O Estado de S. Paulo
O governo Lula continua apostando em
crescimento do PIB deste ano de alguma coisa em torno de 2,5%. Mas há tensões
novas conspirando contra esse resultado. É preciso ver quais são para
atacá-las.
O dado mais significativo das Contas
Nacionais reveladas nesta terça-feira foi o forte avanço do consumo das
famílias, de 1,5% em relação ao trimestre anterior, que guarda correspondência,
na ótica da demanda, com o crescimento de 1,4% do setor de serviços.
Um punhado de fatores empurrou esse crescimento: a melhora do mercado de trabalho, que propiciou aumento da renda; o reajuste real do salário mínimo e das aposentadorias; o despejo de R$ 90 bilhões no pagamento de dívidas precatórias; e o aumento das despesas gerais do setor público (gastança e rombo fiscal).
A contrapartida desse efeito é o aumento da
inflação dos serviços, principal preocupação do Banco Central na definição da
política monetária. Se vier ou uma parada na redução dos juros ou, até mesmo,
um certo aumento, será inevitável o impacto sobre este setor que mostrou forte
dinamismo no primeiro trimestre.
O segundo fator que pode tirar sustentação ou, em certo sentido, até dar sustentação nesse dinamismo do PIB é a tragédia que despencou sobre o Rio Grande do Sul. Ainda está longe de serem avaliadas as perdas de patrimônio e de produção de um dos Estados mais dinâmicos do País: na indústria, na agropecuária e nos serviços, especialmente no comércio. Noção melhor do impacto desses prejuízos sobre a renda será sentida no segundo trimestre e se estenderá aos seguintes. Mas não dá para deixar de contrapor a esses dados os efeitos positivos da enorme transferência direta de recursos do governo federal que deverão alcançar entre R$ 65 bilhões e R$ 80 bilhões, sem contar com adiamento no pagamento das dívidas públicas.
Aumentarão substancialmente no Estado as
despesas com materiais de construção para infraestrutura e reconstrução de
habitações, com a compra de aparelhos domésticos e veículos destinados à
reposição das perdas.
Em alguma medida, também contribuirão para
aumento das vendas do varejo, indenizações pagas pelas seguradoras, desde que
não aleguem cláusula de calamidade para fugir dessas obrigações. Mas esse
efeito será mais bem contabilizado a partir do terceiro trimestre.
Embora mostre bom crescimento no trimestre, o volume de poupança e o de investimento em relação ao PIB continua muito baixo, de 16,3% e de 16,9%, respectivamente. Continua muito aquém dos 22% do PIB que poderiam garantir crescimento futuro sustentável do PIB.
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