quinta-feira, 17 de julho de 2025

Congresso quer os lobos cuidando das galinhas do agro - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Ignoram-se os riscos ambientais como se o planeta esquecesse destes riscos e não voltasse para cobrar a conta

Se aprovado, o principal impacto do PL do Licenciamento, em pauta nesta semana na Câmara dos Deputados, será impor ao agronegócio e à mineração do país o selo de devastação. Aprovado, consumidores nacionais e estrangeiros que adquirirem nossas commodities deverão saber que estão consumindo junto com nossa carne, café, suco de laranja, aço e outros uma boa quantidade de devastação e anistia para toda sorte de ilícitos ambientais cujo lobby convenceu o Congresso.

Fora as razões de proteção ao meio ambiente e de segurança jurídica que atestam contra o PL 2.159/2021, há outra razão instrumental: impor ao agro e à mineração a pecha de devastadores é um tiro no pé de dois pilares da economia nacional. Às vésperas da votação, o deputado federal Zé Vitor (PL-MG) voltou a incluir a mineração no projeto de lei, dando base legal para que o setor se valha do licenciamento ambiental para inglês ver apadrinhado pelo presidente do Senado, ou seja, para que a extração no país ocorra sem que sejam sequer avaliados os riscos.

Com o PL da Devastação, o que o Congresso Nacional quer é inserir no texto da lei o reino da ignorância: ignoram-se os riscos ambientais como se o planeta esquecesse destes riscos e não voltasse para cobrar a conta. Se a devastação continuar —como o PL deve impulsionar na mata atlântica— os serviços ambientais de que o agro usufruiu (coisas nada dispensáveis, como a chuva) podem se tornar mais rarefeitos e logo impactar a produção. Em 2024, a seca ultrapassou 150 dias e ameaçou a qualidade do café produzido no país.

Sob a justificativa de flexibilizar regras, o Congresso faz o contrário: esvazia processos de licenciamento e o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), trazendo ainda mais insegurança jurídica para investidores com uma miríade de novas regras municipais e estaduais que surgirão em decorrência. O que o Congresso quer é que os lobos cuidem das galinhas do agro, com riscos ambientais ignorados, regras menos claras a commodities menos atrativas ao mercado global.

 

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