quinta-feira, 17 de julho de 2025

A pergunta de Trump - William Waack

O Estado de S. Paulo

O presidente americano expôs um Brasil vulnerável e sem estratégia

O sonolento Brasil foi sacudido em seu berço esplêndido, mas o pesadelo mal começou. A brutal pressão desencadeada por Donald Trump tem aspectos específicos intratáveis, como a imposição de tarifas para interferir na política doméstica. Simplesmente inaceitável.

Ainda mais preocupante, porém, é a exposição do grau de vulnerabilidade geopolítica de um país tão grande e, do ponto de vista geográfico, tão afastado do principal eixo de conflito. O fato de o Brasil estar encurralado e com poucas opções vem do fato de que pensamento estratégico, planejamento e defesa nacional nunca ocuparam lugar central no debate político.

Além de sempre acabar sendo um grande problema quando em matéria de relações externas, dirigentes políticos dão prioridade ao simbolismo em vez de estratégias articuladas. É o que está acontecendo agora. “Defesa da soberania” virou um jargão de marketing de um governo apegado a frases de efeito desprovidas de ações de efeito prático (que ele nem sabe quais seriam eventualmente).

Boquirrotos irresponsáveis como Lula e Bolsonaro têm cada um a seu modo uma boa dose de “culpa” na delicada situação que o País enfrenta agora, embora a trombada fosse bastante previsível (não era isso o que se queria, especialmente nos arredores de Lula, o fim da “pax americana”?). Mas a questão principal é uma falha de elites políticas e econômicas.

Meio século atrás ainda se discutia a ideia (furada ou não é outra questão) de um “Brasil potência”, e a Guerra Fria obrigava a se examinar qual lado (ou nenhum lado) se deveria escolher. Pode ser que a globalização, o boom das commodities e o “fim da história” (o triunfo de um sistema), coincidindo com redemocratização, tenham moldado essa modorrenta mentalidade nacional de que o mundo lá fora é distante e pouco nos afeta.

O fato que a brutalidade trumpista expõe é a ausência de um “projeto nacional” ou sequer de impulsos para discutir esse tipo de coisa. É agora que se conhecem os efeitos negativos de posições ideológicas afastadas do interesse nacional, como foi o caso da política externa de Lula desde seu primeiro mandato. Ou quando um mandatário como Bolsonaro resume seu pensamento na frase “eu amo Trump”.

Deixada entregue a si mesma, a notável estagnação na política brasileira – e seu “consórcio” para governar – parecia imutável. A sacudida proporcionada por Trump não vai mudar o comportamento do STF, ajuda, mas não salva o governo Lula de sua profunda mediocridade, não tira Bolsonaro da cadeia nem resolve nossa questão fiscal.

Mas está nos obrigando a perguntar, de verdade, que país é este.

 

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