Correio Braziliense
A superexposição de Lula por meio de
entrevistas e eventos não neutralizou a percepção negativa que a população tem
da economia. A causa é a inflação
Por onde quer que se olhe, o apoio da
população ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua em queda livre.
Apesar de o governo adotar medidas com o propósito de melhorar a própria
imagem, como o empréstimo consignado para assalariados, a bolsa de estudos
Pé-de-Meia para jovens adolescentes de baixa renda e a isenção do Imposto de
Renda para quem recebe até cinco salários mínimos, Lula não consegue estancar a
sua queda nas pesquisas.
A Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, mostra que a desaprovação do governo Lula subiu de 49% para 56% entre 25 de janeiro e 25 de março, enquanto a aprovação caiu de 47% para 41%. Os números são brutos. O esforço de marketing realizado pelo ministro Sidônio Palmeira (Comunicação Social) até agora não surtiu efeito. A tese de que o problema do governo era sobretudo não se comunicar com a sociedade está sendo posta em xeque pelas pesquisas.
Parece o caso da velha máxima do
gerenciamento estratégico: quando um projeto está dando errado, se as mesmas
coisas continuarem a ser feitas, continuará dando errado. A quase
universalidade dos números negativos reflete um mal-estar generalizado da sociedade
com o governo federal.
A queda na aprovação ocorre em todas as
regiões do país. No Nordeste, principal reduto eleitoral de Lula, a vantagem
que era de 35 pontos percentuais (pp) caiu para 6 pontos entre dezembro e
março, e a desaprovação subiu para 23 pp maior que a aprovação. No Sul, a
diferença é de 30 pp. Entre as mulheres, é a primeira vez que a desaprovação
chega a 53% e supera a aprovação, que está em 43%.
Sem o apoio maciço do Nordeste, da maioria
das mulheres e dos brasileiros de baixa renda, o projeto de reeleição do Lula
estará irremediavelmente comprometido. A aprovação está em 34% para quem tem
renda familiar de mais de 5 salários mínimos, em 36% para quem tem renda de 2 a
5 SM e chegou a 52% para quem tem renda de até 2 salários. A vantagem
estratégica de Lula entre os eleitores de até 2 SM já foi de 43 pp em julho de
2024; agora, está em apenas 7 pp.
A desaprovação ao governo Lula chegou a 26%
entre os seus próprios eleitores, ou seja, 25% de sua base de apoio. Isso
significa um deslocamento muito além daqueles que votaram em Lula no segundo
turno para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Esse percentual abarca muitos
que votaram em Lula no primeiro turno, o que é ainda mais preocupante para o
Palácio do Planalto. O nome disso é frustração de expectativas.
Força de inércia
Com esses resultados, é o caso de Lula ir
para o divã e avaliar a sustentabilidade de seu projeto de reeleição. É preciso
encontrar as causas profundas desse descontentamento, que não está sendo
revertido por medidas que o governo julgava capazes de alavancar a sua
popularidade. O alcance dos projetos não atingiu a escala que se esperava.
O programa Pé-de-Meia, por exemplo, além das
dificuldades de controle sobre a sua execução nos municípios, para que
realmente chegue aos que devem ser beneficiados, existe um aspecto que precisa
ser mais bem avaliado pelo governo: ninguém vai convencer os pais dos alunos
que não recebem a bolsa de que seus filhos não têm igualmente esse direito, se
estudam na mesma escola pública do jovem com Pé-de-Meia.
O crédito consignado, o empréstimo do Lula, é
um indiscutível sucesso de bilheteria: até 24 de março de 2025, mais de 5
milhões de assalariados haviam solicitado o consignado CLT, totalizando mais de
R$ 50 bilhões. Entretanto, a maioria pega o empréstimo para quitar ou
renegociar dívidas com os bancos e operadoras de cartão de crédito. Ou seja, o
programa é bem-vindo, mas não impacta de imediato o custo de vida.
Até agora, a proposta de isenção do Imposto
de Renda para quem recebe até R$ 5 mil também não surtiu o efeito esperado;
como só valerá para o próximo ano, pode ser que ainda traga resultados
efetivamente positivos no futuro. A maioria da população tem a percepção de que
a economia piorou e o governo caminha na direção errada: são 56% em ambos os
quesitos.
A superexposição de Lula por meio de
entrevistas e eventos foi alicerçada nesses programas, porém não neutralizou
essa percepção negativa que a população tem da economia. A causa principal é a
inflação, sobretudo o preço dos alimentos nos supermercados e dos combustíveis
nos postos de gasolina. Lula subestima a inflação como fez no Plano Real, em
1994, quando estava na oposição e combatia o ajuste fiscal.
O poder de compra da população decaiu nesses
dois quesitos, apesar da redução do desemprego e do aumento da renda média.
Isso poderia ser compensado pelos programas sociais do governo, porém, 67% da
população identifica esses programas como direito adquirido. É o caso do Bolsa
Família.
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