O Estado de S. Paulo
Os investimentos subnacionais parecem seguir
os ciclos políticos, aumentando antes das eleições e caindo depois delas
As discussões sobre a questão fiscal focam
usualmente no caso federal e só muito raramente alcançam Estados e municípios.
Assim, foi com prazer e surpresa que em jornais do dia 1.º de abril – e não é
mentira –, quando escrevia este artigo, achei dois textos mostrando ser preciso
cuidar também da área fiscal de Estados e municípios, além da federal.
O primeiro foi um informativo artigo de Luiz Schymura, pesquisador do Ibre-FGV, no jornal Valor. Ele aponta que “(...) o que se constata é o governo federal contendo gastos, enquanto Estados e municípios aumentam suas despesas. Com isso, (...) a fragilidade fiscal não cede”. Eles também aumentaram as suas receitas. No seguinte, trechos entre parênteses são de minha iniciativa ou do autor.
Buscando uma comparação, ele aponta que
“(...) os gastos primários trimestrais do governo federal nos últimos dez anos
(dessazonalizados e deflacionados pelo deflator do PIB; a base é o último
trimestre de 2024) têm girado, em média, em torno de R$ 473 bilhões
(extraindo-se do cálculo os dois trimestres nos quais a pandemia de covid teve
seu período mais crítico no ano de 2020, resultando em gasto extraordinários do
governo federal). No dado referente ao quarto trimestre de 2022, (...) a
despesa primária incorrida pelo governo federal é de R$ 483 bilhões.”
“(...) Segundo levantamento de ( seu colega
Manoel) Borges, ao longo dos últimos dez anos, os gastos primários trimestrais
dos governos subnacionais ( ajustados da mesma forma que os gastos federais,
conforme acima) apresentaram o seguinte desempenho: entre 2015 e 2021 ficaram
gravitando em torno da média de R$ 500 bilhões por trimestre; a partir daí,
começaram a apresentar crescimento consistente, atingindo nos três últimos
trimestres de 2024, o patamar trimestral de R$ 650 bilhões. Como se vê, tem havido
uma apropriação crescente do Orçamento público por Estados e municípios.”
Schymura concluiu seu texto com informações
sobre os chamados gastos tributários, que são incentivos fiscais concedidos a
determinados grupos, que nos Estados subiram de 1% do PIB em 2002 para 2,4% do
PIB em 2024, outra distorção fiscal.
De minha parte, o grande esclarecimento do
artigo foi o de informar que o conjunto dos governos subnacionais têm gastos
bem superiores aos do governo federal, mas usualmente só se discute a questão
fiscal deste último. Nos governos subnacionais esses gastos não só são maiores,
mas são de difícil análise e de medidas em sentido contrário em razão da
dispersão dos governos pelo País.
O segundo texto, também publicado no dia 1.º
de abril, veio também no jornal Valor, escrito pela jornalista Marta Watanabe e
com o título Estados e municípios puxam os investimentos públicos. Isso me
animou bastante, pois tenho argumentado, usando dados do Ibre-FGV, que uma
razão das baixas taxas de crescimento do PIB tem sido a redução dos
investimentos públicos no período pós-1980, avaliados como porcentagem desse
PIB.
Passando aos dados do artigo, eles apontam
inicialmente que de “(...) 2018 a 2024 os investimentos do setor público
cresceram mais de 80% em termos reais, puxados principalmente por Estados e
municípios. Enquanto os investimentos da União aumentaram 9,6% no período, os
dos Estados, incluindo o Distrito Federal, avançaram 81%. Nos municípios, o
último dado mostra que o aumento foi de 140% de 2018 a 2023. Com base em dados
parciais disponíveis, estima-se que o aumento tenha alcançado 183,1% em 2024 em
relação a 2018. Considerando esses indicadores, a fatia da União no total
investido pelo setor público caiu de 38,7% em 2018 para 23,2% em 2024, enquanto
a dos governos regionais aumentou de 61,3% para 76,8% em igual período.”
Quanto a valores em reais, “(...) no ano
passado, o investimento federal foi de R$ 70,9 bilhões, bem abaixo dos R$ 99,4
bilhões dos Estados e de estimados R$ 134,6 bilhões de prefeituras”. Os
investimentos subnacionais parecem seguir os ciclos políticos, aumentando antes
das eleições e caindo depois delas. Assim, isso aconteceu durante o ciclo
municipal recente e devem estar crescendo agora nos Estados, de olho nas
eleições de 2026.
Esses números podem impressionar os leitores,
mas é bom saber que como porcentagem do PIB não significam um acréscimo
relevante, dado que o valor deste chegou a R$ 11,7 trilhões (!) em 2024. Também
é bom saber que os Estados e municípios estão investindo mais do que a União,
que sabidamente investe muito pouco. Talvez isso sirva de lição a ela, para que
invista mais.
Os últimos dados do PIB publicados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que o Brasil
investe muito pouco, 17% do PIB, quando para crescer bem mais seria preciso
algo próximo de 20%, e buscando níveis ainda maiores. A queda dos investimentos
públicos teve grande papel na chegada a esses 17%. Os dados dos textos citados
aqui, que eu não conhecia, indicam que, além da União, será também preciso
recorrer aos Estados e municípios para que estes invistam ainda mais.
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