Valor Econômico
Pesquisas de opinião apontam que partidos de direita mais dura poderiam conseguir até um quarto dos 720 assentos do Parlamento Europeu
A eleição para o Parlamento Europeu nos 27
países do bloco comunitário ocorre desta quinta-feira (6) até domingo (9).
Pesquisas de opinião apontam que partidos de direita mais dura poderiam
conseguir até um quarto dos 720 assentos do Parlamento, portanto mais numerosos
e mais potentes.
Isso significaria pressões maiores por endurecimento de regulações de imigração, por preferência comercial nacional reforçada e também hostilidade a reformas na área ambiental, por exemplo.
A prudência recomenda esperar o resultado das
urnas. Mas, pelo tom das campanhas na Europa, parece claro que, com mais ou
menos direita, o agronegócio brasileiro não terá a vida facilitada nesse que é
um de seus principais mercados compradores. O risco é de aumento do
protecionismo, e não de menos barreiras, na Europa.
De um lado, o Acordo Verde (Green Deal) pode
até mudar um pouco, também pela pressão esperada da direita em geral, mas vai
ser difícil a Europa desmontar toda sua agenda ambiental, que é amplamente
defendida por partidos de centro-esquerda, da sociedade civil, da mídia. Além
disso, a direita não atuou junta até agora no Parlamento Europeu.
De outro, o “protecionismo verde”, para
proteger os agricultores europeus, tem espaço aberto e é reivindicado com
ênfase, na esteira das contestações de rua de produtores. Também prosperam
argumentos de que a Europa precisa ser “menos ingênua” em meio a guerras de
subsídios e conflitos comerciais que minam cada vez mais as regras comerciais
globais.
Em vários países é difícil dizer qual
partido, de esquerda ou direita, é o campeão na demanda de aplicação de
“cláusulas espelho” pela UE. As “cláusulas espelho” visam impor a obrigação
para produtos importados de fora da UE, para ter acesso ao mercado comunitário,
cumprirem com as mesmas exigências feitas aos produtores europeus em termos de
processo produtivo, independentemente das suas diferentes realidades produtivas
e capacidades. Esse mecanismo é mencionado por alguns produtores europeus para
frear concorrência de importações vindas do Mercosul.
Uma questão é se o novo Parlamento Europeu
vai agir rapidamente na área ambiental. Por exemplo, numa revisão da lei
antidesmatamento, que visa interditar acesso ao mercado comunitário de sete
commodities - soja, carne bovina, café, madeira, óleo de palma, borracha e
cacau, além de alguns de seus produtos derivados como couro, chocolate, pneus
ou móveis - produzidas em zonas desmatadas após o final de 2020.
Essa legislação é uma das preocupações
brasileiras, porque afeta 34% das exportações brasileiras para os 27 países do
bloco europeu, representando embarques de US$ 17,5 bilhões em 2022, pelos dados
do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic).
Oficialmente, essa lei deve começar a ser implementada em 30 de dezembro deste ano. Mas as pressões continuam de todos os lados para a UE flexibilizá-la, até porque o bloco não está pronto tecnicamente. A própria UE reconheceria que seu sistema de satélite Copérnico, apresentado como o programa de observação da Terra mais ambicioso da história e desenhado para proporcionar informação precisa, ainda assim apontaria em certos casos desmatamento onde isso não existe.
Nos meios europeus, uma especulação é de que
a Comissão Europeia levaria uma flexibilização na lei antidesmatamento ao novo
Parlamento Europeu em regime de urgência já em julho. Como já publicamos nesta
coluna, isso incluiria retardar o controle mais estrito das importações dessas
commodities, mudando o plano sobre classificação de países ou regiões em função
do risco de desmatamento. Mas o plano de alguns europeus e outros parceiros
desenvolvidos é de eles, sobretudo, se beneficiarem.
No momento da montagem do novo Parlamento,
com formação de comissões e outras escolhas, será difícil esperar os
parlamentares com espaço para lidar rapidamente com revisão de uma lei
antidesmatamento que nem sequer foi implementada ainda. O foco inicialmente
pode ser em tema como imigração, preponderante no interesse de votar de bom
número de europeus.
Indagado sobre o impacto de nova configuração
no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia sobre a relação bilateral, o
embaixador brasileiro junto à Comissão Europeia, Pedro Miguel da Costa e Silva,
respondeu: “Há muita especulação sobre a composição e a agenda do novo
Parlamento Europeu. É preciso ver os resultados das eleições, ver como as
grandes famílias políticas se organizam e ver o que realmente vai mudar nas
relações com países como o Brasil. Num primeiro momento, o foco será interno e
de organização da casa. Só depois é que os parlamentares terão tempo de pensar
no resto do mundo. Vamos trabalhar com os novos parlamentares pelo aumento do
diálogo bilateral, pelo aprofundamento da parceria estratégica, pelo acordo de
associação e por uma melhor compreensão da realidade brasileira”.
Sobre os desafios que a negociação final do acordo Mercosul-UE terá, numa nova paisagem política em Bruxelas, o embaixador respondeu: “O principal desafio é fazer com que as pessoas entendam o acordo e o que ele realmente significa para as relações entre os dois blocos. Muitos dos que criticam as negociações não têm a menor ideia do seu conteúdo. Opinam a partir de chavões e de preconceitos”.
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