Trump, Bolsonaro, Milei,...
eleitos pelo povo. Mussolini e Hitler também o foram...
No presente século, mudaram
as mediações midiáticas da política em geral, não apenas pelo lado da extrema
direita. Perry Anderson, em artigo de uns 10 anos atrás (publicado na Revista
Piauí), partindo do caso Berlusconi, já conceituara a “Videopolítica”,
evidenciando a prevalência da exposição em TV na construção personalista dos
líderes, com os Partidos à reboque. Na própria Itália vide outros casos, de
Beppe Grillo a Matteo Renzi. E na Espanha, pela esquerda, a ascensão do movimento
Podemos, sob a liderança midiática de Pablo Iglesias.
O que veio mais recentemente
foi o crescimento explosivo das mídias digitais, das redes sociais por
internet, fenômeno fartamente estudado e analisado, apontando a dianteira
tomada pela extrema direita, coordenada em escala mundial. No Brasil,
animadores de auditório, donos de redes de canais, “tiriricas,” “telepastores”,
etc, e agora os tais “influencers” das redes.
Como iremos sair desse “pântano”
movediço da política?
Sinto falta de um Poulantzas
(particularmente seu conceito de “estatismo autoritário”, associado à crise da representação
política), de Carlos Nelson Coutinho e Werneck Vianna, intérpretes do Brasil.
Sinto falta da paixão iluminada de um Berlingüer, em sua última cena de auto-imolação
pública, em tribuna, discursando até o coração lhe dizer basta! Tudo filmado e
documentado, para quem não seja cardíaco!...
Por isto mesmo, este
preâmbulo sobre o “pântano” não poderia escapar de Gramsci: “Só quem deseja
fortemente é capaz de identificar na realidade os elementos necessários à
realização da sua vontade”. Ou, na expressão simplificada que um dia ouvi de
Werneck: “[Em política] só o apaixonado pode prever”.
A Guerra e o Brasil.
Analistas militares trabalham hoje com
conceitos de "guerras assimétricas"(os EUA no Afeganistão e no Iraque),
guerras por ação indireta via países (Ucrânia) ou facções armadas "proxis" (Houtis no Golfo Pérsico),
etc...
Como se está a ver, uma guerra mundial hoje
leva a milhões de mortos, mutilados, famintos, genocídios etc, sem necessariamente
uma hecatombe nuclear...
Há quem argumente com as majoritárias "forças
pela paz" no contexto mundial.
Mas onde estão? O que resta da ONU por
exemplo?
O cenário é de guerra longa, duradoura, à
semelhança das décadas da “Guerra Fria”, só que agora pelos ajustamentos
geopolíticos e geoeconômicos que têm seus tempos próprios.
Tenho assistido na TV e
canais de Internet, entrevistas dos senadores brasileiros da Comissão, ideológica
e politicamente ampla, que esteve em conversações nos EUA. Tiveram pouca
cobertura nas mídias.
Relatam que deputados norte-americanos
dos dois lados, Democratas e Republicanos, estão para votar projeto com pesadas
sanções a países que fazem negócios com a Rússia. O objetivo, acreditam, é
poderem sufocar a Rússia economicamente (acho isso totalmente ilusório).
Nossos senadores
entrevistados, inclusive os ligados ao Agronegócio, dão o exemplo dos
fertilizantes e de outros insumos (diesel), transacionados com Rússia.
Vejam. São relatos de
insuspeitos senadores da burguesia brasileira.
O que os senadores
brasileiros constataram (gente como Esperidião Amin, Tereza Cristina, etc) é o
acirramento do conflito com a Rússia! Isto passa pelo Congresso dos EUA. É mais
do que Trump, que ainda neste 01 de agosto, fez arreganhos à Rússia enviando
dois submarinos nucleares, sabe-se lá pra onde.
Os norte-americanos poderiam,
digo eu, bloquear reservas internacionais de divisas brasileiras soberanas,
operações via SWIFT, etc.
Como se sabe, além de já
ocuparem a Base de lançamentos de Alcântara, agora estão de olho na Base aérea
de Natal e na ilha de Fernando de Noronha, dada a nova importância estratégica
do Atlântico Sul.
Estas ameaças podem chegar,
como já apontaram especialistas militares da reserva em audiência há um ano ou
mais na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso, até a
bloqueio naval de nossos fluxos de comércio!
Perto disso, as fanfarronices
de Trump para seu público interno, conjugadas à ação da CIA em tentativas de
"regime change" no Brasil (acreditam provocar crise econômica,
“revolução colorida” nas ruas, impeachment de Lula, vitória da direita em 2026),
são a espuminha do chope.
Si
vis pacem para bellum. (se queres a paz, prepara-te para a guera).
Podemos e devemos abdicar dos
delírios de "Grande Potência". Mas não podemos prescindir da Defesa
Nacional.
Exemplo flagrante. A falta
de submarinos de propulsão atômica. Sua principal característica é sua
furtividade. São indetectáveis e ficam submersos indefinidamente. Um país com a costa Atlântica que temos, com
nossas rotas de comércio marítimo vulneráveis, com riquezas minerais em águas
territoriais... está completamente indefeso.
Como isto aconteceu?
Desde o pós- guerra, nossas
FFAA viveram sob o guarda chuva da PAX imperial!
Ora, isto acabou! E os militares
brasileiros estão perplexos. É o que se depreende da leitura de fonte
bolsonarista na Internet, que consultou comandantes militares da ativa. O que
fazer, com FFAA e Indústria bélica sucateadas? Cadê o guarda-chuva de Tio Sam?
Mas em artigo desta última quinta
feira 31 de julho, o Gen Mourão em O Globo prega a volta ao que ele acredita ainda
ser o que chamei “guarda-chuva”. Exalta a aliança histórica de Brasil e EUA
desde os campos de batalha da Segunda Guerra, a despeito do nosso atual Governo
“(...) que falha em exercer a soberania
em nome do povo”. E acusa nossas “autoridades públicas” (leia-se STF?),
“(...) que desrespeitam a vontade da
maioria da população em ver encerrada a sequência lamentável de arbítrio e
perseguição que caracteriza a grave crise pela qual passa o país”.
Nesta longa conjuntura de
guerra que se abre, temos um ponto forte que vem do Itamaraty. Sua formulação e
prática, iniciada no regime militar, do então chamado "pragmatismo responsável". O militares no poder haviam
percebido o imperativo do desenvolvimento socioeconômico para a própria
sobrevivência do Regime. Daí reatarem relações com China, URSS. Daí o Acordo
Nuclear com a Alemanha. Temos portanto, ao menos no campo diplomático, esta
cultura de pragmatismo nas relações internacionais, sem alinhamentos automáticos.
Indo
além das alianças eleitoralistas.
A lição que fica pra hoje é
o rompimento, sim, com o neoliberalismo, a re-industrialização com autonomia
tecnológica, o crescimento econômico acelerado acompanhado de mudanças
estruturais na concentração da renda e riqueza, o que só é possível com
Planejamento. Infelizmente, isto ainda não entrou na pauta dos democratas.
As circunstâncias da
conjuntura têm facultado a Lula, como Chefe de Estado, dar protagonismo ao seu
vice-presidente Alckmin, dar mais voz à Ministra Simone Tebet, coordenar ações
junto a setores empresariais, assim ampliando as alianças de classe. Esperemos
que daí possa surgir a ampla base programática, democrática e política capaz de
atravessar aquele “pântano” que nos espera em 2026.