quinta-feira, 31 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil precisa reagir com sobriedade diante de tarifaço

O Globo

Motivada por Bolsonaro e big techs, ação de Trump é injustificável, mas busca de solução exige serenidade

A confirmação nesta quarta-feira das ameaças feitas por Donald Trump contra a economia e o Judiciário do Brasil causa profunda perplexidade. Como parece hoje ser a marca do governo americano, houve dois movimentos em sentidos opostos: reduziu o alvo da tarifa adicional de 40%, isentando dela centenas de produtos, e radicalizou a perseguição ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, enquadrando-o na Lei Magnitsky, que o expõe a sanções financeiras. Nas justificativas, dois comunicados, um da Casa Branca e outro do secretário de Estado, Marco Rubio, fazem menção ao julgamento de Jair Bolsonaro e aos interesses das big techs.

Por certo, 30 de julho de 2025 terá destaque funesto na história das relações entre as duas nações amigas. Empreendedores e trabalhadores de empresas com vendas de produtos nos Estados Unidos serão as grandes vítimas. O tamanho do aumento das tarifas, mesmo com as isenções, é um dos maiores aplicados a uma democracia amiga até o momento e pode inviabilizar exportações em uma série de setores. Com isso, é provável que provoque queda de receita e demissões. Fatias do mercado americano arduamente conquistadas durante anos desaparecerão de uma hora para outra. É verdade que a extensão das consequências foi limitada pela lista de 694 exceções, que inclui petróleo, aviões e suco de laranja, e isso foi um alívio. Esses produtos respondem por cerca de 43% das exportações brasileiras aos Estados Unidos. Mas a lista manteve a tarifa adicional para vários segmentos em que o Brasil é competitivo, como o de carnes, café e frutas. Perto do que se temia no início do mês, o estrago até que foi menor. Ainda assim, provocará muito prejuízo. Por isso é essencial nos próximos dias e semanas tentar aumentar o número de produtos isentos da sobretaxa.

Intervenção americana nas eleições de 2026 já aconteceu - César Felício

Valor Econômico

Disputa terá ameaça de ruptura, como ocorreu em 2022, tendo o mesmo fator desestabilizante: o ex-presidente Jair Bolsonaro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá intervir no processo eleitoral brasileiro de 2026? Esta é uma questão superada a partir da formalização das sanções contra o país e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes, anunciadas na quarta-feira. Ele já interveio.

As eleições de 2026 serão disputadas sob a ameaça de ruptura, da mesma forma como foram as de 2022, tendo o mesmo fator desestabilizante: o ex-presidente Jair Bolsonaro. O bolsonarismo trabalhou contra as instituições há quatro anos e segue buscando uma solução extrema agora. Se entre 2021 e 2022 procurou criar um ambiente propício para uma sublevação, agora foi mais longe. Concretizou uma agressão externa para reposicionar-se no cenário político. Conforme o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse em sua mensagem em inglês, “this is far from the final step”, ou seja, estamos longe do passo final da caminhada.

Trump amarela mas é cedo para cantar vitória - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Mitigação do tarifaço mostra recuo parcial de Trump e Magnistky sobre Moraes respalda defesa da soberania, mas Lula é aconselhado a não tripudiar

Donald Trump amarelou de novo mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não passou recibo. Contestou as tarifas remanescentes como se não tivesse havido recuo. E manteve o tom usado no “The New York Times”. Preocupação, sim, medo, não.

Com as exceções, o impacto sobre a economia ficou mais manejável. A aplicação concomitante da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes deu credibilidade ao discurso de que a perseguição de Trump contra o Brasil é política. A ofensiva americana, até aqui, só reforçou a defesa da soberania.

É claro que ainda há pontos em aberto mas se calcula que mais de 40% das exportações brasileiras podem ser beneficiadas pelas exceções já anunciadas, além daquelas que ainda estão por vir como anunciou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Os problemas remanescentes podem vir a ser enfrentados com a busca de novos mercados e com o plano de contingência, que dificilmente daria conta de repor a perda que a Embraer, joia da indústria nacional, teria se mantida no tarifaço.

Prosseguimento do golpe - Merval Pereira

O Globo

Na visão distorcida de Trump, a ação dos Bolsonaros na tentativa de golpe é uma legítima defesa da democracia, como a dele, que incentivou o ataque ao Capitólio

Se separarmos a negociação comercial da chantagem política, o Brasil conseguiu sair-se bem da primeira, com uma tarifa média bem menor do que estava previsto devido às isenções conseguidas, e ficou num impasse na seara política, pois o que o governo americano quer não é negociável. O destino do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em tese, não entra em negociações políticas. A vingança dos bolsonaristas contra o ministro Alexandre de Moraes causará problemas pessoais para ele e sua família, mas não terá o condão de influir no veredito.

Nem mesmo a chantagem implícita no aviso do secretário de Estado Marco Rubio de que os juízes brasileiros não podem se resguardar nas suas togas mudará a tendência à condenação, pois as provas são evidentes, e o crime gravíssimo. A crise nas relações de Brasil e Estados Unidos, no entanto, só faz escalar, numa proporção que não se imagina aonde chegará. O ataque ao juiz do Supremo é um ataque a um dos Poderes da República, não pode ser entendido como uma sanção pessoal.

Ataque ao Brasil terá resposta judicial - Míriam Leitão

O Globo

Executivo e Judiciário avaliam ações na Justiça dos Estados Unidos e no Brasil e em tribunais internacionais após decreto americano

O Brasil pode entrar na Justiça dos Estados Unidos com base na Constituição deles, ou com base na própria Lei Magnitski, porque ela está sendo aplicada sem os motivos que a justificaram. Pode haver ação na Justiça brasileira sustentando que a lei americana não tem poderes no Brasil. E pode haver uma ação em tribunais internacionais. Tudo isso estava em análise ontem no Executivo e no Judiciário. Mas a reação depende da posição do governo e do próprio ministro Alexandre de Moraes.

O ministro Alexandre não se sentiu atingido porque não tem contas nem bens ou investimentos nos Estados Unidos. Seu visto está vencido há dois anos e ele nem se preocupou em atualizar. Horas depois do ataque ao ministro, o próprio Brasil foi atingido com a tarifa de 50%. A longa lista de exceções contempla os interesses americanos, mas trouxe alívio para vários setores. A Embraer viu suas ações decolarem. Os aviões brasileiros têm quase 50% das peças e componentes vindos do mercado americano, seria um tiro no pé taxar o avião brasileiro. O café, que ficou fora dessa lista de exceções, está numa situação confortável. Há mais demanda do que oferta de café no mercado global.

Trump escala confronto com Moraes e mitiga tarifaço - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Lula, que teve sangue frio para suportar as ameaças da Casa Branca

A crise entre Brasil e Estados Unidos atingiu novo patamar político institucional com a decisão do presidente Donald Trump de assinar uma Ordem Executiva que impõe sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, por causa do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, e declara emergência nacional para justificar a imposição de tarifas adicionais ao Brasil, elevando esse total para 50%. A medida, porém, exclui dessa taxação produtos considerados indispensáveis para sua própria economia, como laranja, aço, minerais e combustíveis. Com isso, o impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve sangue frio para suportar as ameaças dos Estados Unidos e não caiu com o barulho da bala.

Mordida feroz é seguida por alívio onde convém para Trump - Álvaro Fagundes

Valor Econômico

Cerca de 40% das vendas brasileiras aos EUA em 2024 não pagariam tarifa adicional de 40%

lista de isenção da tarifa adicional de 40% é liderada exatamente pelo produto que o Brasil mais vende para os EUA: o petróleo. No ano passado, os barris brasileiros exportados aos americanos somaram US$ 6,5 bilhões, segundo cálculos do próprio governo dos EUA. Pelas contas do governo brasileiro, os Estados Unidos responderam por 13% das exportações da commodity, atrás dos 44% da China.Os Estados Unidos apresentaram nesta quarta-feira uma lista de 694 itens que só estão sujeitos à tarifa de 10% anunciada em abril. Desse grupo, pouco mais de 400 foram mercadorias compradas do Brasil no ano passado. No cenário de 2024, US$ 18,4 bilhões se encaixariam na isenção dos 40% - o que equivale a 42,5% dos embarques brasileiros aos Estados Unidos no ano passado. No total, as exportações do país para a maior economia global era formada por pouco mais de 6 mil produtos em 2024.

Índia bloqueia parceria econômica no Brics - Assis Moreira

Valor Econômico

País queria ser recompensado com bom acordo com os EUA, mas Trump ameaça com tarifa de 25%

O Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros seis) não consegue renovar sua Estratégia para a Parceria Econômica para o período 2025-2030, prevista para ocorrer durante a atual presidência brasileira do grupo e que coincide com intimidações sem precedentes de Donald Trump na cena internacional.

Essa parceria foi lançada em 2020 na cúpula em Moscou para delinear cooperação no comércio, investimentos e financiamento, economia digital e desenvolvimento sustentável no grupo dos grandes emergentes. O documento original, negociado já em meio a turbulências de Trump 1.0, mencionava determinação por exemplo de “resistir à incerteza global emergente causada por uma série de fatores, incluindo o aumento de medidas unilaterais e protecionistas que vão contra o espírito e as regras da OMC”.

Não se negocia com a cabeça na boca do tigre - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Os dois extremos – virar a mesa ou abaixar a cabeça – implicariam resultados ruins para o Brasil

Após a publicação da decisão do presidente Donald Trump sobre a majoração das tarifas contra o Brasil para 50%, torna-se ainda mais importante encontrar saídas para a relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos, a exemplo do que ocorreu no caso da União Europeia. As tratativas precisam avançar no campo técnico e diplomático, mas a política deve exercer o seu papel e preservar a soberania nacional. Não há espaço para traições à Pátria.

As exportações brasileiras e o setor produtivo nacional não podem ser prejudicados e, com eles, os empregos e a renda dos brasileiros. O peso dos Estados Unidos na pauta exportadora brasileira é de 12%. Os itens vendidos para lá são muito relevantes. Trata-se de US$ 40,4 bilhões (ou 2% do PIB), sendo US$ 31,6 bilhões referentes à indústria de transformação, ou seja, 78,2% do total vendido aos Estados Unidos, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior para 2024.

O abismo é logo ali - William Waack

O Estado de S. Paulo

A marcha da insensatez não é um acontecimento inevitável. Mas, quando ocorre, como é o caso agora entre Brasil e Estados Unidos, é incontornável e produz consequências de longo prazo. Destruidoras para os participantes. O que levou os dois “gigantes” do hemisfério das Américas à rota de colisão foi a profunda degradação dos respectivos sistemas políticos. Nos dois países estão no timão dirigentes políticos de horizontes extraordinariamente estreitos, e dispostos a tomar decisões estratégicas idem.

Trump simboliza o triunfo da imbecilidade em geopolítica típica de um eleitorado ressentido abandonado por elites às quais escapa a noção do que é a América “real”. Aplaude-se um projeto político que promete tornar os Estados Unidos um perdedor na monumental disputa por hegemonia com a China.

Para Trump, o Brasil é ameaça - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Pode parecer paradoxal, mas não é. O tarifaço do presidente Trump chegou como um golpe de tacape, mas o mercado até comemorou: previa-se o pior, que acabou não se concretizando porque o decreto isentou boa parte dos produtos mais importantes que antes estavam sob ameaça.

Escaparam da pancada aviões da Embraer, celulose, suco de laranja, minérios e certos produtos da Weg. Da pauta de exportações do Brasil, itens que não escaparam foram calçados, carnes, café e algumas frutas, como as mangas.

Isso explica por que, desse ponto de vista, o tarifaço produziu certo alívio por aqui. Sobre o PIB brasileiro, provavelmente não produzirá um impacto superior a 1%, e não mais os cerca de 4% previstos se todos os produtos fossem igualmente atingidos pela mega tarifa de 50%. É o que explica a alta de quase 1% na Bolsa, a esticada de 11% nas ações da Embraer, de 0,64% nas ações da Suzano e 0,74% nos papéis da Weg.

Nossa democracia na mira de Trump - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A afronta à independência nacional visa, mais que tudo, agredir o sistema democrático no Brasil

soberania está em alta, constatou o correspondente do New York Times no Brasil. Afirmá-la com estridência foi a resposta dos governantes de países contra os quais Trump ameaçou aumentar tarifas ou usar a força para exigir decisões de âmbito doméstico, como fez com o Canadá, o México, o Panamá, a Colômbia e o Brasil.

Aqui, governo e organizações da sociedade civil abraçaram a defesa da soberania —no discurso presidencial; na comunicação política oficial; em manifestações como a que enlaçou entidades representativas de numerosos setores; e o entusiasmado público que lotou a Faculdade de Direito da USP, na manhã de 25/7.

Comércio com os Estados Unidos segue em estado de emergência - Welber Barral

Folha de S. Paulo

Como em outros embates comerciais, a cicatriz durará muito além do fim da medida

Em ordem executiva vigente em sete dias, Trump impõe uma tarifa adicional de 40% (que se somam a outros 10%) sobre produtos brasileiros.

A medida, editada com base no International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) e na National Emergencies Act (NEA), é apresentada como resposta a uma "emergência econômica", porque o Brasil supostamente interfere na economia dos Estados Unidos, infringe a liberdade de expressão e persegue seu ex-presidente.

O texto legal invoca ainda a seção 604 do Trade Act de 1974, que apenas operacionaliza alterações tarifárias no código aduaneiro. Em termos práticos, trata-se de um ato agressivo unilateral travestido de emergência nacional.

Trump bate, mantém ameaça política grave e assopra, mas Lula faz pontos - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Quase metade do valor das vendas para os EUA ficou isenta de tarifa extra

O governo do Brasil não tinha armas para enfrentar o ataque de Donald TrumpO conflito está aberto e vai longe. O governo americano vai tentar satisfazer interesses de empresas, como big techs, tem lista grande e antiga de queixas comerciais e regulatórias contra o Brasil e, enfim, quer vassalagem de outros países, para nem mencionar o apoio aos Bolsonaro e seus golpes.

No entanto, como a primeira surtida americana ficou relativamente barata e como Lula não baixou a crista, o governo pode cantar vitória parcial e provisória.

Metade do valor das exportações do Brasil para os EUA parece ter ficado isenta de imposto extra, cálculo inicial —em vez de tarifa de 50% a média seria próxima de 30%. A lista de isenções parece atender a interesses específicos de empresas americanas, como tem ocorrido em concessões de Trump na guerra com outros países.

Lista de exceções no tarifaço traz alívio - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Não ocorreu cataclismo, mas não dá para achar que o pior já acabou

lista de exceções à sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump aos produtos importados do Brasil mostrou o peso e a capacidade de mobilização das empresas do setor privado do país. Ela pode ser tão efetiva quanto uma negociação de governo e tende a ser um padrão mais frequente, daqui para a frente, num cenário em que os canais de diálogo estão contaminados pelo ativismo da família Bolsonaro na Casa Branca.

A decisão dos EUA de poupar da tarifa adicional produtos da Embraer retira um problema gigantesco para o governo administrar no curto prazo. O impacto de um eventual socorro à empresa traria custo elevado para as contas públicas e não resolveria o problema da empresa.

Lei Magnitsky vs. Moraes - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Pela lei brasileira, não se reconhece atos estrangeiros que violem a soberania nacional

Ao aplicar sanções financeiras à pessoa física de Moraes, Trump deturpa a Lei Magnitsky igualando o juiz a torturadores, corruptos e golpistas. A versão atual da lei estabelece um sistema de sanções por "violações graves de direitos humanos" e "corrupção significativa" ocorridas em qualquer lugar do mundo, uma expansão da lei anterior com foco na Rússia. O que era para ser um instrumento de pressão contra sanguinários serve hoje sob Trump como meio para intervir no Judiciário alheio.

Magnitsky no outro é refresco - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

STF deve reagir à sanção contra seu ministro

"Mineiro só é solidário no câncer." A máxima brejeira era atribuída a Nelson Rodrigues, que dizia ser de Otto Lara Resende, que desmentia.

O silêncio de Luiz Fux, Kassio Nunes Marques e André Mendonça diante da revogação dos vistos americanos dos outros oito ministros do STF parece mostrar que ministro do STF é solidário nem no câncer, é colegial nem no colapso institucional. Pelo menos o carioca, o piauiense e o paulista. A medida abusiva do governo americano veio com requinte pré-moderno: a punição pelo suposto pecado foi aplicada não só à pessoa do pecador, mas também a familiares.