segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O PT chega envelhecido aos 45 anos - César Felício

Valor Econômico

Partido tem dificuldades para renovar quadros e discurso

A média de idade dos deputados federais no Brasil em 2022, data da eleição, era 49 anos. É consideravelmente maior que a do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos hoje, 33 quando saiu das urnas. Mas é bem menor que a média de idade dos deputados do PT, um pouco menor que 56 anos. A bancada federal petista é aproximadamente uma geração mais velha do que o parlamentar paraibano.

O ano padrão de nascimento dos seus integrantes oscila entre 1966 e 1967, época em que estavam sendo constituídos a Arena e o MDB, partidos do regime militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não fazia parte da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo . Em sua maioria, os deputados petistas eram adolescentes em 10 de fevereiro de 1980, quando, em uma reunião no Colégio Sion, em São Paulo, foi fundado o PT, há exatos 45 anos.

O PT já foi retrato da renovação política no Brasil em suas primeiras décadas, mas desde a ascensão de Lula à presidência em 2002 passa por um acentuado envelhecimento de suas lideranças, o que sinaliza para problemas de renovação.

Naquela eleição de 2002, a média de idade dos deputados federais eleitos pelo PT era de 47 anos. A cada eleição essa idade média deu um salto, até chegar a 57 anos em 2018, recuando um ano agora. Não há informações completa no site da Câmara sobre a data de nascimento dos parlamentares antes de 2002, mas a média etária da diminuta bancada de oito petistas eleita em 1982 era de 38 anos.

Esse PT de cabeça branca enfrenta o dilema de entrar na disputa nacional em 2026 sem nenhuma alternativa minimamente competitiva para substituir Lula, caso o presidente não queira concorrer pela oitava vez em uma eleição presidencial. Em 2018 Lula se candidatou, mesmo inelegível, e foi substituido três semanas antes da disputa pelo atual ministro da Fazenda Fernando Haddad.

A reeleição de Lula em 2026 está longe de ser um cenário improvável, a julgar pelas últimas pesquisas. Mas falta ao PT opções para o longo prazo. Há quem especule com a presença de João Campos (PSB) prefeito do Recife, na sucessão presidencial de 2030, ou do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em 2034. Essa é uma futurologia muito difícil de ser feita em relação ao PT. Não se vê peças de reposição.

O partido que celebra seu aniversário no fim do mês em um evento no Rio de Janeiro cresceu lentamente, teve seu auge entre 2002 e 2012. Há 23 anos foi a legenda mais votada para a Câmara, com um desempenho bastante semelhante ao do PL nas últimas eleições.

Em 2012 conquistou seu número máximo de prefeitos.

A descida ao vale sombrio se deu entre 2016 e 2020, na esteira da Lava-Jato e do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que deixaram duas cicatrizes inapágaveis na sigla: corrupção e má gestão na economia. O partido se reergueu em 2022 quando a maior parte do eleitorado brasileiro preferiu se voltar em direção ao passado do que encarar um futuro com a extrema-direita no comando.

A “União e Reconstrução” do governo Lula era e é o que pode ser apresentado, face à dificuldade do PT de pautar a agenda nacional. Essa é uma dificuldade que se torna naturalmente maior quando se é o partido de um presidente que governa em minoria no Congresso. Lula depende da antiga base governista de Bolsonaro para ir tocando o barco. Sem entrar no mérito das propostas, as formulações recentes que chamaram a atenção da opinião pública vindas da esquerda partiram do pequeno Psol.

Qual foi a bandeira do PT nos últimos dois anos para tentar ampliar o eleitorado? E aliás qual é exatamente a estratégia? romper a polarização, fazendo acenos ao Centro? Encarar a polarização como inevitável e apostar no antagonismo com a Direita? Não está claro.

O PT nasceu em 1980 da força do sindicalismo, do catolicismo rural e da intelectualidade que chegou a pegar em armas contra o regime militar. Há um relativo consenso, muitas vezes verbalizado por Lula, de que estes três veios não correm mais nos dias de hoje. De que corrente nacional poderá vir o novo petista é outra pergunta em aberto.

A angústia petista torna-se mais expressiva porque a encruzilhada da esquerda não é um fenômeno puramente brasileiro, como procuram provar cotidianamente Elon Musk e Donald Trump. O avanço da direita deve dar um novo salto ainda este mês, com as eleições na Alemanha. O Canadá deve dar a sua guinada no fim do ano. A Argentina consolidar sua conversão em outubro. Os tempos não são de festa para o PT.

 

Nenhum comentário: