O Estado de S. Paulo
O presidente americano expôs um Brasil
vulnerável e sem estratégia
O sonolento Brasil foi sacudido em seu berço
esplêndido, mas o pesadelo mal começou. A brutal pressão desencadeada por
Donald Trump tem aspectos específicos intratáveis, como a imposição de tarifas
para interferir na política doméstica. Simplesmente inaceitável.
Ainda mais preocupante, porém, é a exposição do grau de vulnerabilidade geopolítica de um país tão grande e, do ponto de vista geográfico, tão afastado do principal eixo de conflito. O fato de o Brasil estar encurralado e com poucas opções vem do fato de que pensamento estratégico, planejamento e defesa nacional nunca ocuparam lugar central no debate político.
Além de sempre acabar sendo um grande
problema quando em matéria de relações externas, dirigentes políticos dão
prioridade ao simbolismo em vez de estratégias articuladas. É o que está
acontecendo agora. “Defesa da soberania” virou um jargão de marketing de um
governo apegado a frases de efeito desprovidas de ações de efeito prático (que
ele nem sabe quais seriam eventualmente).
Boquirrotos irresponsáveis como Lula e
Bolsonaro têm cada um a seu modo uma boa dose de “culpa” na delicada situação
que o País enfrenta agora, embora a trombada fosse bastante previsível (não era
isso o que se queria, especialmente nos arredores de Lula, o fim da “pax
americana”?). Mas a questão principal é uma falha de elites políticas e
econômicas.
Meio século atrás ainda se discutia a ideia
(furada ou não é outra questão) de um “Brasil potência”, e a Guerra Fria
obrigava a se examinar qual lado (ou nenhum lado) se deveria escolher. Pode ser
que a globalização, o boom das commodities e o “fim da história” (o triunfo de
um sistema), coincidindo com redemocratização, tenham moldado essa modorrenta
mentalidade nacional de que o mundo lá fora é distante e pouco nos afeta.
O fato que a brutalidade trumpista expõe é a
ausência de um “projeto nacional” ou sequer de impulsos para discutir esse tipo
de coisa. É agora que se conhecem os efeitos negativos de posições ideológicas
afastadas do interesse nacional, como foi o caso da política externa de Lula
desde seu primeiro mandato. Ou quando um mandatário como Bolsonaro resume seu
pensamento na frase “eu amo Trump”.
Deixada entregue a si mesma, a notável
estagnação na política brasileira – e seu “consórcio” para governar – parecia
imutável. A sacudida proporcionada por Trump não vai mudar o comportamento do
STF, ajuda, mas não salva o governo Lula de sua profunda mediocridade, não tira
Bolsonaro da cadeia nem resolve nossa questão fiscal.
Mas está nos obrigando a perguntar, de
verdade, que país é este.
Nenhum comentário:
Postar um comentário