Quem
acredita que vai dar tempo para erguer um novo programa social até o fim de
novembro?
Para tudo! O presidente Jair Bolsonaro decretou que até as eleições “não se fala mais nisso daí”. O isso daí são as medidas que precisarão ser tomadas para solucionar um problema que está estampado numa reportagem do Estadão desta semana: o fim do auxílio emergencial deve devolver 15 milhões de brasileiros à pobreza no próximo ano. A previsão foi feita pela FGV Social em levantamento coordenado pelo economista Marcelo Neri, que constata: é cristalino que isso vai acontecer.
Para
“varrer o PT do Nordeste”, na expressão de um auxiliar
do governo, o presidente e aliados promoveram a prorrogação do auxílio
emergencial até dezembro. Mas agora é hora dos aliados ganharem a eleição.
Todos
contam com a falta de tempo para a solução do problema para empurrá-lo para
2021 quando o cenário político poderá ser outro com um rearranjo de forças.
Quando a eleição acabar (o segundo turno está marcado para o dia 29 de
novembro), quem acredita que até lá vai dar tempo para erguer o novo programa
social? No Palácio do Planalto,
espertamente, já se fala em mudanças por meio de dois programas: Renda Cidadã e Renda Brasil.
É
por isso que não há confusão de nomes quando o ministro Paulo Guedes prefere usar Renda
Brasil ao se referir ao programa social. Muitos viram no uso do nome mais
antigo falha ou esquecimento do ministro. Foi proposital.
O
Renda Brasil é o programa que a sua equipe trabalha e que estaria tecnicamente
pronto, só faltando a coragem dos políticos para fazê-lo. Uma reformulação de
27 programas já existentes. Ao longo da semana, o ministro repetiu esse ponto
várias vezes como quem diz: prestem atenção! Não foi confusão.
O
Renda Cidadã pode se transformar na ponte até o Renda Brasil. Um Bolsa Família melhorado até que o
Renda Brasil chegue mais adiante. Esse, sim, o programa-plataforma para
reeleição de Bolsonaro.
Com
o impasse do que cortar e a pressão do mercado para manter o teto, essa
estratégia pode dar um pouco mais de fôlego para a equipe econômica conseguir
apoio às medidas de corte de despesas e, assim, colocar o programa social
dentro dos limites do teto.
Diante
da urgência que o momento exige com a proximidade do fim do auxílio, porém,
ganha força no Congresso a proposta de deixar os
recursos extras do novo programa social (além dos R$ 35 bilhões já previstos
no Orçamento de
2021) fora do teto de gastos. Uma exceção temporária até que o Congresso aprove
medidas de ajuste mais duras e que não têm tempo de avançar até o fim do ano.
Para mostrar compromisso com austeridade fiscal mesmo com essa flexibilização
do teto de gastos, os recursos do programa fora do teto seriam compensados com
aumento da carga tributária, corte de renúncias fiscais ou outras medidas que
melhorem a arrecadação.
Funcionaria
com um benefício variável temporário para superação da crise com um valor
próximo aos R$ 300 dessa terceira e última rodada do auxílio. A vantagem para
quem defende a ideia é que essa despesa adicional poderia fugir do conceito de
despesa de caráter continuado e permanente, de acordo com a Lei de
Responsabilidade Fiscal, exigindo um nível de redução para
fins de compensação orçamentária menor.
Esse
tipo de saída vai na direção proposta pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. Em artigo publicado
pelo Estadão, FHC sugere que o governo poderia mexer na
regra fiscal para, ao mesmo tempo, abrir espaço orçamentário para o gasto e não
provocar uma reação muito negativa do mercado. Uma saída organizado desse tipo
para o impasse atual ainda encontra resistência dos defensores puristas do teto
de gastos no mercado, governo e Congresso, entre eles Paulo Guedes e o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Maia
e Guedes se alinharam na defesa do teto de gastos sem mudanças, que ajudou a
diminuir o nervosismo, mas não tirou do radar as incertezas fiscais, que estão
colocando o País à beira de uma crise da dívida na sequência da provocada pela
pandemia da covid-19.
Políticos e até mesmo economistas experientes do mercado já viram que esse caminho está cada vez mais próximo. A dúvida é saber qual imposto vai subir ou isenção acabar. Se Maia começar a aceitar, vai ser a senha para a mudança. Quando novembro chegar e a eleição acabar, a pressa de dar uma solução deve levar à essa mudança de rota.
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