O
novo time de Bolsonaro havia esquecido que o Supremo tinha um novo presidente
Nada
como um dia depois do outro. Até o final de setembro, as articulações dos novos
aliados de Bolsonaro contra a Lava-Jato andavam de vento em popa. A indicação
de Kassio Marques para a vaga de Celso de Mello era o ponto alto do
entendimento entre o centrão, o Planalto e alguns ministros do Supremo Tribunal
Federal. O presidente afastava, pelo menos provisoriamente, a ideia de nomear
um nome terrivelmente evangélico ou um advogado despreparado para o posto, o
tribunal seguia na sua solene altivez, e o centrão ganhava um ministro que
ajudaria a torpedear a saga punitivista, engordando a ala garantista da Segunda
Turma do STF. Aí chegou o Fux.
O
novo time de Bolsonaro havia esquecido que o Supremo tinha um novo presidente.
Acostumado com a simpatia e a amizade de Dias Toffoli, batia bola como se nada
houvera. Foi um erro. O mundo estava diferente. E esta é a beleza da
rotatividade no comando do STF. Se Toffoli fosse presidente vitalício, como
funciona na Suprema Corte dos Estados Unidos, Bolsonaro nadaria de braçada.
Mas, não, por aqui o sabiá muda de cantiga a cada dois anos. E o canto da vez é
o de Luiz Fux, que reagiu à manobra do capitão com outra manobra, e tirou poder
da Segunda Turma sobre a Lava-Jato.
Sem
entrar no mérito de quem tem razão, se os garantistas ou os punitivistas, é
fato que se Bolsonaro e o centrão estão de um lado, tudo indica que o outro
lado é melhor. Se o lado de Bolsonaro e do centrão também tiver a simpatia do
PT de Lula, mais forte fica esta convicção. Foi o que se viu com a indicação de
Kassio Marques. O festival de elogios ao magistrado não teve qualquer contenção
partidária. O PT sentiu-se à vontade para falar bem alegando que o indicado já
havia sido conduzido para o TRF pela ex-presidente Dilma. Mas é mais do que
isto, além de tentar enterrar a Lava-Jato, Kassio provavelmente se somará aos
que querem punir e desautorizar Sergio Moro, anulando a sentença de Lula no
caso do tríplex do Guarujá.
O
ex-sumido senador Renan Calheiros também entrou no circuito ao lado de
Bolsonaro, do centrão e do PT de Lula, reforçando a tese de que o outro lado é
melhor. Há três semanas, Renan recebeu Lula num hospital de São Paulo, onde se
convalescia de uma cirurgia. “Vou vingar o senhor, presidente”, disse Renan ao
visitante. Dias depois, saiu do hospital e voltou a operar com toda a
desenvoltura que o distingue. Junto com seu ex-desafeto, o presidente do Senado
Davi Alcolumbre, Renan organizou a paz entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia;
ajudou a consolidar a vida de Bolsonaro no STF; está azeitando o caminho de
Kassio no Senado e incentivando a punição a Moro.
Renan
trabalha por Lula, com o seu aval, e por Bolsonaro, com o OK do presidente. Foi
para atender ao capitão que ele acionou a senadora Kátia Abreu, a organizadora
do jantar que reuniu Guedes e Rodrigo. E para contemplar também o petista,
Renan se uniu a Alcolumbre em favor do rito rápido na aprovação do garantista
Kassio e da votação para a suspeição de Moro. Se depender de Renan e dos novos
aliados de Bolsonaro, a maquiagem do currículo do indicado não o impedirá de
ser aprovado pelo Senado. Com isso, ganham centrão, Bolsonaro e Lula. E ganha o
reinserido Renan.
Não
foram poucas, como se vê, as articulações que reuniram sob o mesmo guarda-chuva
Bolsonaro, Lula, Renan, Gilmar, Toffoli, Alcolumbre e o centrão. Não importa a
força e o poder que um grupo desse possa ter, o problema é que sempre há um
outro lado. E de dois em dois anos a fila anda.
Transparência
Pode-se
falar tudo de Dias Toffoli, menos que não seja transparente. Tem o currículo
que tem e não se acanha. Não inventou mestrados, doutorados ou pós-docs.
Sabe-se que lecionou numa universidade meia boca de Brasília e nunca escondeu
que tentou ser juiz e foi
reprovado em dois concursos. Ele é o que é. E ponto final.
Grande
negócio
Sabe
qual o melhor investimento hoje no Brasil? Esqueça Bolsa, dólar ou fundos de
investimento. Na Justiça é que a grana rola. Qualquer sentença judicial que
envolva pagamento em dinheiro, rende 1%
ao mês se a parte condenada recorrer da decisão. Assim,
quando uma pessoa ou empresa é sentenciada e recorre, a dívida vai sendo
ajustada mensalmente até a sentença em instância derradeira. Se o caso tramitar
por mais de dez anos e a decisão final confirmar a sentença inicial, o devedor
deverá pagar juro de 1% ao mês por todo o período. Numa simulação feita pelo TJ
do Rio, uma dívida de R$ 10 milhões vai pagar R$ 20,6 milhões só de juros.
Somam-se a isso a correção monetária e os honorários advocatícios, e a facada
final chega a R$ 42,1 milhões.
Esfarrapadas
A
cordialidade entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia, quando fizeram as pazes
publicamente, deve ser vista com muita atenção para se saber quem mesmo se
desculpou com o outro. Na entrevista do perdão, Rodrigo disse com os olhos marejados fitando
Guedes: “Eu fui grosseiro e pedi desculpas”. Na sua vez, Guedes foi muito menos inflamado: “Caso
tenha ofendido alguém inadvertidamente, peço desculpas”. Claro que Paulo Guedes
não se desculpou. Na verdade, nem acha que ofendeu Rodrigo Maia ao desautorizar
membros da sua equipe a se reunir com o presidente da Câmara.
Huck
Bobeou
Tucanos
da nova geração de São Paulo acham que Luciano Huck perdeu uma grande chance de
testar sua capacidade eleitoral e ganhar corpo para uma disputa presidencial
mais adiante. Huck poderia ter se candidatado à prefeitura do Rio, dizem os
tucanos, com grande chance de
ganhar. Partido não lhe faltaria, e o PSDB chegou a
sondá-lo neste sentido. Se ganhasse, estaria se qualificando para 2022, além de
obter experiência na administração pública. Se perdesse, aprenderia a jogar, o
que lhe daria um pouco mais de segurança para o pleito seguinte.
Lema
Para
os que vivem se lamentando pela vitória de Bolsonaro, vale a pena lembrar o
lema americano de convivência democrática: “Vote, eleja, aguente, aprenda”. Nos Estados
Unidos, a máxima está em vigor desde a eleição de Donald Trump, em 2016. Os
americanos votaram, elegeram e depois aguentaram, resta saber se aprenderam.
Aqui no Brasil, vai-se saber se houve algum aprendizado desde Bolsonaro já nas
eleições municipais.
Agulha
no palheiro
Um
mil e 800 candidatos de 33 partidos se apresentam para concorrer a um mandato
de vereador na Câmara do Rio. Tem todo tipo de gente. Tem doutor, tem cabo,
sargento e tenente, tem
corretor, bombeiro e pastor. Tem até um que se apresenta
como “advogado de Deus”. O eleitor terá de vasculhar para encontrar agulhas
neste palheiro. Mas com esforço e determinação, vai encontrar candidato que
presta. Não desanime, nobre eleitor.
Serial
killer
É
incalculável o número de vidas ceifadas pelo negacionismo de Donald Trump em
relação ao coronavírus. Mas tem gente calculando quantas pessoas ele matou nos
últimos cinco dias, desde que tuitou que as pessoas têm de enfrentar o vírus
sem medo e tirou a máscara em cadeia de TV ao voltar para a Casa Branca depois
de sua internação.
Reza
o contrato
A
gigante Pinterest, uma rede social de compartilhamento de fotos, pagou US$ 90
milhões a uma empresa imobiliária para desfazer contrato de leasing de um
prédio de 46,5 mil metros quadrados em São Francisco. Com a pandemia, a empresa
aprendeu que dá para
manter muita gente em casa e seguir suas operações a
custos bem mais baixos. O detalhe curioso é que o prédio ainda nem foi
construído.
Que
susto
Certo
dia um senador que atende pelo apelido de Vulcabras foi a São Paulo receber uma
propina de um empresário local. Chegou ao escritório da empresa, contou o
dinheiro e levantou-se para sair, quando o empresário lhe ofereceu um carro
blindado para levá-lo ao aeroporto. No meio do caminho para Cumbica, o veículo
parou por falta de gasolina. Em dois minutos uma patrulhinha da PM estacionou
ao lado do carrão. O senador, que achou que tinham armado contra ele, se
identificou com os policiais e pediu ajuda. Pois não, excelência. Os
PMs então empurraram o carro blindado e pesado, que carregava um senador com
uma mala cheia de dinheiro, até um posto de gasolina.
Dinos
do Planalto
A Christie’s leiloou na terça passada em Londres o esqueleto de um Tiranossauro Rex. Conseguiu oferta final de US$ 31,8 milhões (R$ 177,2 milhões) pelos restos da fera do período cretáceo. Se viesse garimpar em Brasília, a leiloeira levantaria uma fortuna.
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