O Estado de S. Paulo
Centrão dá o tom na eleição para as casas legislativas e deixa governo Lula em posição delicada
A eleição para os novos presidentes da Câmara
dos Deputados e do Senado foi, por um lado, livre de surpresas. Todos sabiam
que o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP) seriam eleitos com grande folga. Mas, por outro lado, gerou um
cenário cheio de incertezas para o governo Lula no Legislativo.
Lula foi “obrigado” a engolir as candidaturas
de Motta e de Alcolumbre, e sua participação no processo foi meramente
confirmatória da preferência dominante do Legislativo, incorporada pelos
partidos do Centrão.
Por que o Executivo teve um papel tão marginal na eleição de peças-chave no Legislativo que pode interferir diretamente na sua própria governabilidade?
Lula perdeu o timing da reforma ministerial.
Se tivesse agido antes da eleição dos presidentes das casas legislativas, e
feito uma ampla reforma ministerial que contemplasse as demandas dos seus
parceiros de coalizão do Centrão, teria os comprometido ex ante com o governo
e, fatalmente, teria tido uma maior influência neste processo eleitoral.
São justamente os parceiros de coalizão do
Centrão que têm sido sub-recompensados pelo governo. A diferença entre o peso
político de cada partido, medido pelo número de cadeiras no Legislativo, e o
número de ministérios ocupados, tem sido amplamente desfavorável para os
parceiros do Centrão.
Enquanto o PT é largamente recompensado (com
30,33% mais ministérios do que o seu peso político na Câmara), todos os
parceiros do Centrão são desproporcionalmente sub-recompensados com menos
ministérios (PP - 6,60%; Republicanos - 5,43%; União Brasil - 3,81%; PSD -
0,50%; e MDB - 0,50%).
Esta escolha de gerência de coalizão, com uma
alocação de desproporcional de poder entre os parceiros e historicamente
adotada pelo PT, tem gerado uma coalizão numericamente majoritária (350
cadeiras na Câmara), mas, paradoxalmente, que não se comporta de forma
congruente e disciplinada com os interesses do governo no Congresso.
Uma eventual reforma ministerial será, no
máximo, de “contenção de danos”... em um contexto de vulnerabilidade política
de Lula tanto no Legislativo como na sociedade.
Ao passar o “rolo compressor”, o Centrão
demonstrou quem de fato tem o poder de barganha. Se o governo não contemplar
adequadamente seus interesses, Lula não apenas correrá o risco de perder o PSD
de Gilberto Kassab como aliado, mas também os demais partidos do Centrão. E, o
que seria ainda pior, de esses partidos passarem a jogar o jogo de oposição,
mesmo dentro do governo.
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