O Globo
As políticas comerciais que serão adotadas
nos Estados Unidos em nada favorecem os mais pobres daqui
Muitos prefeitos estão se esforçando para
ajustar a máquina que receberam de seus antecessores. A maioria alega caixa
baixo e reclama da falta de recursos. O município é a ponta onde tudo acontece.
A onda Trump parece tomar conta do Brasil,
como se tudo que ocorresse nos Estados Unidos ocorresse
aqui também. Grupos extremistas ou da direita têm simpatia por ele, mesmo sendo
eleitos e vivendo no Brasil.
Do ponto de vista econômico, o cerne da
questão, os americanos pensam primeiro na América. As políticas comerciais que
serão adotadas lá em nada favorecem os mais pobres daqui, embora pareça que
tudo será uma maravilha para os políticos alinhados com Trump no Brasil.
Com uma única canetada, Trump saiu da Organização Mundial da Saúde, cortou programas, e sua próxima tacada é reduzir recursos e investimentos em organizações internacionais e programas sociais que poderiam beneficiar comunidades vulneráveis, incluindo as favelas.
O caráter militarizado dos Estados Unidos na
era Trump influenciou o governo Bolsonaro, que endureceu as ações de segurança
em favelas e flexibilizou a posse de armas, o que pode ter contribuído para o
aumento da violência em áreas periféricas. Sem falar na circulação de armas nas
mãos de grupos armados que dominam territórios no Brasil.
Tanto aqui como lá, podemos discordar à
vontade das escolhas eleitorais que elegeram presidentes de extrema direita. O
que não se pode desprezar são as bases que motivam eleitores a continuar fiéis
a seus líderes, mesmo depois de tantos episódios de violência e ataques a
grupos minorizados.
Esses eleitores continuam buscando espaço e
voz no debate político. Seguem sem entender bem por que o Estado não funciona a
seu favor ou, quando funciona, é para puni-los. Não compreendem conceitos como
diversidade e equidade, que, em sua visão, soam como ameaça. Acreditam que
perderão o emprego para uma mulher ou que seu filho perderá a vaga na escola
para um jovem preto — ironicamente, justamente por causa de políticas que visam
a garantir inclusão.
São essas massas que optaram por não mais
acreditar em notícias oficiais e passaram a construir seus próprios canais,
incorporando uma diversidade de atores que vão do esporte aos negócios, da
religião às artes marciais, do cantor sertanejo ao pastor, do jovem que quer
empreender ao que se recusa a aderir à “favela de cota” porque acha que é
“esmola do governo”. É nítida a influência ideológica e política dessa
movimentação mais extremista, tendo Trump, chefe da maior economia, como sua
principal referência.
Estou curioso para saber como essa onda
contra imigrantes impactará a economia e a vida social americana, transformando
o tão sonhado American dream em pesadelo para milhões de trabalhadores — muitos
deles brasileiros que têm medo de ser deportados. Ao mesmo tempo, muitos
cidadãos americanos mais qualificados não querem viver à custa de certas
profissões, especialmente no trabalho braçal e na área de serviços.
Quem sabe não está na hora de mudarmos um
pouco nossa mentalidade, tão americanizadamente dependente, e abrirmos espaço
para uma visão mais global, como sugeriu o presidente da Colômbia, Gustavo
Petro, em sua carta-resposta ao presidente americano?
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