segunda-feira, 28 de julho de 2025

Opinião do dia – Montesquieu* (liberalismo forte)

“O amor pela república, numa democracia, é o amor pela democracia; o amor pela democracia é o amor pela igualdade.

O amor pela democracia é também o amor pela frugalidade.

Nesse regime, devendo todos gozar da mesma felicidade e das mesmas regalias, devem fruir dos mesmos prazeres e acalentar as mesmas esperanças, coisa que só se pode esperar da frugalidade geral.

O amor pela igualdade, numa democracia, limita a ambição unicamente ao desejo, à felicidade prestar à sua pátria serviços maiores que os outros cidadãos. Todos não podem prestar-lhe serviços iguais; mas todos devem igualmente prestar-lhos. Ao nascer contraímos para com ela uma imensa divida da qual nunca podemos desobrigar-nos.

Assim, nas democracias, as distinções nascem do princípio da igualdade, mesmo quando essa parece destruída por serviços excepcionais ou por talentos superiores.”

*Montesquieu (1689-1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais; ‘Do Espírito das Leis’ p. 84. Editora Nova Cultura, 2005 (tradução de Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues

 

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil pode tirar proveito de crise com Trump

O Globo

Abertura comercial tem o potencial de colocar a economia brasileira numa trajetória de crescimento rápido

Autoridades brasileiras na busca por soluções para a crise com os Estados Unidos devem lembrar que podem existir vantagens para o país se Donald Trump der início a negociações com ênfase em questões comerciais. Confirmado esse cenário, o fato de os americanos serem superavitários nas trocas com o Brasil não deve ser usado para encerrar a questão. O governo Lula precisa aproveitar a oportunidade para promover a abertura da economia brasileira, uma das mais fechadas do mundo. O ganho imediato será encerrar a celeuma com Trump. Mas é essencial lembrar que ceder, neste caso, não significa perder. Pelo contrário. Ao facilitar a entrada de produtos importados, o Brasil poderá destravar o potencial de crescimento.

Os brasileiros conhecem como poucos as consequências nefastas do protecionismo. Há décadas, a economia cresce num ritmo medíocre. Na corrida global, o país não para de ser ultrapassado. Como revelou o jornal Valor Econômico, o Brasil ocupava em 1980 o 48º lugar no ranking do Produto Interno Bruto (PIB) per capita calculado levando em conta o poder de compra. No ano passado, ficou na 85ª posição. Pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), chegará à 89ª até 2030. A cada ano que passa, está mais próximo da metade mais pobre do planeta.

Brasil pós-tarifaço fica diferente – Fernando Gabeira

O Globo

Donald Trump fortaleceu Lula, afundou o bolsonarismo, parece que não tem noção do efeito de seus atos

Não exporto nada para os Estados Unidos, exceto algumas perguntas. Uma delas é esta: por que o país não tem um embaixador no Brasil? Somos o maior país da América do Sul, a décima economia do mundo, compramos mais do que vendemos para eles. A resposta razoável não pode apontar para diferenças ideológicas. Nesse caso, os Estados Unidos não teriam embaixada na China.

O interessante é que estão construindo uma nova embaixada em Brasília num terreno de 50 mil metros quadrados ao custo de R$ 3,5 bilhões. O prédio será inaugurado em 2030. Será que vão esperar que Lula deixe o poder? Estão cavando o solo para construir instalações subterrâneas. Será que cavarão infinitamente e buscarão o embaixador no Japão?

Trump vive um momento especial, e isso pode jogar a nosso favor. O escândalo Jeffrey Epstein chegou a ele. O milionário que se suicidou na cadeia e gostava de menininhas deixou um rastro que envolve várias personalidades. O príncipe Andrew já pagou a sua cota.

Bolsonarismo alimenta separatismo – Miguel de Almeida

O Globo

O fracionamento do país é uma velha arma na política brasileira, sacada desde os primórdios, ali pelo Império

Depois da tentativa de golpe, o bolsonarismo namora a divisão do país. Vídeos nas redes exaltam estados fanatizados pelo ex-capitão, com autoelogios e provocações, espécie de preparação para uma guerra vizinha. Sedição em marcha. “Brasil acima de tudo”, como pensamento político, é um patriotismo vago e tosco, daqueles que não conseguem viver no mesmo espaço de seus adversários. Daí o ódio contra os nordestinos, de uma região não cooptada e descrita sob preconceito. Ordem do dia: “Rachar para reinar”.

Transporte no Brasil está no buraco - Irapuã Santana

O Globo

Quem depende do ônibus, do metrô ou do trem não enxerga eficiência: vê o tempo escorrer na fila

Trump, Bolsonaro, Lula, STF… tudo isso está tomando a nossa atenção ultimamente, mas os problemas de sempre seguem sem solução alguma. Pela primeira vez na História, a cobertura de saneamento básico da Índia ultrapassou a do Brasil. Nas últimas semanas, cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo escancararam, mais uma vez, o colapso do transporte público brasileiro.

O trabalhador segue refém de um sistema repleto de atrasos, superlotação, greves, janelas quebradas, redução de frotas e caos tarifário.

Precisamos de um Observatório Nacional dos Supersalários - Bruno Carazza

Valor Econômico

Precisamos de um completo raio-X das folhas de pagamento em todos os níveis e Poderes da República

Neste país dos privilégios, cansa repisar o mesmo tópico semana a semana, mas, diante da relutância dos políticos de incluírem a temática dos supersalários nas discussões da reforma administrativa, peço licença ao leitor para voltar com o meu samba de uma nota só.

Os dados mais atualizados do Conselho Nacional de Justiça revelam que 18.269 juízes e desembargadores brasileiros receberam em média R$ 77.874,56 por mês em 2025, já descontados os impostos e as contribuições previdenciárias. Para os aposentados, o valor é um pouco mais baixo - R$ 63.613,56 líquidos por mês.

Como o acordo Trump-UE pode impactar Mercosul-EU - Assis Moreira

Valor Econômico

Acordo assimétrico com os EUA aumenta a pressão para a UE e afetará ganhos do Mercosul

O acordo preliminar Estados Unidos-União Europeia (UE), anunciado por Donald Trump e Úrsula von der Leyen, ontem, cria um novo contexto geopolítico e econômico que pode influenciar a implementação e os efeitos do acordo UE-Mercosul, concordam certos analistas.

A ausência de detalhes até agora sobre o acordo entre Washington e Bruxelas e a necessidade de aprovação pelos 27 Estados membros do bloco europeu alimentam incertezas sobre a barganha. Ainda mais que os termos parecem especialmente favoráveis aos interesses americanos, com concessões significativas dos europeus em investimentos e compras de energia, sem reciprocidade clara em isenção para setores europeus sensíveis.

Ameaça de Trump obriga a diversificar - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

É preciso estar preparado para o cenário em que a relação Brasil-EUA piore de forma inédita

Falta menos de uma semana para que entre em vigor a tarifa de 50 %impost a pel o g over no Trump sobre produtos brasileiros. Mesmo que um acordo seja negociado nos próximos dias, instalou-se um elemento de incerteza excessiva na relação bilateral, que obriga o Brasil a acelerar o processo de diversificação de parceiros para reduzir sua exposição aos EUA – não apenas no âmbito comercial e financeiro, mas também no tecnológico e militar.

A ilusão do agro - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Os interesses dos homens e mulheres do campo nunca foram preocupação da família Bolsonaro

O sentimento antipetista predominante entre empresários do campo é perfeitamente compreensível. Os tempos das frequentes invasões de propriedades por movimentos sem-terra, apoiados pelo PT, estão vivos na memória de produtores rurais e alimentam a sensação de insegurança que muitos sentem até hoje.

As primeiras gestões petistas também ficaram no imaginário de agricultores e pecuaristas como o ápice da “indústria da multa”. Cada um deles tem pelo menos uma história para contar sobre algum excesso cometido pelos órgãos fiscalizadores ambientais.

Lula e Bolsonaro: atração fatal - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

A situação não deixa de ser paradoxal: um ex-presidente e um presidente em função agem como se fossem meros protagonistas partidários, não estadistas

Lula e Bolsonaro se amam e se odeiam, um não podendo viver sem o outro. Se um falta por alguma razão, o outro o traz de volta. Um vocifera contra o outro, mas a ausência para eles é insuportável. O problema, porém, é que uma relação desse tipo, justificada no domínio privado, cada um podendo fazer o que quiser com sua vida e amores, torna-se complicada quando transplantada para o domínio público e, mais especificamente, geopolítico. O palco internacional transformou-se numa expressão de nossos embates internos, como se nele se decidisse o resultado das próximas eleições.

Relações externas nunca foram algo importante em contextos eleitorais, decidindo-se pelas mais distintas razões: econômicas, sociais, ideológicas, religiosas ou de costumes. Atualmente, no entanto, no cenário externo, cada um dos contendores encena suas próprias projeções internas de poder, em que os interesses do Brasil deixam de ter qualquer relevância. A situação não deixa de ser paradoxal, na medida em que um ex-presidente e um presidente em função agem como se fossem meros protagonistas partidários, não estadistas.

Banquete para poucos - Amarílio Macêdo

O Estado de S. Paulo

É urgente acabar com o fosso da desigualdade decorrente da concentração inconsequente de riqueza

Nós brasileiros fomos historicamente divididos em dois blocos de pessoas, como se fossem predestinados a serem eternamente incompatíveis entre si: um, formado por afortunados, insensíveis na sua maioria às questões da pobreza, e o outro, constituído pelos desprovidos das condições mais essenciais de sobrevivência e privados de direitos aos acessos viabilizadores da dignidade e da emancipação humana.

Afortunados aqui são todos os que arbitram em causa própria, por vias diretas ou indiretas, os acessos para se apropriarem do que é gerado pela coletividade. Como coletividade, estou considerando a somatória dos que vivem sob as mesmas regras, em que uma minoria se apropria da maior parte do que resulta dos processos produtivos, tais como bens, serviços, cultura, lazer, proteção social, e tantos outros que deveriam ser compartilhados entre todos os que contribuem para a sua produção.

Ministro da AGU rebate crítica de governadores de direita sobre o 'tarifaço' dos EUA

Por Samuel Lima / O Globo

Jorge Messias diz que Tarcísio, Ratinho Jr. e Caiado 'fingem ignorar' que responsabilidade sobre as sanções econômicas é da família Bolsonaro

São Paulo - O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, foi às redes sociais defender as negociações do governo Lula e rebater as críticas de governadores de direita sobre o tarifaço anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, a produtos brasileiros. Segundo ele, os possíveis adversários do petista nas urnas "fingem ignorar" que a responsabilidade pelas sanções econômicas é da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Reunidos há poucos dias num evento econômico para discutir preocupações sobre o tarifaço do Trump, governadores de direita apregoaram pacificação e unidade para enfrentar a ameaça. No entanto, fingem ignorar que os sérios prejuízos que as sanções econômicas podem causar ao povo brasileiro foram traiçoeiramente fomentadas pela família Bolsonaro, clã político apoiado por esses mesmos governadores", escreveu o ministro.

O Brasil de chapéu de palha – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Alvarenga e Ranchinho não ficaram ricos; seus sucessores sertanejos são milionários e bolsonaristas

Há algumas semanas [5/7], escrevi sobre uma moda de viola, "O drama de Angélica", gravada em 1942 pela dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho. Muitos leitores se encantaram com os versos em proparoxítonas, que se antecipavam em 29 anos a "Construção" de Chico Buarque. Aproveitei para comentar que, um dia, no Brasil, as duplas sertanejas eram diferentes das de hoje, e a de Alvarenga (1912-78) e Ranchinho (1912-91), mais que todas. Sem se afastarem da então liturgia do gênero —chapéu de palha, camisa xadrez, pronúncia "errada"—, eles estavam na linha de frente da música popular.

Qual democracia funciona melhor? - Marcus André Melo*

Folha de S. Paulo

O desenho institucional minimiza os riscos de tirania, mas é vulnerável a maiorias políticas

Steven Levitsky, o autor de "Como as Democracias Morrem", recentemente afirmou que "o Brasil é hoje um sistema mais democrático do que os EUA". A provocação de Seymour M Lipset —"quem conhece apenas um país, não conhece país algum"— é um convite a sempre ampliarmos o escopo dos casos em nossas análises. Lipset é autor do clássico "O Excepcionalismo Americano" (1996). Nele traça as origens e a evolução da ideia de que os EUA são uma nação distinta das demais e que a democracia americana é modelo institucional a ser emulado.

Em "Uma Democracia Diferente", Lijphart, Shugart, Grofman e Taylor escrutinizaram este modelo comparando-o com outras 31 democracias avançadas e concluem que os EUA estão longe de representar modelo bem-sucedido: "Os Estados Unidos não são apenas uma variação do tema democrático; são um tipo distintamente diferente de democracia." E mais contundente: "O sistema americano funciona apesar de seu desenho institucional, e não por causa dele."

A deliberação remota empodera o presidente da Câmara - Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

A disputa por tempo e quórum é uma das principais batalhas políticas no Legislativo

O Sistema de Deliberação Remota desponta como o principal legado da pandemia para o funcionamento do Legislativo brasileiro. Originalmente concebido para assegurar o funcionamento do Congresso durante a emergência sanitária, o sistema permanece ativo mesmo após o seu fim.

À primeira vista essa medida pode parecer positiva, contudo negligencia um aspecto fundamental: a disputa por tempo e quórum (a presença mínima para a abertura e o funcionamento dos trabalhos legislativos) é uma das principais batalhas políticas no Legislativo.

Concentremo-nos na Câmara dos Deputados, que expandiu a deliberação remota após o Ato da Mesa Diretora nº 154, de fevereiro deste ano.

Jornalismo, rede e democracia - Rodrigo Lara Mesquita*

Ilustríssima / Folha de S. Paulo

Não podemos permanecer passivos à manipulação de algoritmos e governos autoritários

[RESUMO] Derrocada da relevância social do jornalismo e explosão da cacofonia gerada pela internet nas últimas décadas, fatos intimamente interligados, nos levaram a uma crise civilizacional da qual temos sido reféns passivos. Esse cenário de terra arrasada, que beneficia poucas e poderosas empresas, virou um solo propício para a desinformação e o surgimento de políticos autoritários em todo o mundo. Restaurar os valores democráticos exigirá resposta enérgica para reimaginar o jornalismo e as plataformas digitas.

Estamos imersos em uma crise histórica de longa duração. Os pilares que sustentaram a democracia liberal do século 20 —representação política, jornalismo profissional, instituições reguladoras, pactos de coesão social— sofrem um processo de desestruturação progressiva.

A explosão informacional trazida pela internet não produziu mais esclarecimento; ampliou o ruído, fragmentou consensos e corroeu formas tradicionais de mediação. O jornalismo, paralisado em sua arrogância institucional, não soube compreender a emergência do novo ambiente em rede.

As plataformas digitais, ao contrário, não hesitaram: capturaram rapidamente o centro da esfera pública, reconfigurando as formas de circulação de informação, opinião e afeto.

Embora a literatura crítica internacional acumule diagnósticos relevantes sobre a colonização algorítmica e o declínio das instituições intermediárias, é notável —e preocupante— o silêncio generalizado, inclusive no jornalismo, sobre a verdadeira dimensão dessa crise. Esta talvez seja a mais grave omissão pública do nosso tempo.

O que proponho aqui não é apenas um diagnóstico, mas um esforço deliberado de nomear essa dissolução como uma crise estrutural e civilizacional, com a qual o jornalismo tradicional se mostrou, até aqui, incapaz de lidar.

Não relato apenas uma experiência pessoal, mas a trajetória de uma geração que acreditou na função pública do jornalismo e assistiu, perplexa, ao seu esvaziamento como mediador qualificado da opinião pública.

Poesia | Se eu fosse eu, de Clarice Lispector

 

Música | Noturno No. 0 - Sueli Costa