O Globo
Governador é cético quanto à
chance de ser ungido candidato único da direita pelos partidos do Centrão
Tarcísio de Freitas não fala
como candidato à Presidência, não anda como candidato à Presidência, não se
comporta como candidato à Presidência. Hoje, Tarcísio de Freitas não é
candidato à Presidência. É a conclusão a que chega quem quer que converse sobre
o assunto com ele e seu mentor político, o presidente do PSD,
Gilberto Kassab. Até junho, Kassab dizia que sua sigla estava pronta para
apoiar o governador de São Paulo, do Republicanos, se ele decidisse disputar o
Planalto. A título de ressalva, lembrava que o PSD também tinha candidatos
próprios a oferecer. Agora, Kassab inverteu a ordem dos fatores.
— Nosso jogo está feito — afirma a interlocutores.
O PSD tem seu nome para 2026
— ele é o governador do Paraná, Ratinho Junior, e já está em campanha. Só a
interromperá, diz o dirigente, se Tarcísio se animar a concorrer. Ou em razão
de uma segunda hipótese, como se verá adiante.
Antes, o desânimo de
Tarcísio.
O governador se ressentiu
das críticas que recebeu de parcelas do empresariado, mercado financeiro e
imprensa por ter almoçado com Jair Bolsonaro no dia seguinte ao anúncio do
tarifaço de Donald
Trump. Se o establishment não gostou do que considerou um alinhamento
excessivo do governador com um ex-presidente prestes a ser condenado por
golpismo, Tarcísio tampouco apreciou o que tomou como uma decepcionante
volatilidade de setores que reputava seus apoiadores.
— Um dia estão com você, no
seguinte te abandonam — reclamou para os íntimos.
Não foi sua única lição
amarga no tarifaço. Tarcísio sempre temeu dar adeus a uma reeleição
praticamente garantida em São Paulo para entrar na disputa presidencial refém
do apoio incerto de Bolsonaro. Mas, depois da série de petardos que recebeu
de Eduardo
Bolsonaro por excluir da negociação do tarifaço a anistia a Jair,
entendeu que numa eventual corrida ao Planalto terá não um, mas vários
bolsonaros em seu caminho. Some-se a isso o fundamentado ceticismo do
governador quanto à chance de ser ungido candidato único da direita pelos
partidos do Centrão, e entende-se por que ele não se comporta como um
postulante à Presidência. Entende-se também por que fariam melhor os
entusiastas de sua candidatura em se lembrar do teste do pato — aquele que diz
que, para ser pato, é preciso se parecer com um, andar como um e grasnar como
um.
Sem Tarcísio no páreo e com
Bolsonaro inelegível, a eleição de 2026 poderá ser de vários contra um. Os
governadores Ronaldo
Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo)
já se colocaram no jogo. O PL deverá apresentar um nome. E o PSD só não irá com
Ratinho se, além da hipótese de Tarcísio concorrer, Eduardo
Leite, governador do Rio Grande
do Sul, se mostrar eleitoralmente mais viável. Kassab não aposta nisso.
Internamente, repete que 2026 “tem mais a cara do Ratinho”, com quem o eleitor
conservador e antipetista teria maior afinidade. Nesse engarrafamento da
oposição, quem fizer mais de 20% dos votos vai ao segundo turno contra Lula,
vaticina o dirigente.
Pesquisa da Quaest publicada
no GLOBO no domingo mostrou que somam 10% do eleitorado os segmentos decisivos
nessa eleição. O principal é representado pelo brasileiro da classe C, morador
das periferias, pouco ideológico e sem apego à carteira assinada, dado que
ganha mais guiando Uber ou
importando capas de celular para vender no Mercado Livre. Em 2018, votou em
Bolsonaro; em 2022, em Lula. Em 2026, poderá dar a vitória a quem olhá-lo mais
de perto. Não à toa, o governo Lula prepara para ele um pacote sob medida:
ampliação do vale-gás, linhas de crédito para reforma de casas e financiamento
para trocas de veículos, motos incluídas — sem falar no fundamental projeto de
isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Diante da esperada sangria
dos cofres, agora potencializada pelo socorro a empresas e trabalhadores
afetados pelo tarifaço, o mercado já não discute se a meta fiscal será
alterada, mas quando. No Brasil, quanto mais apertada a eleição, mais o governo
afrouxa o cinto. O PT indica
que não fugirá à regra.
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