DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Os conservadores dos EUA gostariam de acreditar que, com o afastamento de Manuel Zelaya, tiveram vitória contra o chavismo
Os conservadores dos EUA gostariam de acreditar que, com o afastamento de Manuel Zelaya, tiveram vitória contra o chavismo
Um ano após o golpe em Honduras em que o então presidente Manuel Zelaya foi afastado pelo Exército sob a mira de armas, Honduras, como problema regional, permanece sem estar resolvido, para a insatisfação de todos.
Os acontecimentos que se seguiram ao golpe de 28 de junho de 2009 feriram, talvez de modo permanente, as normas e mecanismos internacionais de defesa da democracia; os abusos dos direitos humanos passaram por escalada no país, que, enquanto isso, segue excluído por muitos da comunidade regional (incluindo o Brasil).
O governo "de facto" que assumiu o lugar de Zelaya, liderado pelo presidente Roberto Micheletti, negou-se a renunciar, apesar de série de esforços para negociar acordo de conciliação que teria restaurado Zelaya ao poder de alguma forma restrita até a realização das eleições, já programadas anteriormente para 29 de novembro de 2009.
Micheletti encontrou apoio forte entre conservadores dos EUA, que argumentaram que a remoção tinha sido constitucional.
Pelo fato de as eleições terem sido promovidas sob a égide do governo "de facto", Argentina, Bolívia, Brasil, México, Nicarágua e Venezuela se recusam até agora a reconhecer o governo do presidente Porfírio Lobo.
Cada um dos lados acabou prejudicado, pelas seguintes razões. Para começar, pela primeira vez desde que adotou suas cláusulas de defesa democrática, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou de desfazer um golpe de Estado.
Isso deveu-se em parte a suspeitas de que a OEA houvesse agido tendenciosamente ao deixar de se manifestar antes de 28 de junho, quando Zelaya parecia estar se encaminhando para um referendo anticonstitucional.
Mas também, nos meses seguintes, a OEA pareceu incapaz de tentar forçar mudança de rumo.Essa imagem transmitiu a qualquer golpista em potencial a mensagem de que a OEA e suas ferramentas de defesa democrática não passam de um tigre de papel.
Em segundo lugar, os conservadores americanos gostariam de acreditar que, com o afastamento de Zelaya, tiveram uma vitória contra o chavismo. Na verdade, eles podem ter vencido a batalha, mas perderam a guerra.
A maior ameaça ao chavismo é um organismo regional efetivo que seja capaz de fazer aplicar as normas internacionais. Os abusos de direitos humanos e a polarização política que estão ocorrendo em Honduras hoje vêm apenas deixar claro que essas divisões continuam a existir, fortes. É nesse ambiente de repressão e frustração que o populismo cresce e se fortalece.
Em terceiro lugar, ao deixarem de reconhecer o governo do presidente Lobo, Argentina, Brasil e México estão apenas prejudicando os cidadãos hondurenhos. Não há dúvida de que a forma pela qual Lobo chegou ao poder é imperfeita. Mas é hora de seguir adiante.
A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial.
Em suma, o sofrimento de Honduras começou algumas semanas antes do 28 de junho, fruto de uma disputa entre elites que ganhou força e virou uma batalha ideológica campal, não apenas em Honduras mas também na região e nos EUA.
Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos. Aproveitemos isso tudo como lição e comecemos o processo de superação -regionalmente e em Honduras.
Tradução de Clara Allain
Christopher Sabatini é editor-chefe da "Americas Quarterly" ( www.americasquarterly.org ) e diretor sênior de política do centro de estudos Americas Society/ Council of the Americas ( www.as-coa.org ).
Os acontecimentos que se seguiram ao golpe de 28 de junho de 2009 feriram, talvez de modo permanente, as normas e mecanismos internacionais de defesa da democracia; os abusos dos direitos humanos passaram por escalada no país, que, enquanto isso, segue excluído por muitos da comunidade regional (incluindo o Brasil).
O governo "de facto" que assumiu o lugar de Zelaya, liderado pelo presidente Roberto Micheletti, negou-se a renunciar, apesar de série de esforços para negociar acordo de conciliação que teria restaurado Zelaya ao poder de alguma forma restrita até a realização das eleições, já programadas anteriormente para 29 de novembro de 2009.
Micheletti encontrou apoio forte entre conservadores dos EUA, que argumentaram que a remoção tinha sido constitucional.
Pelo fato de as eleições terem sido promovidas sob a égide do governo "de facto", Argentina, Bolívia, Brasil, México, Nicarágua e Venezuela se recusam até agora a reconhecer o governo do presidente Porfírio Lobo.
Cada um dos lados acabou prejudicado, pelas seguintes razões. Para começar, pela primeira vez desde que adotou suas cláusulas de defesa democrática, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou de desfazer um golpe de Estado.
Isso deveu-se em parte a suspeitas de que a OEA houvesse agido tendenciosamente ao deixar de se manifestar antes de 28 de junho, quando Zelaya parecia estar se encaminhando para um referendo anticonstitucional.
Mas também, nos meses seguintes, a OEA pareceu incapaz de tentar forçar mudança de rumo.Essa imagem transmitiu a qualquer golpista em potencial a mensagem de que a OEA e suas ferramentas de defesa democrática não passam de um tigre de papel.
Em segundo lugar, os conservadores americanos gostariam de acreditar que, com o afastamento de Zelaya, tiveram uma vitória contra o chavismo. Na verdade, eles podem ter vencido a batalha, mas perderam a guerra.
A maior ameaça ao chavismo é um organismo regional efetivo que seja capaz de fazer aplicar as normas internacionais. Os abusos de direitos humanos e a polarização política que estão ocorrendo em Honduras hoje vêm apenas deixar claro que essas divisões continuam a existir, fortes. É nesse ambiente de repressão e frustração que o populismo cresce e se fortalece.
Em terceiro lugar, ao deixarem de reconhecer o governo do presidente Lobo, Argentina, Brasil e México estão apenas prejudicando os cidadãos hondurenhos. Não há dúvida de que a forma pela qual Lobo chegou ao poder é imperfeita. Mas é hora de seguir adiante.
A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial.
Em suma, o sofrimento de Honduras começou algumas semanas antes do 28 de junho, fruto de uma disputa entre elites que ganhou força e virou uma batalha ideológica campal, não apenas em Honduras mas também na região e nos EUA.
Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos. Aproveitemos isso tudo como lição e comecemos o processo de superação -regionalmente e em Honduras.
Tradução de Clara Allain
Christopher Sabatini é editor-chefe da "Americas Quarterly" ( www.americasquarterly.org ) e diretor sênior de política do centro de estudos Americas Society/ Council of the Americas ( www.as-coa.org ).
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