O Estado de S. Paulo
Antes e acima de tudo, a sanção anunciada por
Trump será ruim para o Brasil. É o que importa. O cronista se desculpa pela
obviedade. Se afinal materializada, péssima para a produção brasileira e o
emprego no País. Medida divulgada em carta que tem fundamento comercial falso,
evidência de descompromisso com os fatos. Urge que os adultos se apresentem.
Perde-se tempo dando centralidade ao secundário – o custo do tarifaço para Bolsonaro, donde o quanto beneficiaria Lula. São exercícios prematuros. Falar de 2026, à luz de impulsos trumpistas, é tentador e inútil. Há ainda longo mar, desconhecidas as ondas, a atravessar, uma eternidade em termos de condicionamento do eleitor. Nenhum dos dois navega em maré favorável.
Imediatamente, sim: ruim para um, bom para o
outro. Incondicionalmente: ruim para o brasileiro, esse ferrado, navegante
eterno em maré virada. A sanção – por ora apenas projeção – valerá a partir de
1.º de agosto. Ainda longo mar a atravessar, eternidade em termos de chances a
negociação. Já se viu Trump recuar. Muitas vezes. Convém esperar. E rezar. Na
falta dos adultos, a fé.
Convém refletir sobre o que vai oculto na
missiva. Subestima-se o peso da reunião do Brics, particularmente a fala do
anfitrião sobre a moeda americana, como elemento motivador da pancada. Lula
defendeu alternativa ao dólar para o comércio internacional – algo que nem o
chinês faz, não assim.
Sobre o que vai explícito. Uma chantagem. O
Bolsonaro perseguido como justificativa maior para a mordida; aquele, pois,
para cuja conta vai – neste primeiro momento – o peso da fatura. E então o
espetáculo de dissonância cognitiva. Uma direita, que passou meses trabalhando
por punição dirigida a Xandão e seus barrosos, agora colhe sanção à economia
brasileira. E a celebra. Como se o pretendido.
Atingido potencialmente agronegócio; e o
bolsonarismo – reafirmada a sua natureza deletéria aos interesses do País –
festejando o troço como se expressão de força. A direita brasileira presa a
agenda que consiste em livrar Bolsonaro da prisão. A isso se amarram Tarcísio e
os outros zemas.
Ruim para eles, bom para Lula. Ocorre que a
oportunidade nacionalista – o discurso de defesa da soberania – tem limitações.
Engana. É verdade que, para governo fraco, qualquer vento faz andar, embalada
espécie de eles (os ricos) contra nós ampliada, que incorpora o imperialismo
ianque entre os inimigos. Funciona a curto prazo. Eletriza a militância.
Confirma o viés de que o homem recuperaria a popularidade.
Tendo 26 como horizonte, é bandeira pouca,
que planta desarranjo do tecido social e contrata isolamento político. No mundo
real, lá em Madureira, não há quem esteja preocupado com anistia a golpista ou
tarifaço de Trump.
Tendo 26 como horizonte, o tarifaço seria
alta bandeira contra o ora animado Lula. Na forma de dólar encorpado. De
inflação espalhada. De juro elevado persistente. Sempre se volta ao preço da
comida. Junto com a segurança, o que interessa lá em Madureira.
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