sábado, 2 de agosto de 2025

O candidato Tarcísio e o teste do pato - Thaís Oyama

O Globo

Governador é cético quanto à chance de ser ungido candidato único da direita pelos partidos do Centrão

Tarcísio de Freitas não fala como candidato à Presidência, não anda como candidato à Presidência, não se comporta como candidato à Presidência. Hoje, Tarcísio de Freitas não é candidato à Presidência. É a conclusão a que chega quem quer que converse sobre o assunto com ele e seu mentor político, o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Até junho, Kassab dizia que sua sigla estava pronta para apoiar o governador de São Paulo, do Republicanos, se ele decidisse disputar o Planalto. A título de ressalva, lembrava que o PSD também tinha candidatos próprios a oferecer. Agora, Kassab inverteu a ordem dos fatores.

— Nosso jogo está feito — afirma a interlocutores.

O PSD tem seu nome para 2026 — ele é o governador do Paraná, Ratinho Junior, e já está em campanha. Só a interromperá, diz o dirigente, se Tarcísio se animar a concorrer. Ou em razão de uma segunda hipótese, como se verá adiante.

Antes, o desânimo de Tarcísio.

O governador se ressentiu das críticas que recebeu de parcelas do empresariado, mercado financeiro e imprensa por ter almoçado com Jair Bolsonaro no dia seguinte ao anúncio do tarifaço de Donald Trump. Se o establishment não gostou do que considerou um alinhamento excessivo do governador com um ex-presidente prestes a ser condenado por golpismo, Tarcísio tampouco apreciou o que tomou como uma decepcionante volatilidade de setores que reputava seus apoiadores.

— Um dia estão com você, no seguinte te abandonam — reclamou para os íntimos.

Não foi sua única lição amarga no tarifaço. Tarcísio sempre temeu dar adeus a uma reeleição praticamente garantida em São Paulo para entrar na disputa presidencial refém do apoio incerto de Bolsonaro. Mas, depois da série de petardos que recebeu de Eduardo Bolsonaro por excluir da negociação do tarifaço a anistia a Jair, entendeu que numa eventual corrida ao Planalto terá não um, mas vários bolsonaros em seu caminho. Some-se a isso o fundamentado ceticismo do governador quanto à chance de ser ungido candidato único da direita pelos partidos do Centrão, e entende-se por que ele não se comporta como um postulante à Presidência. Entende-se também por que fariam melhor os entusiastas de sua candidatura em se lembrar do teste do pato — aquele que diz que, para ser pato, é preciso se parecer com um, andar como um e grasnar como um.

Sem Tarcísio no páreo e com Bolsonaro inelegível, a eleição de 2026 poderá ser de vários contra um. Os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo) já se colocaram no jogo. O PL deverá apresentar um nome. E o PSD só não irá com Ratinho se, além da hipótese de Tarcísio concorrer, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, se mostrar eleitoralmente mais viável. Kassab não aposta nisso. Internamente, repete que 2026 “tem mais a cara do Ratinho”, com quem o eleitor conservador e antipetista teria maior afinidade. Nesse engarrafamento da oposição, quem fizer mais de 20% dos votos vai ao segundo turno contra Lula, vaticina o dirigente.

Pesquisa da Quaest publicada no GLOBO no domingo mostrou que somam 10% do eleitorado os segmentos decisivos nessa eleição. O principal é representado pelo brasileiro da classe C, morador das periferias, pouco ideológico e sem apego à carteira assinada, dado que ganha mais guiando Uber ou importando capas de celular para vender no Mercado Livre. Em 2018, votou em Bolsonaro; em 2022, em Lula. Em 2026, poderá dar a vitória a quem olhá-lo mais de perto. Não à toa, o governo Lula prepara para ele um pacote sob medida: ampliação do vale-gás, linhas de crédito para reforma de casas e financiamento para trocas de veículos, motos incluídas — sem falar no fundamental projeto de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Diante da esperada sangria dos cofres, agora potencializada pelo socorro a empresas e trabalhadores afetados pelo tarifaço, o mercado já não discute se a meta fiscal será alterada, mas quando. No Brasil, quanto mais apertada a eleição, mais o governo afrouxa o cinto. O PT indica que não fugirá à regra.

 

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