quinta-feira, 6 de junho de 2024

William Waack - Cenário aberto

O Estado de S. Paulo

A velha-guarda petista está pessimista quanto a 2026

Lula 3 é uma permanente confusão política. Que impossibilita ao presidente cumprir a promessa feita logo que foi eleito: trazer previsibilidade, estabilidade e credibilidade.

Mexer via MP como o governo fez esta semana (mais uma vez) no sistema tributário, causando severo impacto financeiro nas empresas, liquida a previsibilidade. A estabilidade fica comprometida pela incessante bagunça na articulação política, que amplia a já distorcida relação entre Executivo e Legislativo.

Quanto à credibilidade, seu aspecto mais preocupante é a percepção negativa que agentes econômicos manifestam sobre política fiscal, taxa de juros, inflação e dívida. Até aqui a “fórmula” lulista – expansão dos gastos públicos gera consumo que gera crescimento da economia – teima em não se materializar em ganhos político-eleitorais.

O que existe ainda de “velha guarda” atuante do PT manifesta preocupação com as perspectivas de 2026. O partido cresceu como agremiação dirigida por uma elite de quadros profissionais e experimentados na política, boa parte deles vinda de estruturas sindicais sólidas, atrelada ao carisma, personalismo e ao que se possa chamar de sabedoria política de Lula.

São exatamente esses dois aspectos – o profissionalismo no topo e a liderança de Lula – que estão se esvaindo. A “velha-guarda” se ressente abertamente do fato de a mulher do presidente ter ocupado funções anteriormente a cargo dos profissionais da política, condição que eles não reconhecem nela. E de Lula não mais ouvi-los, ou não como fazia antes.

A ausência de um plano além da expansão de gastos sociais e das fórmulas fracassadas é um dos fatores que comprometem as oportunidades que se abrem para o País. Outro está na enorme lentidão para fazer reformas infraconstitucionais e melhorar o ambiente de negócios – o que inclui as “lições de casa” regulatórias sem as quais vamos ver passar o bonde, por exemplo, da transição energética.

É óbvio que num país ainda tão miserável e desigual como o Brasil políticas assistencialistas mantêm relevante peso eleitoral. Mas as transformações sociais das últimas duas décadas colocaram outros temas no processo de formação do voto – segurança pública e conjuntos de valores – e nenhum deles se resolve facilmente, mesmo abrindo os cofres públicos.

Lula 3 perdeu tempo em fazer a economia crescer vigorosamente e em ampliar a reduzida margem de votos que lhe deu a vitória em 2022. Frente a um adversário inelegível tropeçando em si mesmo, neste momento o caminho para 2026 deveria surgir bem delineado. Ao contrário, o cenário nunca esteve tão aberto.

 

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