domingo, 3 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil deve entender por que saiu do Mapa da Fome

O Globo

Se não identificar as políticas que deram certo, país poderá voltar em breve à vexatória lista da FAO

É boa a notícia que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tenha retirado o Brasil do Mapa da Fome, depois de três anos integrando essa lista vergonhosa. No período entre 2022 e 2024, menos de 2,5% da população brasileira apresentou risco de subnutrição ou de falta de acesso a alimentação suficiente. Significa que o problema foi resolvido de forma definitiva? Por certo, não. Trata-se de um retrato dos últimos três anos, que pode mudar para pior, como já mudou outras vezes.

O passado recente mostra que a linha é tênue. Em 2014, o país celebrou ter deixado pela primeira vez o Mapa da Fome, permanecendo assim até 2018. Mas, no período 2019-2020-2021, as condições se deterioraram, e o Brasil retornou. “Em primeiro lugar, é preciso dizer que a gente melhorou. Saímos da crise aguda”, diz Laura Müller Machado, professora de gestão pública do Insper. “Mas o grande problema é que não sabemos exatamente as políticas públicas que tiraram o país do Mapa da Fome”, completa.

Histórico de crises - Merval Pereira

O Globo

Há um padrão histórico que mostra que presidentes com baixa sustentação no Congresso enfrentam crises graves, incluindo renúncia, impeachment ou queda de poder,

O atual enfrentamento político e econômico entre o governo de Donald Trump e o Brasil faz o cruzamento de padrões históricos dos dois países que podem maximizar a crise. Os brasileiros envolvidos na campanha de difamação da democracia brasileira no exterior têm um objetivo de longo prazo que vai muito além de resultados imediatos, como a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus associados no golpe tentado que culminou no vandalismo da Praça dos Três Poderes em Brasília em janeiro de 2023. Eles sabem que é praticamente impossível interferir no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), mas jogam com a possibilidade de uma desestabilização do governo democraticamente eleito pelos efeitos das decisões do governo Trump.

O tarifaço e as eleições - Miguel Caballero

O Globo

Conciliar a aliança com o bolsonarismo e o apoio do establishment é um falso dilema para Tarcísio

É comum presidentes com problemas de aprovação da gestão apelarem à figura do inimigo externo, inventado ou real, para recuperar popularidade. Lula e Donald Trump são antagônicos na política, mas nem por encomenda o brasileiro poderia receber uma oportunidade tão à feição como o tarifaço imposto pelo americano. A agressão foi tão descabida que o governo nem precisou se esforçar para demonstrar seu absurdo. No mérito econômico, é claramente injusta, vista a balança comercial entre os países. Na forma, uma tentativa autoritária de interferência na Justiça alheia em benefício de aliados, sejam os políticos bolsonaristas, sejam as big techs americanas.

O fio da história por testemunha - Míriam Leitão

O Globo

A História do Brasil mostra a presença constante de golpistas. A semana mostrou que o risco continua

O Judiciário fez, depois do recesso, uma abertura de gala. O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, foi sério e grave como o momento exigia. E puxou o fio da história. “Do início da República até o final do governo militar, a História do Brasil foi a história de golpes, contragolpes, intervenções militares, rupturas ou tentativas de ruptura da legalidade constitucional.” Os fatos lembrados por ele não deixam dúvidas. Só a Constituição de 1988 enfrentou esse triste legado. Foi contra a democracia constitucional que o governo Bolsonaro executou sua conspiração. A extrema direita golpista ganhou aliado de peso, o candidato a autocrata dos Estados UnidosDonald Trump. Com o regozijo dessa direita, Trump bombardeou a economia brasileira.

O que Trump quer é eleger Bolsonaro – Elio Gaspari

O Globo

Donald Trump espalhou confusões pelo mundo, mas pelo menos no caso do Brasil foi de uma clareza ululante

Negociações diplomáticas, como as CPIs, sabe-se como começam, mas não se sabe como terminam. Donald Trump espalhou confusões pelo mundo, mas pelo menos no caso do Brasil foi de uma clareza ululante. Na sua primeira carta a Lula, de 9 de julho, ele escreveu, logo no primeiro parágrafo:

“A maneira como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um Líder Altamente Respeitado em todo o Mundo durante seu Mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma Caça às Bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE! (Ênfase dele.)”

De lá para cá surgiram novas agendas. Renegociaram-se tarifas (o que cair na rede é peixe), cassaram-se os vistos de oito ministros do Supremo e demonizou-se Alexandre de Moraes. Todas elas interessam a Trump, mas o que ele quer mesmo é eleger Jair Bolsonaro.

O espelho partido na histórica relação do Brasil com os EUA - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A resposta brasileira ao tarifaço não pode ser restringir ao patriotismo popular e à resiliência das instituições, exige um projeto de desenvolvimento

A atual crise diplomática e comercial entre o Brasil e os Estados Unidos, deflagrada pelo tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros, não pode ser compreendida apenas no contexto de uma disputa conjuntural. Ela reativa dilemas históricos da formação nacional: a tensão entre um Brasil que busca a modernização autônoma e outro que permaneceu subordinado a modelos externos, seja pelo agrarismo conservador, seja pela industrialização tardia.

Estamos diante de uma inédita ofensiva tarifária do governo Trump, cujos objetivos não são apenas comerciais, porque adquirem um caráter político e simbólico ao tentar constranger e intimidar instituições brasileiras, principalmente o Supremo Tribunal Federal, diante do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse ataque encontra, porém, certa base de apoio político e social interno, que não deve ser subestimado.

Centrão: ‘Daqui não passo’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro não escapa do STF; Jair Bolsonaro, nem do STF nem do Congresso

O projeto de anistia para Jair Bolsonaro e o destino do seu filho 03, Eduardo Bolsonaro, estarão no topo da agenda política, em mais uma semana daquelas, com a reabertura do Legislativo, a sociedade radicalizada e o País sob a expectativa da entrada em vigor do tarifaço na quarta-feira, sem que saiba até onde Donald Trump pretende ir.

O foco estará nos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, que estão no fio da navalha, sob pressão dos bolsonaristas, pela anistia, e dos lulistas, pela cassação de Eduardo Bolsonaro, que trocou os votos pelas armas e está na linha de frente dos ataques dos EUA ao Brasil.

As motivações prioritárias dos EUA - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Apesar de ter déficit com os EUA, Brasil é protecionista, com alíquota de 11% e ações anti-dumping

Grandes empresas brasileiras que exportam para os EUA contrataram escritórios de l obby em Washington para tentar encaixar seus produtos na lista de exceções da tarifa de 50%. Algumas, com sucesso. Enquanto isso, a situação política se deteriora com as sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Um lobista que serviu no primeiro mandato de Donald Trump contratado por clientes brasileiros me explicou que o argumento de que as tarifas elevam os preços aos americanos não tem efeito. Os preços não subiram até agora – provavelmente por causa dos estoques feitos pelos importadores antes das tarifas. O governo Trump 2.0 não trabalha com cenários econômicos: está mais interessado em medidas de velocidade e impacto.

O tarifaço e a turbulência global - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Nesta sexta-feira começaram a aparecer na economia dos Estados Unidos os primeiros sinais da infecção produzida pelo tarifaço global decretado pelo presidente Donald Trump.

O indicador Payroll, que sonda o mercado de trabalho dos Estados Unidos, mostrou que, em julho, foram abertos por lá apenas 73 mil empregos. É resultado decepcionante, na medida em que a expectativa apontava para 101 mil. Trump não gostou do que viu e demitiu a encarregada das estatísticas. Ou seja, matou o mensageiro.

A partir daí – e na esteira de outros dados –, os analistas foram quase unânimes em prever a continuação da queda do emprego, como em diagnosticar o início de um período de desaceleração da atividade econômica, com aumento da inflação. Não é ainda o que os economistas chamam de estagflação (estagnação mais inflação), mas pode ser o início disso.

O que é um país soberano? – Juliana Diniz

O Povo (CE)

O que vimos acontecer ao longo das últimas semanas foi uma gravíssima afronta ao autogoverno do povo brasileiro e, por consequência, ao funcionamento e à independência de suas instituições republicanas, notadamente a Suprema Corte

Na semana em que o Brasil sofreu a mais grave agressão da história de sua relação bilateral com os Estados Unidos, devemos nos perguntar: o que significa ser um país soberano e qual é a importância da soberania? Pensar sobre o conceito nos auxiliará a compreender o que houve e a nos orientar sobre o posicionamento que devemos assumir em meio à crise.

Agronegócio pagará Tarifa Bolsonaro? - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Se setor não quer pagar tarifaço, precisa abandonar quem serve de álibi na guerra comercial americana

Em 30 de abril de 2018, publiquei nesta Folha uma coluna chamada "Bolsonaro vai quebrar o agronegócio?". Meu medo era que Jair fizesse alguma estupidez que fechasse o mercado chinês para nossas commodities.

Atirei no que vi e acertei no que não vi: Bolsonaro está criando problemas terríveis para nosso agronegócio, fez uma imensa estupidez, mas o mercado que ele nos fechou acabou sendo o americano.

Grande parte de nossos produtos agrícolas sofrerá a taxação de 50% imposta por Trump e Bolsonaro contra o Brasil. O governo brasileiro ainda briga para que isso mude. Mas Alckmin negocia sob sabotagem declarada do deputado Eduardo Bolsonaro e do neto burro do Figueiredo.

Guerra de Trump ainda pode piorar - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Brasileiros que tiveram conversas nos EUA temem novos ataques, não se sabe se comerciais ou políticos

ataque especial de Donald Trump à economia do Brasil parece ter sido motivado pelo interesse de apoiar os golpistas Bolsonaros. Como fatores coadjuvantes, pela tentativa de barrar planos de regular e tributar big techs e de mostrar que a aliança dos Brics custaria caro. O ataque direto a Alexandre de Moraes e ao STF sublinha o motivo político da agressão.

É o que parece óbvio; é o que se depreende de conversas com diplomatas, associações empresariais, lobistas brasileiros, com senadores que estiveram nos EUA e com gente do governo.

O lado certo da força - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não se deve dar asas às cobras do golpe, sob pena de liberá-las para engendrarem novos ataques

O resultado das ações do filho do ex-presidente e do neto do último ditador do regime militar comprova não só a influência dos dois em Washington, como é a maior evidência de que é justo, e até ameno, o empenho rigoroso do Supremo Tribunal Federal no trato aos golpistas e companhia.

As sanções econômicas ao Brasil e o cerco financeiro a Alexandre de Moraes, passível de ser estendido a outros ministros do STF, demonstram que não se pode desdenhar da aptidão de certos seres deformados para produzirem o mal.

Como o mundo fez o Ocidente - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra que mundo antigo era muito mais interligado do que supunham historiadores do século 19 que criaram a noção de civilização

Josephine Quinn quer acabar com a civilização ocidental. Não, Quinn não é uma vilã de histórias em quadrinhos. Ela é acadêmica, professora de História Antiga de Cambridge e autora do ótimo "How the World Made the West".

Uma das teses defendidas por ela é a de que devemos aposentar a noção de civilização, que não passa de uma ideia chauvinista do século 19, que pouco acrescenta à historiografia e desperta alguns de nossos piores instintos nacionalistas.

O continente da demência - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Apoio na Câmara dos Deputados a Trump põe em dúvida o sentido de que 'o patriotismo é o último refúgio do canalha'

Um incidente na Câmara dos Deputados em Brasília põe em dúvida o sentido do conhecido aforisma "o patriotismo é o último refúgio do canalha". É que, apesar da indignação coletiva contra o ataque desvairado de Trump ao Brasil, um pequeno grupo alçou na Câmara dos Deputados enorme bandeira em homenagem ao agressor. O autor da frase, Samuel Johnson, literato inglês do século 18, queria dizer que o "scoundrel" (canalha), sem justificativa moral para suas ações, recorre malandramente ao motivo fácil do patriotismo.

Trump está vencendo? - Samuel Pessôa

Folha de S. Paulo

Republicano tem conseguido fechar acordos comerciais favoráveis a ele

Trump tem fechado acordos em que os Estados Unidos impõem uma tarifa de importação e a contraparte não tarifa os americanos. Foi assim com o Japão e com a União Europeia. É necessário sabermos os detalhes dos acordos, as letras miúdas, mas tudo sugere que há, sim, certa assimetria. Somente com a China parece não haver essa discrepância.

Esse desfecho não é surpreendente. Pela escala da economia americana e por ter um déficit estrutural, a perda de bem-estar resultante de uma guerra comercial é menor para os EUA.

As simulações sugerem que, em uma guerra comercial aberta —todos contra todos—, as perdas dos EUA são bem menores do que as dos demais países. Os EUA perdem em bem-estar o equivalente a 1% do consumo. A América do Sul perde 3%, e a Europa, de 7,5% a 10%. A China perde de 13% a 20%.

Terceira Guerra Mundial em andamento – O Brasil já entrou - Alfredo Maciel da Silveira

Trump, Bolsonaro, Milei,... eleitos pelo povo. Mussolini e Hitler também o foram...

No presente século, mudaram as mediações midiáticas da política em geral, não apenas pelo lado da extrema direita. Perry Anderson, em artigo de uns 10 anos atrás (publicado na Revista Piauí), partindo do caso Berlusconi, já conceituara a “Videopolítica”, evidenciando a prevalência da exposição em TV na construção personalista dos líderes, com os Partidos à reboque. Na própria Itália vide outros casos, de Beppe Grillo a Matteo Renzi. E na Espanha, pela esquerda, a ascensão do movimento Podemos, sob a liderança midiática de Pablo Iglesias.

O que veio mais recentemente foi o crescimento explosivo das mídias digitais, das redes sociais por internet, fenômeno fartamente estudado e analisado, apontando a dianteira tomada pela extrema direita, coordenada em escala mundial. No Brasil, animadores de auditório, donos de redes de canais, “tiriricas,” “telepastores”, etc, e agora os tais “influencers” das redes.

Como iremos sair desse “pântano” movediço da política?

Sinto falta de um Poulantzas (particularmente seu conceito de “estatismo autoritário”, associado à crise da representação política), de Carlos Nelson Coutinho e Werneck Vianna, intérpretes do Brasil. Sinto falta da paixão iluminada de um Berlingüer, em sua última cena de auto-imolação pública, em tribuna, discursando até o coração lhe dizer basta! Tudo filmado e documentado, para quem não seja cardíaco!...

Por isto mesmo, este preâmbulo sobre o “pântano” não poderia escapar de Gramsci: “Só quem deseja fortemente é capaz de identificar na realidade os elementos necessários à realização da sua vontade”. Ou, na expressão simplificada que um dia ouvi de Werneck: “[Em política] só o apaixonado pode prever”.

A Guerra e o Brasil.

 

Analistas militares trabalham hoje com conceitos de "guerras assimétricas"(os EUA no Afeganistão e no Iraque), guerras por ação indireta via países (Ucrânia) ou facções armadas  "proxis" (Houtis no Golfo Pérsico), etc...


Como se está a ver, uma guerra mundial hoje leva a milhões de mortos, mutilados, famintos, genocídios etc, sem necessariamente uma hecatombe nuclear...


Há quem argumente com as majoritárias "forças pela paz" no contexto mundial.


Mas onde estão? O que resta da ONU por exemplo?

O cenário é de guerra longa, duradoura, à semelhança das décadas da “Guerra Fria”, só que agora pelos ajustamentos geopolíticos e geoeconômicos que têm seus tempos próprios.

 

Tenho assistido na TV e canais de Internet, entrevistas dos senadores brasileiros da Comissão, ideológica e politicamente ampla, que esteve em conversações nos EUA. Tiveram pouca cobertura nas mídias.

Relatam que deputados norte-americanos dos dois lados, Democratas e Republicanos, estão para votar projeto com pesadas sanções a países que fazem negócios com a Rússia. O objetivo, acreditam, é poderem sufocar a Rússia economicamente (acho isso totalmente ilusório).

Nossos senadores entrevistados, inclusive os ligados ao Agronegócio, dão o exemplo dos fertilizantes e de outros insumos (diesel), transacionados com Rússia.

Vejam. São relatos de insuspeitos senadores da burguesia brasileira.

O que os senadores brasileiros constataram (gente como Esperidião Amin, Tereza Cristina, etc) é o acirramento do conflito com a Rússia! Isto passa pelo Congresso dos EUA. É mais do que Trump, que ainda neste 01 de agosto, fez arreganhos à Rússia enviando dois submarinos nucleares, sabe-se lá pra onde.

Os norte-americanos poderiam, digo eu, bloquear reservas internacionais de divisas brasileiras soberanas, operações via SWIFT, etc.

Como se sabe, além de já ocuparem a Base de lançamentos de Alcântara, agora estão de olho na Base aérea de Natal e na ilha de Fernando de Noronha, dada a nova importância estratégica do Atlântico Sul.

Estas ameaças podem chegar, como já apontaram especialistas militares da reserva em audiência há um ano ou mais na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso, até a bloqueio naval de nossos fluxos de comércio!

Perto disso, as fanfarronices de Trump para seu público interno, conjugadas à ação da CIA em tentativas de "regime change" no Brasil (acreditam provocar crise econômica, “revolução colorida” nas ruas, impeachment de Lula, vitória da direita em 2026), são a espuminha do chope.

Si vis pacem para bellum. (se queres a paz, prepara-te para a guera).

Podemos e devemos abdicar dos delírios de "Grande Potência". Mas não podemos prescindir da Defesa Nacional.

Exemplo flagrante. A falta de submarinos de propulsão atômica. Sua principal característica é sua furtividade. São indetectáveis e ficam submersos indefinidamente.  Um país com a costa Atlântica que temos, com nossas rotas de comércio marítimo vulneráveis, com riquezas minerais em águas territoriais... está completamente indefeso.

Como isto aconteceu?

Desde o pós- guerra, nossas FFAA viveram sob o guarda chuva da PAX imperial!

Ora, isto acabou! E os militares brasileiros estão perplexos. É o que se depreende da leitura de fonte bolsonarista na Internet, que consultou comandantes militares da ativa. O que fazer, com FFAA e Indústria bélica sucateadas?  Cadê o guarda-chuva de Tio Sam?

Mas em artigo desta última quinta feira 31 de julho, o Gen Mourão em O Globo prega a volta ao que ele acredita ainda ser o que chamei “guarda-chuva”. Exalta a aliança histórica de Brasil e EUA desde os campos de batalha da Segunda Guerra, a despeito do nosso atual Governo “(...) que falha em exercer a soberania em nome do povo”. E acusa nossas “autoridades públicas” (leia-se STF?), “(...) que desrespeitam a vontade da maioria da população em ver encerrada a sequência lamentável de arbítrio e perseguição que caracteriza a grave crise pela qual passa o país”.

Nesta longa conjuntura de guerra que se abre, temos um ponto forte que vem do Itamaraty. Sua formulação e prática, iniciada no regime militar, do então chamado "pragmatismo  responsável". O militares no poder haviam percebido o imperativo do desenvolvimento socioeconômico para a própria sobrevivência do Regime. Daí reatarem relações com China, URSS. Daí o Acordo Nuclear com a Alemanha. Temos portanto, ao menos no campo diplomático, esta cultura de pragmatismo nas relações internacionais, sem alinhamentos automáticos.

Indo além das alianças eleitoralistas.

A lição que fica pra hoje é o rompimento, sim, com o neoliberalismo, a re-industrialização com autonomia tecnológica, o crescimento econômico acelerado acompanhado de mudanças estruturais na concentração da renda e riqueza, o que só é possível com Planejamento. Infelizmente, isto ainda não entrou na pauta dos democratas.

As circunstâncias da conjuntura têm facultado a Lula, como Chefe de Estado, dar protagonismo ao seu vice-presidente Alckmin, dar mais voz à Ministra Simone Tebet, coordenar ações junto a setores empresariais, assim ampliando as alianças de classe. Esperemos que daí possa surgir a ampla base programática, democrática e política capaz de atravessar aquele “pântano” que nos espera em 2026.

Poesia | Ponto de desintoxicação, de João Cabral de Melo Neto

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Música | Paulinho da Viola e Marisa Monte - Preciso me encontrar (Candeia)