sábado, 2 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais /Opiniões

COP30 corre risco de naufragar antes mesmo de começar

O Globo

Países assinam documento sugerindo transferência do evento se preço de hospedagem em Belém não baixar

(COP30) em Belém, representantes de 25 países assinaram documento sugerindo a transferência do evento para outro local, se os preços das hospedagens não baixarem. Eles estão certos. O pior que poderia acontecer é o cancelamento da presença de nações pobres, afetando o quórum de decisões. A COP30 acabaria antes de começar.

Cidades que hospedam COPs e outros grandes eventos registram altas de diárias de hotéis e aluguéis de imóveis. Quando a demanda aumenta, os valores sobem. Porém o que está acontecendo em Belém é fora do comum. Adotar um tabelamento seria inaceitável. Mas, em situações em que a lei da oferta e da procura sai de controle, governos podem e devem intervir aumentando a oferta. Nesse caso, isso aconteceria com a transferência de parte do evento para o Rio de Janeiro.

O candidato Tarcísio e o teste do pato - Thaís Oyama

O Globo

Governador é cético quanto à chance de ser ungido candidato único da direita pelos partidos do Centrão

Tarcísio de Freitas não fala como candidato à Presidência, não anda como candidato à Presidência, não se comporta como candidato à Presidência. Hoje, Tarcísio de Freitas não é candidato à Presidência. É a conclusão a que chega quem quer que converse sobre o assunto com ele e seu mentor político, o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Até junho, Kassab dizia que sua sigla estava pronta para apoiar o governador de São Paulo, do Republicanos, se ele decidisse disputar o Planalto. A título de ressalva, lembrava que o PSD também tinha candidatos próprios a oferecer. Agora, Kassab inverteu a ordem dos fatores.

— Nosso jogo está feito — afirma a interlocutores.

O tarifaço e a hegemonia dos EUA - Ronaldo Carmona*

O Globo

O alvo de Donald Trump é o papel do Brasil na conformação multipolar das relações de poder mundial

O Brasil está sob ataque de potência estrangeira voltada ao seu setor produtivo. Cabe ao país refletir sobre a questão sob a ótica da geopolítica, que organiza as relações internacionais contemporâneas numa renhida disputa pelo poder, tendo em vista a redefinição da potência hegemônica no mundo.

Para os Estados Unidos, há um duplo objetivo com as tarifas. O primeiro, endógeno, é reindustrializar o país no contexto da agenda do movimento Make America Great Again, que busca reverter o declínio de sua hegemonia. Afinal, o protecionismo já foi um caminho bem-sucedido trilhado pelos Estados Unidos para se tornar a potência hegemônica no século XX. Alexander Hamilton que o diga.

Um segundo objetivo, exógeno, refere-se ao balanço de forças no sistema internacional: subjugar e forçar rendições — como no acordo com a União Europeia — ou a reorganização de alianças, caso das sanções à Índia por sua relação com a Rússia.

Porque hoje é sábado - Flávia Oliveira

O Globo

Saio das sextas-feiras de Oxalá para o dia de Iemanjá, minha orixá

Foi em abril de 2014 a minha estreia como colunista de artigos no GLOBO. Eu já trabalhava no jornal, ora centenário, havia quase duas décadas: fui repórter na Economia, editei cadernos especiais, tornei-me colunista com Negócios & Cia. Passei, então, a escrever duas vezes por semana na recém-criada editoria de Sociedade; circulei pelo Segundo Caderno; retornei à Sociedade; me assentei em Opinião. O primeiro texto como articulista, lá se vão 137 meses, se chamou “Tempos de bigorna”. O turbilhão de mudanças se avizinhava, e fui buscar inspiração num desenho animado da infância, aquele da Warner Bros. em que o Coiote perseguia o Papa-Léguas — e sofria as consequências...

Qual o problema de ser isentão? - Eduardo Affonso

O Globo

O aumentativo pode conotar admiração ou desprezo, mas ‘isento’ quer dizer liberto, desembaraçado, imune

Um apelido só pega — e cumpre sua função de desqualificar, ridicularizar, ofender e humilhar — quando o apelidado se incomoda. Quando, em alguma escala, admite haver algo de negativo no epíteto que lhe dão.

“Gay” foi um termo depreciativo até ser apropriado pela comunidade homossexual, esvaziado do seu caráter jocoso e assumido nas “paradas de orgulho”. Outras palavras ainda são usadas para tentar agredir alguém por sua orientação sexual — essa não funciona mais.

Com “crioulo”, não deu tão certo. Bem que tentaram: Jorge Benjor escreveu “Crioula”, sucesso na voz de Zezé Motta, e “Menina crioula” (Tens o andar de uma guerreira, crioula/Tens no sangue um vulcão/Tens um gesto de princesa, crioula/Continuas sendo a dona da festa/E do meu coração). Junto com “negão” (resgatado por Antonio Risério no título do seu mais recente livro, “Pelé, o negão planetário”), a palavra permanece no index das ofensas raciais — apesar de um dos melhores cantores e compositores da sua geração, numa espécie de manifesto político e de resistência, ter escolhido o nome artístico de Criolo.

Egoísmo e covardia - Miguel Reale Júnior

O Estado de S. Paulo

Preocupado com sua sobrevivência política e a fuga da prisão que se avizinha, Bolsonaro nem percebe que a Trump interessam mesmo as terras raras e ‘big techs’

Era impensável que os Estados Unidos da América entrassem em conflito com o nosso país, impondo tarifas de importação astronômicas, mesmo tendo superávit nas trocas comerciais, e que impedissem a entrada em seu país de oito ministros de nossa Suprema Corte e do procurador-geral da República, aplicando, em violação de nossa soberania, a morte financeira ao ministro Alexandre de Moraes.

Mas é isso que fantasticamente ocorre por terem os Estados Unidos um presidente em transtorno delirante contínuo, para quem é natural impor o que lhe apetece mesmo intrometendo-se, de forma desabrida, em questões internas de outro país.

Industriado pela difamação do Brasil, em especial do Supremo Tribunal Federal (STF), promovida pelo agente avançado Eduardo Bolsonaro, Trump transformou o ex-presidente Bolsonaro em vítima, considerando seu julgamento uma vergonha internacional, que não deveria estar ocorrendo. E peremptoriamente declara ser “uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!” (“imediatamente” escrito em caixa alta).

Magnitsky eterna - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

A este cronista está claro que, entre as características do uso pervertido da Lei Magnitsky contra o Brasil, destaca-se a permanência. Veio para ficar. O objetivo sendo menos a sanção materializada do que a sustentação de um estado de risco, por meio do qual se exerceria o controle. Há uma eleição no horizonte.

Aplicada a Moraes como alerta, para intimidar, a forma deturpada da lei será mantida como ameaça, espada sobre a cabeça do País, pronta para cortar a cada vez que um movimento for considerado hostil a este objeto vago, bem cambiante em que tudo caberá, chamado de “segurança nacional americana”.

Tudo caberá à instrumentalização. Do legítimo zelo pela atividade das empresas americanas e pelo direito individual de se manifestar, havidas as decisões censórias de Xandão contra as redes sociais, o jornalismo e os cidadãos, até uma questão absolutamente brasileira, o julgamento do golpista Bolsonaro. Tudo vai – pode ir – no balaio genérico do ataque aos “interesses dos EUA”. Há uma eleição no horizonte.

As tarifas de Trump minam ordem mundial - Fareed Zakaria

O Estado de S. Paulo

Os EUA, que criaram um mundo próspero e pacífico, estão caminhando agora na direção oposta

Efeito mais amplo das tarifas será mudar a estrutura básica da economia mundial

Em meio à enxurrada de ameaças tarifárias e acordos comerciais de última hora, os americanos estão perdendo de vista o que realmente importa: uma mudança radical nos assuntos mundiais. Os EUA, criadores e defensores da economia global aberta, estão impondo sua maior taxa média de tarifas em quase um século – e têm as tarifas mais altas entre as principais economias.

O governo de Donald Trump está revertendo 80 anos de políticas econômica e externa, que consistentemente pressionaram os países a remover restrições e impostos sobre o comércio. Os efeitos dessa revolução política não serão medidos pelos preços atuais das ações, mas sim pelo tipo de mundo que surgirá como resultado.

Ao anunciar os acordos, a Casa Branca tem se gabado de que Trump abriu os mercados estrangeiros para produtos americanos, como se estivesse forçando a abertura de economias que antes estavam fechadas.

O mal está feito - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

A questão de agora é administrar as perdas. É o momento de ligar todos os alarmes na defesa da democracia brasileira, que está sob severo ataque

O dia seguinte foi adiado. O país ganhou mais uma semana para olhar para Washington e se perguntar porque o presidente Donald Trump resolveu jogar no lixo 201 anos de boas relações diplomáticas, comerciais e financeiras entre Brasil e Estados Unidos. Os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e agora especificamente contra o ministro Alexandre de Moraes vão além de qualquer medida imaginada ou concebida para atingir outro país em tempos de paz. É uma declaração de guerra. Uma invasão das atribuições constitucionais brasileiras por determinação de governo estrangeiro. Não há precedente para intromissão de tal magnitude na vida jurídica de um país organizado. É sempre bom lembrar Ulysses Guimarães, grande político e melhor frasista: "O Brasil não é uma Uganda qualquer".

O ideólogo do maga – Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

Curtis Yarvin é o olavo de carvalho da seita que reverencia Trump

Viva a Sociedade Alternativa/ Viva o Novo Aeon/… Faz o que tu queres/ Pois é tudo da lei, propunham Raul Seixas e Paulo Coelho, na letra de Sociedade Alternativa.

Nos anos 70, durante o regime militar, Raul Seixas e Paulo Coelho foram convocados a prestar depoimento no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), para explicar o que seria essa tal sociedade alternativa. Esse novo Aeon. Foram dispensados algumas horas depois ao descreverem o novo Aeon como uma sociedade das estrelas turbinadas com pílulas de LSD, uma droga psicodélica!

“O ser humano é aquilo que a educação faz dele”, proferiu Immanuel Kant. O novo Aeon foi apresentado em 2008 por um blogueiro anônimo conhecido como Mencius Moldbug. Ele defendeu uma guerra contra a Catedral, metáfora para designar a “maldita” aliança entre a mídia e a Academia, um conciliábulo para perpetuar o poder das esquerdas liberais.

Chantagem de alcance global - Luiz Carlos Bresser-Pereira

O mundo civilizado espera do Brasil uma resposta à altura

O objetivo dos Estados Unidos ao estabelecer uma tarifa de importação do Brasil de 50% não é a absolvição de Jair Bolsonaro, é submeter o Brasil, que está situado no seu “quintal”, mas pratica uma política independente. Em outras palavras, o que esse país e seu presidente querem é impedir que Lula se reeleja e o Brasil volte a fazer parte do “mundo livre”. Volte a abrir sua economia ainda mais do que está aberta e renuncie a qualquer veleidade de voltar a crescer. Como afirmou Jamil Chade em seu notável artigo “Batalha Campal”, na edição 1372 de CartaCapital, “abalar a estabilidade de um governo democraticamente eleito é o principal objetivo de um movimento que precisa retirar de seu caminho forças progressistas e emergentes para costurar uma nova ordem mundial que perpetue e renove sua posição de força. A autonomia do Brasil, portanto, é intolerável. Inclusive perigosa, caso outros emergentes a usem como modelo”.

Barreira nos trópicos - Jamil Chade

O Brasil definirá como sobrevivem as democracias?

Viver em uma democracia liberal tornou-se um privilégio para poucos. Um levantamento realizado pela Universidade de ­Gotemburgo, na Suécia, constatou que a onda autoritária ganha força e transforma o cenário geopolítico internacional. No total, existem 88 democracias, incluindo as liberais e as eleitorais, aquelas nas quais existe o direito ao voto e eleições rotineiras ocorrem, mas sem que esse direito resulte numa transformação democrática mais ampla da sociedade, a garantia do Estado de Direito e de uma Justiça independente.

Em 2024, aponta o estudo, 91 países eram classificados como autocracias, desde os regimes mais fechados até aqueles nos quais existem eleições de fachada, marcadas por constantes manipulações e fraudes.

Os sinais de Haddad para o governo Trump - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Se os EUA se afastarem do Brasil, abre-se um caminho para uma aproximação ainda maior com a China

Após o anúncio do tarifaço de 50% por Donald Trump, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) é até agora o membro do governo Lula que tem emitido publicamente os sinais mais contundentes na direção de uma abertura efetiva de diálogo com os EUA.

Haddad vem endossando a posição de que o Brasil tem todo o interesse em estreitar laços e que busca parceria com os americanos. Esse é um ponto que o governo Trump tem interesse em relação ao Brasil, após ver o avanço da China na região. Perdeu o bonde e tenta agora correr atrás.

O Brasil na trincheira - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Nenhum país sofre um ataque similar, deflagrado por razões político-ideológicas

Trump pega leve com a China, a Rússia e até a Venezuela, que voltará a contar com a parceria Chevron-PDVSA. Pega pesado com os aliados, como Europa, Canadá e Japão, a quem impõe acordos comerciais desiguais.

Mas nenhum país sofre um ataque similar ao deflagrado contra o Brasil, que é sancionado por razões político-ideológicas. À tarifa-sanção soma-se a revogação de vistos de oito ministros do STF e a aplicação da Lei Magnitsky sobre Alexandre de Moraes. É hora de descer à trincheira e enfrentar o desafio.

Tarifaço miliciano - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Bucha de canhão na guerra de Trump contra o Brasil, filho 03 complica a sua vida e a do papai

Nem se Lula implorasse de joelhos, os Estados Unidos desistiriam. Ao atacar o Brasil, Trump desmentiu todos os clichês de comportamento que lhe são atribuídos. Não foi impulsivo, instável, desequilibrado. Agiu como um frio ditador que não volta atrás na sua palavra.

Desde a carta cafajeste de julho, a Casa Branca fechou as portas para qualquer tipo de negociação, gesto diplomático ou pragmático. Ao contrário do que ocorreu com outros países tarifados —até com a China. Como se fossem os EUA a nação agredida e não o contrário. A história do "telefona ou não telefona" nunca fez sentido.

O fim do liberalismo e a tensão atual - Marcus Pestana

O capitalismo produziu inédito e notável incremento das forças produtivas. Inicialmente, a partir da coordenação dos diversos Estados Nacionais, nos séculos XIX e XX.  A produtividade foi crescente e refletia a capacidade de inovação ilimitada. Nos primeiros dois séculos de consolidação da economia de mercado, os interesses nacionais criaram barreiras à expansão econômica. As potências hegemônicas sempre propugnaram a liberdade máxima para encontrar consumidores para sua produção em explosivo crescimento. Liberdade de circulação de mercadorias e capitais, e, às vezes, da força de trabalho.

Os países de desenvolvimento retardatário e tardio se defendiam através de estratégias protecionistas e indução estatal de seu desenvolvimento nacional. O Brasil é um exemplo clássico de capitalismo tardio construído através de um processo de industrialização por substituição de importações, com forte participação estatal e fechamento da economia. A disputa entre interesses nacionais motivou as duas grandes guerras mundiais e, posteriormente, a Guerra Fria.

Onde estão as adultas e os adultos? – por Ricardo Marinho

Entre nós quando se fala da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estamos nos referindo principalmente ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que avalia o desempenho de estudantes de 15 anos em leitura, matemática e ciências. Nada se fala sobre o Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS) que é a maior pesquisa internacional sobre professores e líderes escolares. Tampouco se sabe do Estudo Internacional de Aprendizagem e Bem-Estar Infantil (IELS) onde se pesquisa internacionalmente que busca avaliar crianças de 5 anos que frequentam espaços Educacionais e Cuidados na Primeira Infância. Ele mede a alfabetização emergente, a numeracia emergente, a empatia e a confiança no comportamento pró-social. E por fim outras duas pesquisas: a Pesquisa sobre Habilidades Sociais e Emocionais (SSES) que identifica e avalia as condições e práticas que favorecem e/ou dificultam o desenvolvimento de competências sociais e emocionais para alunas e alunos de 10 e 15 anos; e, o Programa Internacional de Avaliação de Competências de Adultos (PIAAC), que mede a proficiência dos adultos em alfabetização, letramento matemático e resolução de problemas. Sobre essa última é que vamos refletir.

Joaquim Cardozo - Circuito da Poesia do Recife

 

Marisa Monte - Beija Eu