Valor Econômico
Prognóstico para candidatos com menos de 30% de ótimo e bom é muito ruim
O saldo das pesquisas Genial/Quaest e
Atlas/Bloomberg divulgadas na quarta e na terça-feira, respectivamente,
converge para o mesmo quadro: a queda de avaliação do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não foi estancada depois da troca do ministro de Comunicação
Social, com a nomeação de Sidônio Palmeira e a demissão do deputado federal
Paulo Pimenta, no começo de janeiro.
Ambos os levantamentos também mostram que toda a repercussão do processo por golpismo do ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo benéfica para a sua imagem. O hoje inelegível e réu antecessor de Lula é hoje uma figura com mais aceitação na opinião pública do que o petista, de acordo com a pesquisa da Atlas, ainda que ambos sejam no momento impopulares. Na pesquisa Genial/Quaest esta informação é dada de maneira inferida. Pela primeira vez desde o início da série há mais pesquisados considerando que o governo Lula é pior que o de Bolsonaro (43% a 39%). Há um ano, este escore era de 47% a 38% a favor de Lula.
Nem com uma lupa é possível encontrar uma boa
notícia sequer para o governo. A pesquisa Genial/Quaest sugere que foi limitado
o alcance de iniciativas do governo talhadas para agradar o eleitorado, como o
aumento da isenção do imposto de renda para R$ 5 mil, objeto de um projeto de
lei enviado para o Congresso, e a tarifa zero de importação de 11 tipos de
alimentos. Em relação aos impostos, 62% dos pesquisados se disseram, ou já
isentos, ou não beneficiados. Em relação aos alimentos, as opiniões sobre o impacto
das medidas se dividem.
Lula continua perdendo gás em sua base
tradicional de eleitores: a queda da avaliação no Nordeste é dramática, segundo
a Genial/Quaest. Caiu de 69% de aprovação em outubro do ano passado para 52%
agora, enquanto a desaprovação saltou de 26% para nada menos que 46%. Vinte
pontos percentuais em cinco meses. E em áreas do eleitorado que já não eram
favoráveis ao presidente Lula também piorou de forma significativa. Entre
evangélicos o presidente tinha uma aprovação que oscilou no patamar de 40%
entre maio e dezembro de 2024. O indicador desabou para 29% em março.
No Congresso, aliados do governo do Nordeste,
independentemente do partido, apontam um único motivo para a sangria: a
inflação de alimentos, sobretudo em dois produtos: café e ovo. Um senador cita
o exemplo do ex-presidente americano Joe Biden: entre 2021 e 2022, a Casa
Branca apostou tudo no crescimento da economia americana, e negligenciou o
impacto da inflação na opinião pública. O resultado foi Donald Trump, que, ao
que parece, tende a incidir no mesmo erro.
A história econômica dos dois primeiros anos
do governo Lula mostrou recuperação do nível de emprego, aumento de renda,
diminuição da desigualdade e um vasto et cetera de notícias boas, exceto em
relação ao fator essencial, ao determinante, ao que anula todos os outros: a
inflação. O senador governista, sob reserva, conclui: é melhor para o país
esfriar a economia, mas diminuir a inflação. A falta de crescimento econômico
faz vítimas, mas não da forma transversal que um surto inflacionário faz.
A continuidade destas linhas das pesquisas
por mais alguns meses tende a inviabilizar a reeleição de Lula. O prognóstico
para candidatos com menos de 30% de avaliações positivas, como é o caso de Lula
de acordo com a Genial/Quaest (27%) é muito ruim. Era este, exatamente este, o
índice que o então presidente Jair Bolsonaro tinha em janeiro de 2021, segundo
compilação do pesquisador Mauricio Moura, do Instituto Ideia, publicado em
“Voto a Voto - os cinco principais motivos que levaram Bolsonaro a perder por pouco
a reeleição”. O ex-presidente chegou no ano prévio à sua frustrada tentativa de
reeleição com 27% de bom e ótimo e nesse patamar ficou até o início da campanha
eleitoral.
Moura cita em seu livro que a mediana geral
de avaliação positiva dos candidatos reeleitos em governos estaduais é de 46%.
A mediana dos derrotados é de 31%. Lula hoje, segundo a Genial/Quaest, não está
sequer no patamar dos que tentam a reeleição e perdem.
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