O Globo
Não adianta fazer propaganda e pôr Lula para
falar a toda hora, porque o sentimento da população é contrário ao governo
A pesquisa Genial/Quaest, mais do que os
números desastrosos em pontos importantes para o presidente Lula, revela pela
primeira vez em anos uma repulsa a seu governo baseada na desconfiança de sua
postura. A maioria já considera que o outrora líder político mais popular do
país não é bem-intencionado, o que explica que a imagem de Lula na maioria da
população esteja desgastada neste terceiro mandato.
Até a eleição de 2022, quando derrotou Bolsonaro por pequena margem, Lula foi aceito pela maioria como um político que defendia a democracia conspurcada pelo governante anterior, já em pleno processo golpista, como se viu depois da derrota eleitoral. Não há informação ainda sobre os efeitos dessa percepção na eleição presidencial de 2026, mas há indícios demonstrando a desagregação de seu eleitorado.
No Nordeste, antigo bastião eleitoral de Lula
que garantiu sua vitória na eleição passada, é a primeira vez em que aprovação
e desaprovação estão quase no mesmo patamar, quase iguais dentro da margem de
erro. Depois de tantos comentários que não deveria ter feito em relação às
mulheres, aumentou a rejeição entre elas. A pesquisa reflete o que acontece no
país, embora não seja capaz ainda de explicar os fundamentos dessa rejeição.
Claro que a inflação, sobretudo dos
alimentos, é fator decisivo. Colocar Lula para aparecer mais, antídoto
infalível em tempos passados, hoje aprofunda a rejeição. Não adianta fazer
propaganda e colocar o presidente para falar a toda hora, porque o sentimento
da população é contrário ao governo. E é difícil revertê-lo sem controlar a
inflação. A população não acredita mais que Lula tenha a intenção de segurar a
inflação, entende que seu populismo, neste momento pelo menos, é uma ação
eleitoreira, e não uma tentativa de melhorar a vida dos brasileiros. Todas as
medidas sociais que o governo Lula fez foram complementadas ou ampliadas por
outros governos, e não contam mais como ativo apenas dele. A questão básica não
parece ser mais o emprego, que está em bom nível, nem os programas sociais,
mesmo os mais bem avaliados.
Há a questão da segurança, que o governo
ainda não assumiu como sua, apesar dos esforços do ministro da Justiça, Ricardo
Lewandowski. Há a violência contra as mulheres. Tudo cai no colo do presidente
Lula, antes considerado à prova dessas insatisfações. A influência das redes
sociais, dominadas pela ação das forças de direita, certamente é importante
para o que os governistas classificam como “distorção” da imagem de Lula e seu
governo, mas, se o cidadão comum estivesse satisfeito com seu cotidiano, não
haveria aderência a essa campanha.
Não houve mudança com a chegada de Sidônio
Palmeira para fazer a nova comunicação do governo. É um problema de empatia da
população com Lula — que sempre foi muito grande, mas agora já não tem
consequência. Parece que a maioria entende Lula como um presidente que fala,
fala e não faz nada, que não resolve os problemas, nem cumpre as promessas de
campanha. Portanto só os fatos podem reverter esta situação.
A quebra de confiança do eleitor em Lula é o
que de pior poderia acontecer a um líder populista que busca a todo custo ser
popular. Houve época em que o próprio Lula dizia que, se o pegassem com a mão
na botija, achariam que ele estaria colocando alguma coisa nela, e não
roubando. Foi isso o que aconteceu no mensalão; não houve condições políticas
de acusá-lo como o chefe do esquema. Ele se declarou enganado naquele momento,
no que mais se aproximou de um pedido de desculpas, e foi reeleito. Foi o que aconteceu,
com menos ênfase, na Lava-Jato, quando foi condenado em três instâncias e só se
livrou da prisão por uma manobra jurídica do Supremo Tribunal Federal (STF).
A percepção de que Lula é mal-intencionado,
para mim o ponto mais revelador desta pesquisa Genial/Quaest, mostra que pegou
em grande parte da população a imagem de que Lula tem interesses próprios que
não são necessariamente os da maioria.
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