Correio Braziliense
Deflagrada em 2014 pela Justiça Federal, a
Operação Lava-Jato investigou um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro
público
O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao
Supremo Tribunal Federal (STF) a revisão da decisão monocrática do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli que anulou todos os atos da 13ª
Vara Federal de Curitiba (PR) contra o empresário Marcelo Odebrecht, no
contexto da Operação Lava-Jato. Por meio de agravo interno, o procurador-geral
da República, Paulo Gonet, solicitou a reconsideração da decisão pelo próprio
ministro ou que o caso seja levado ao plenário do Supremo.
A decisão de Toffoli foi provocada por um pedido da defesa de Marcelo Odebrecht, na qual pleiteava a extensão de duas decisões anteriores do próprio ministro, que anularam todos os atos praticados pela 13ª Vara Federal de Curitiba, com argumento de “conluio processual” entre o então juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da Força-Tarefa da Lava-Jato, que investigava o escândalo da Petrobras e outros delitos. No mês passado, o pedido foi aceito pelo ministro do STF, que anulou todas as provas.
Paulo Gonet ponderou que os casos são
diferentes e a anulação dos atos não deveria ser estendida ao acordo de
leniência de Marcelo Odebrecht, que fez um acordo de delação premiada com a
Justiça, assinado por Moro. Na época, ele era responsável pelos processos da
Operação Lava-Jato em primeira instância. Segundo argumenta o MPF, o pedido de
extensão deve ter estreita simetria com o pedido originário e com o que o
tribunal nele decidiu: “Há aqui a falta de correlação estrita entre o pedido e
a decisão tomada no decisório que poderia servir de paradigma”, avalia.
O acordo de leniência anulado por Toffoli foi
assinado em dezembro de 2016 com o Ministério Público Federal (MPF) do Paraná,
que conduzia a Operação Lava-Jato, coordenada pelo ex-procurador Deltan
Dallagnol. O MPF alega ter a prerrogativa de firmar esse tipo de acordo. A Lei
Anticorrupção, de 2013, na qual o acordo de leniência é previsto, entretanto,
diz que somente a Controladoria-geral da União (CGU) pode fazer acordos nos
casos relacionados ao Poder Executivo federal e contra a administração pública
estrangeira.
A Odebrecht foi investigada na Lava-Jato por
um esquema de propinas revelado com detalhes no acordo de leniência de Marcelo
Odebrecht. O livro A Organização (Companhia das Letras), da jornalista Malu
Gaspar, conta o caso em detalhes. Paulo Gonet lembra que Marcelo Odebrecht
confessou a prática de crimes contra a administração pública, bem como diversos
executivos da empresa, sob a supervisão final do Supremo Tribunal Federal. “Não
há, desse modo, como anular as investigações e processos, que decorreram desse
acordo, e que agora seguem curso nas instâncias ordinárias”, argumenta.
Moro e os procuradores da Força-Tarefa de
Curitiba adotaram métodos heterodoxos de investigação. O ex-juiz foi
considerado suspeito para julgar os casos e as provas estão sendo anuladas uma
a uma, por terem sido obtidas sem respeitar o chamado devido processo legal. O
caso Marcelo Odebrecht praticamente fecha a tampa do caixão da Operação
Lava-Jato, embora o procurador-geral da República ainda tenha esperança de
mitigar a decisão para salvar o acordo de leniência.
Empreiteiras
Dificilmente Toffoli fará a revisão de sua
decisão monocrática e, provavelmente, submeterá o pedido da PGR aos demais
membros da Segunda Turma do STF: os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin,
Nunes Marques e André Mendonça. Com exceção de Fachin, todos são considerados
“garantistas”, isto é, advogam o estrito respeito aos ritos do processo penal.
Deflagrada em 2014 pela Justiça Federal, a
Operação Lava-Jato investigou um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro
no país. Começou com a descoberta de um esquema de lavagem de dinheiro num
posto de gasolina de Brasília, envolvendo o ex-deputado federal José Janene
(Londrina-PR) e os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater.
Uma rede de doleiros que atuava em várias
regiões do Brasil, por meio de empresas de fachada, contas em paraísos fiscais
e contratos de importação fictícios, “lavava” o dinheiro desviado da
administração pública. Nas duas primeiras fases da operação, foram executados
119 mandados de busca e apreensão, 30 mandados de prisão e 25 mandados de
condução coercitiva. Entre os presos, estavam Paulo Roberto Costa (ex-diretor
da Petrobras) e Alberto Youssef, que realizaram um acordo de delação premiada,
ou seja, passaram a contribuir com as investigações em troca de benefícios.
Executivos da Petrobras, vários políticos PP,
PT e PMDB, as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correia,
Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Engevix e UTC e diversas
empresas de outros ramos estavam envolvidos. O esquema também incluía grandes
obras públicas de infraestrutura, como a construção da Usina Nuclear Angra 3, a
Ferrovia Norte-Sul e as obras realizadas para a Copa do Mundo, como a reforma
do Maracanã.
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