quinta-feira, 6 de junho de 2024

Roberto Macedo - O PIB no primeiro trimestre de 2024

O Estado de S. Paulo

Taxa foi boa, mas perspectivas são de que não deve se repetir nos trimestres até o fim do ano

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,8% nesse período, relativamente ao quarto trimestre de 2023. Uma boa taxa trimestral mas que não deve se repetir nos próximos trimestres, conforme argumentaremos mais à frente. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alterou a taxa trimestral do PIB do quarto trimestre de 2023, relativamente ao terceiro, de zero para -0,1%. O PIB totalizou R$ 2,7 trilhões no primeiro trimestre deste ano. Se o leitor quiser guardar um número na cabeça sobre o PIB anual, poderá dizer que ele está próximo de R$ 10 trilhões.

Pelo lado da produção, o setor dos serviços, o mais importante, avançou 1,4%, enquanto que a indústria como um todo caiu 0,1%, mas isso não aconteceu na indústria de transformação, cuja expansão foi de 0,7%. A agropecuária voltou a colaborar positivamente, com um crescimento de 11,3%. Uma taxa bem alta, creio que a segunda, sendo que no primeiro trimestre de 2023 essa taxa foi de 21,7%, um recorde que ajudou muito no crescimento anual, que foi de 2,9%.

Do lado da despesa, o consumo das famílias subiu 1,5%, o consumo do governo se manteve estável e os investimentos aumentaram 4,1%. No setor externo, as exportações avançaram 0,2% e as importações, 6,5%. Esse forte aumento do consumo das famílias foi alimentado pela evolução favorável do mercado de trabalho no período, além de outros fatores que também pesaram, como o pagamento de precatórios e a elevação real do novo salário mínimo.

Em retrospecto, os resultados vieram aproximadamente em linha com as expectativas dos analistas. No momento essas expectativas não são boas, caminhando na direção de que a taxa trimestral de 0,8% deverá cair nos demais trimestres do ano. Entre as razões está o fato de que não se deve esperar que o agronegócio apresente taxas tão altas como a de 11,3% citada, pois suas colheitas se concentram no primeiro trimestre. Outra razão é que neste segundo trimestre em andamento o PIB sofreu o impacto das inundações no Rio Grande do Sul, que trouxeram prejuízos generalizados à sua economia, que se destaca em setores como a indústria e o agronegócio.

Esse impacto ainda ocorrerá no início do terceiro trimestre, mas a partir daí espera-se que as obras de reconstrução já terão um impacto mais forte no PIB do Estado. Ele tem uma participação no PIB próxima de 6,5%. E o aumento real do salário mínimo já não terá tanto impacto como o da sua elevação no primeiro trimestre. Analistas citados pelo jornal Valor Econômico de ontem estão prevendo um crescimento menor no segundo trimestre a taxas que variam muito, alcançando de 0,4% a 0,5%, 0,1%, e até uma variação negativa. Ou seja, uma grande variação que atribuo a incertezas quanto ao tamanho do impacto da tragédia que ocorreu no Rio Grande do Sul.

Acrescente-se que os dados recém-divulgados pelo IBGE mostraram que os investimentos cresceram nesse trimestre, conforme visto acima. Mas isso aconteceu após três trimestres de queda da taxa investimento como proporção do PIB, e ela continua muito baixa, tendo sido de apenas 16,9% nesse trimestre, uma das mais baixas desde 2000, segundo o mesmo relatório do IBGE. Essa taxa precisaria ficar acima de 20% e idealmente adiante de 25% por um longo período, para que o crescimento econômico fosse bem mais forte e sustentável.

Estamos muito longe dessas duas taxas, principalmente da segunda. Nesse contexto, pesa muito a forte queda da taxa de investimento do setor público como proporção do PIB, conforme dados de investimento público para todos os entes da Federação (União, Estados, municípios) e empresas públicas da União. Conforme dados processados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, essa taxa chegou perto de 10% em 1977, mas nos anos recentes oscilou em torno de apenas 2,5% do PIB.

Ainda quanto ao passado recente e o futuro próximo, agravaram-se as incertezas quanto a esse último em face da percepção de que o governo federal e seu partido não têm mesmo um compromisso efetivo com um ajuste fiscal que atacasse também o lado das despesas. O déficit fiscal nominal em abril último foi recorde e ultrapassou R$ 1 trilhão. É verdade que a ministra Simone Tebet vem tentando algo nessa linha, como a desvinculação do salário mínimo dos reajustes dos benefícios previdenciários, e das despesas em saúde e educação que automaticamente crescem com o aumento das receitas. Mas a pregação da ministra cai em ouvidos surdos, como os do presidente e de seu partido, este até criticando Tebet.

Nesse contexto, surgiu um debate interessante com o anúncio de plano do governador Tarcísio de Freitas, de ajuste das contas públicas estaduais, entre outros aspectos, intitulado São Paulo na Direção Certa. Do que se pode intuir que se percebe outro na direção errada e que seria o do presidente Lula da Silva. Isso também gerou especulações quanto a um eventual embate entre os dois para a Presidência já em 2026. Abordarei o plano do governador paulista num futuro artigo.

 

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