Para o Brasil —e sem expressar aqui preferência por qualquer lado que seja—, seria muito importante que o candidato de direita em 2026 não reproduza as condutas antidemocráticas de Bolsonaro em 2022, o mais grave ataque à nossa democracia na Nova República.

Desses parágrafos iniciais, uma conclusão se segue: seria muito importante para o Brasil que o candidato apoiado por Bolsonaro seja alguém que não reproduza as condutas antidemocráticas de Bolsonaro. Estou falando, é claro, do "bolsonarismo moderado".

Esse campo é ocupado pelos governadores de direita aliados de Bolsonaro, como TarcísioRatinho Jr., Romeu Zema ou mesmo Ronaldo Caiado. Desde que Bolsonaro está inelegível, muito se discute se ele apoiará alguém com esse perfil ou se optará por um nome do bolsonarismo mais radical, como algum familiar.

chantagem tarifária de Trump —em parte fruto da influência de Eduardo Bolsonaro junto a políticos americanos— pode ter ferido de morte as chances dos bolsonaristas moderados. O caminho do meio, de ser aliado político de Bolsonaro ao mesmo tempo em que se respeita a democracia e as instituições brasileiras, está impossibilitado. Ou adere-se ao clamor pela supressão do nosso Judiciário em subserviência aos EUA ou rompe-se com Bolsonaro. O ticket para o segundo turno acaba de ficar muito mais caro.

Trump exige que, para não impor tarifa de 50% sobre nossas exportações, o Brasil mantenha Bolsonaro livre e elegível. Vale lembrar: a inelegibilidade não vem do processo sobre a tentativa de golpe; ela decorre da condenação eleitoral, em 2023, por abuso de poder econômico e político. Para que o julgamento de Bolsonaro seja encerrado e ele possa concorrer será necessário revogar não só o STF (Supremo Tribunal Federal), como também o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O discurso de Tarcísio —e de boa parte da direita brasileira— de culpar Lula pelas tarifas não funciona para o bolsonarismo radical. Para essa ala extremista, o culpado pelas tarifas tem que ser o ministro do STF Alexandre de Moraes. Se o discurso de Tarcísio colasse e Lula perdesse popularidade, isso seria péssimo para eles, pois seu objetivo não é derrotar a esquerda em 2026, e sim salvar Bolsonaro da Justiça. O ataque frontal ao Judiciário e a subserviência a Trump viraram condições inegociáveis para se estar junto de Jair.

A estratégia de Eduardo Bolsonaro é racional? Não. Um nome mais moderado apoiado por Bolsonaro teria chances em 2026 e poderia, aí sim, articular uma anistia com o Congresso. Eduardo feriu de morte essa possibilidade. Agora, ele não só não conseguirá reabilitar o pai como mina a popularidade de seu próprio lado, fortalece Lula para 2026 e ainda cola em seu próprio movimento o selo de traidores da pátria. A racionalidade pode muito pouco, contudo, quando a família está em jogo.

 

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