O Estado de S. Paulo
A velha-guarda petista está pessimista quanto a 2026
Lula 3 é uma permanente confusão política.
Que impossibilita ao presidente cumprir a promessa feita logo que foi eleito:
trazer previsibilidade, estabilidade e credibilidade.
Mexer via MP como o governo fez esta semana
(mais uma vez) no sistema tributário, causando severo impacto financeiro nas
empresas, liquida a previsibilidade. A estabilidade fica comprometida pela
incessante bagunça na articulação política, que amplia a já distorcida relação
entre Executivo e Legislativo.
Quanto à credibilidade, seu aspecto mais preocupante é a percepção negativa que agentes econômicos manifestam sobre política fiscal, taxa de juros, inflação e dívida. Até aqui a “fórmula” lulista – expansão dos gastos públicos gera consumo que gera crescimento da economia – teima em não se materializar em ganhos político-eleitorais.
O que existe ainda de “velha guarda” atuante
do PT manifesta preocupação com as perspectivas de 2026. O partido cresceu como
agremiação dirigida por uma elite de quadros profissionais e experimentados na
política, boa parte deles vinda de estruturas sindicais sólidas, atrelada ao carisma,
personalismo e ao que se possa chamar de sabedoria política de Lula.
São exatamente esses dois aspectos – o
profissionalismo no topo e a liderança de Lula – que estão se esvaindo. A
“velha-guarda” se ressente abertamente do fato de a mulher do presidente ter
ocupado funções anteriormente a cargo dos profissionais da política, condição
que eles não reconhecem nela. E de Lula não mais ouvi-los, ou não como fazia
antes.
A ausência de um plano além da expansão de
gastos sociais e das fórmulas fracassadas é um dos fatores que comprometem as
oportunidades que se abrem para o País. Outro está na enorme lentidão para
fazer reformas infraconstitucionais e melhorar o ambiente de negócios – o que
inclui as “lições de casa” regulatórias sem as quais vamos ver passar o bonde,
por exemplo, da transição energética.
É óbvio que num país ainda tão miserável e
desigual como o Brasil políticas assistencialistas mantêm relevante peso
eleitoral. Mas as transformações sociais das últimas duas décadas colocaram
outros temas no processo de formação do voto – segurança pública e conjuntos de
valores – e nenhum deles se resolve facilmente, mesmo abrindo os cofres
públicos.
Lula 3 perdeu tempo em fazer a economia
crescer vigorosamente e em ampliar a reduzida margem de votos que lhe deu a
vitória em 2022. Frente a um adversário inelegível tropeçando em si mesmo,
neste momento o caminho para 2026 deveria surgir bem delineado. Ao contrário, o
cenário nunca esteve tão aberto.
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