sexta-feira, 21 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Unanimidade em manter juros dissipa dúvidas sobre BC

O Globo

Decisão endossada por todo o Copom — inclusive pelos diretores indicados por Lula —traz alívio para o futuro

Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de queda da taxa básica de juros. Depois de sete cortes seguidos, a Selic ficou imóvel em 10,5% ao ano. A decisão de manter os juros em patamar alto é sempre custosa, mas a autoridade responsável por combater a inflação não tinha opção melhor. Diante da alta do dólar e das incertezas internas, era a hora de uma política mais restritiva. Senão, seria muito mais difícil depois.

A unanimidade fortaleceu a credibilidade do BC, que, na véspera da reunião do Copom, voltara a ser alvo de ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À investida de Lula contra a autoridade monetária — uma tentativa indevida de interferir na definição dos juros —, somava-se o resultado da reunião de maio, quando os quatro integrantes do comitê indicados no atual governo votaram por um corte de 0,5 ponto percentual, mas acabaram vencidos pelos demais cinco votos a favor de um corte de 0,25.

Ruy Castro - O novo planeta Portugal

Folha de S. Paulo

Quem vibra com Portugal hoje não o imagina o país triste e atrasado de apenas 50 anos atrás

Leitores habituados a ir a Portugal nos últimos tempos e a se encantar com a vida e a euforia de suas cidades parecem acreditar que sempre foi assim. Daí estranharem quando o classifiquei outro dia ("Desmemória coletiva") de ser, antes do dia 25 de abril de 1974, o país "mais triste e atrasado da Europa". "Como assim?", perguntaram. "Que milagre aconteceu nesses 50 anos?" É uma resposta que deixo aos economistas. Só posso descrever como era naquele tempo —porque eu estava lá.

Era o país dos homens de cinza e das mulheres de preto, em permanente luto por uma vida sem expectativas. Uma ditadura de 48 anos dependente da receita colonial e fascista. A polícia política por toda parte. Ninguém era estimulado a investir, a se arriscar. O analfabetismo batia os 60%. O congelamento dos táxis e dos aluguéis, de décadas, dizia tudo —os carros e os imóveis caíam de velhos, assim como o país.

Bruno Boghossian - Lula estica a queda de braço

Folha de S. Paulo

Disputa obriga presidente a enfrentar flutuação amarga no mercado a cada declaração

Depois da briga com o Banco CentralLula esticou sua queda de braço. Primeiro, deu uma entrevista em que atribuiu a manutenção da taxa de juros aos interesses de especuladores e do "sistema financeiro". Depois, durante um evento, disse que vê os ricos "mamarem naquilo que o povo paga de Imposto de Renda".

O choque com a elite econômica e o mercado financeiro é uma página conhecida da cartilha do presidente. Ainda assim, o petista reconheceu a voltagem daquelas declarações: "As pessoas podem dizer: 'Mas o Lula está radical'. Eu não estou radical. Eu estou apenas tentando contar uma história para vocês".

Vinicius Torres Freire - Onde está o imposto que Lula quer tirar de ricos para dar a pobres

Folha de S. Paulo

Presidente descobre valor brutal da isenção de tributos, que cresceram nos anos petistas

Ministros disseram que Luiz Inácio Lula da Silva ficou "mal impressionado" ao saber na segunda-feira do tanto de imposto que se deixa de pagar no país, os de repente famosos "gastos tributários", isenções de tributos para cidadãos, empresas e outras instituições.

Na previsão da Receita Federal, o valor do gasto tributário neste ano deve ser de R$ 524 bilhões. É o equivalente a mais de um quinto da arrecadação bruta do governo federal e a 4,59% do PIB.

É brutal. Durante a campanha e na elaboração do programa de governo, em 2022, ninguém havia relembrado a Lula o tamanho do problema? Até aqui, quando discutia imposto com ministros, não se tratava do assunto?

Luiz Carlos Azedo - Toffoli embanana julgamento do porte de maconha

Correio Braziliense

Presidente do Supremo, Barroso fez questão de esclarecer que o STF considera, “tal como a legislação em vigor”, que o porte e consumo pessoal de drogas são atos ilícitos

Quando parecia que o Supremo Tribunal Federal (STF) caminhava para descriminalizar o porte de maconha para consumo pessoal, pois o julgamento estava 5 a 3, o ministro Dias Toffoli embananou a decisão da Corte, com seu voto para manter o porte de drogas como um crime, depois de uma longa intervenção, que parecia seguir na direção contrária. O julgamento agora está 5 a 4. Ainda não votaram os ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia, que decidirão a questão.

Pelo voto de Toffoli, as punições ao usuário continuam valendo e permanecem socioeducativas, mas não há prisão. Entretanto, basta mais um voto para formar maioria e transformar o ato em ilícito administrativo, com sanções mais leves e na esfera administrativa, não penal. O julgamento foi provocado pela Defensoria Pública de São Paulo, que recorreu da condenação de um jovem que portava 2,5 gramas de maconha. Caso prevaleça a tese que considera o porte de drogas um ilícito administrativo, a prestação de serviços, por exemplo, deve cair. O ministro Flávio Dino não vota porque Rosa Weber já votou nesse julgamento, antes de se aposentar.

José de Souza Martins - A culpa é da vítima?

Valor Econômico

Fixar em 22 semanas de gestação o limite para a realização legal do aborto não leva em conta nossas peculiaridades sociais e antropológicas

A eventual aprovação pela Câmara dos Deputados do PL 1904/2024, que define como homicídio o aborto praticado em vítima de estupro após 22 meses de gestação, mesmo sendo ela vulnerável, poderá introduzir na legislação penal brasileira o subentendido e a aberração de que em determinados tipos de violência, como o estupro, a culpa é da vítima que a sofre.

Grandes manifestações de rua, majoritariamente de mulheres, ocorreram nestes dias em cidades, como São Paulo (na avenida Paulista, superando multidões de ajuntamentos ali comuns), Natal e Porto Alegre. Os milhares de participantes manifestavam-se contra a aprovação do regime de urgência para o encaminhamento do projeto de lei.

Maria Cristina Fernandes - Governadores que miram a vitrine eleitoral na segurança resistirão

Valor Econômico

Lula aguarda a proposta de Ricardo Lewandowski para discuti-la com os ministros que governaram Estados

A proposta de emenda constitucional destinada a constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública chegou, finalmente, à antessala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo menos foi isso que ele deu a entender em entrevista à rádio “Verdinha” nesta quinta-feira, ao dizer que aguarda a proposta do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para discuti-la com os ministros que foram governadores.

A PEC foi empurrada pela pressão da opinião pública por respostas do governo federal à escalada do crime organizado. Como a segurança pública é, por determinação constitucional, uma atribuição dos Estados, a proposta teria por objetivo dotar a União de instrumentos para endereçar soluções ao tema.

César Felício - Sucessão na Câmara volta a passar pelo Orçamento

Valor Econômico

Custo político para se construir uma candidatura vitoriosa às presidências das Casas subiu muito

O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino marcou no calendário uma data importante para a escolha das futuras Mesas Diretoras da Câmara e do Senado: no dia 1º de agosto está convocada uma audiência de conciliação para se discutir o orçamento secreto, que, como o gato de Schrodinger, é presumido vivo e morto ao mesmo tempo. Só abrindo a caixa do experimento, com a exposição a ser feita por representantes dos deputados, senadores, TCU e do governo se saberá se a cápsula radioativa da decisão do STF de dezembro de 2022, que acabou com as emendas de relator, matou ou não o gato.

Nas palavras de Dino: “Até o presente momento, não houve a comprovação cabal nos autos do pleno cumprimento dessa ordem judicial.” Deixaram de existir as RP 9, jargão técnico que denominava as antigas emendas de relator, duto sem transparência de recursos para indicações das cúpulas da Câmara e do Senado. Dino deixa no ar a possibilidade de que o diabo tenha muitos nomes. “A mera mudança de nomenclatura não constitucionaliza uma prática classificada como inconstitucional pelo STF, qual seja, a do ‘orçamento secreto’”, escreve o ministro. Cita as RP 2 (despesas discricionárias dos ministérios), RP 8 (emendas de comissões do Congresso) e “emendas pizza”. Atenção para a expressão “emendas pizza”, tecnicamente inexistente e até então não mencionada publicamente. O ministro não explicou o que quis dizer. Uma das características da pizza é ter fatias iguais.

Fernando Gabeira - Briga orçamentária: o papel da plateia

O Estado de S. Paulo

Na mesma semana em que descobre o volume de subsídios, o governo comemora a aprovação do Projeto Mover, que prevê subsídios de R$ 19 bilhões à indústria automobilística

O dinheiro vai dar ou não vai? A mesma pergunta que o homem comum faz no seu cotidiano, os governos, às vezes, têm de levantar a respeito do seu destino. A diferença fundamental é que o homem comum não consegue imprimir dinheiro, e o recurso inflacionário, portanto, está fora de seu alcance.

Ainda assim, é possível que esse longo debate sobre as contas do governo chegue à opinião pública, desde que alguns dos debatedores se disponham a traduzi-lo em termos.

Eliane Cantanhêde - Política de ocupação

O Estado de S. Paulo

O olho gordo de Lula sobre Banco Central e Petrobras é o famoso ‘tiro no pé’

O presidente Lula patrocinou uma cena que simboliza a ocupação da Petrobras, ao ir à posse de Magda Chambriard com a primeira-dama, sete ministros e presidentes de bancos estatais, exatamente quando aprofunda a investida sobre o Banco Central, seu atual presidente e sua autonomia, conquistada por consenso e comemorada depois de muitos anos de debates.

O que significa? Que Lula se acha “dono” de estatais e bancos públicos? Na posse, ele fez loas à estatização e reduziu a Lava Jato a uma ação para o “desmonte da Petrobras”, enquanto a nova presidente da companhia – a oitava em oito anos – dizia que está “totalmente alinhada” com Lula e vai manter firme a exploração de combustíveis fósseis, justificando: “O petróleo vai financiar a transição energética”. É polêmico...

Celso Ming - Lula quer outro Banco Central

O Estado de S. Paulo

Às vezes, especialmente quando desfere seus ataques, o presidente Lula mostra que desconhece as funções institucionais do Banco Central (BC).

Quando, por exemplo, afirma, como afirmou na última terça-feira em entrevista à Rádio CBN, que o BC tem de afinar sua política de juros com a política fiscal e com a meta de crescimento, ignora que a principal função do BC é usar seu único instrumento de que dispõe, sua política de juros (monetária) para conduzir a inflação para a meta, que é fixada pelo governo – e não pelos diretores do Copom.

Vera Magalhães - A fábula de Lula sobre a Petrobrás e Copom

O Globo

Mecanismos como a autonomia do Banco Central e a Lei das Estatais são salvaguardas para as instituições

Um dos maiores malefícios da polarização ao debate público, sobretudo em economia, é promover a infantilização dos argumentos.

Lula sempre curtiu uma metáfora. Quanto mais literal e de fácil compreensão, melhor, casamento e futebol à frente como temas preferidos. No terceiro mandato, no entanto, mudou a retórica para a construção de fábulas sobre o papel dos agentes públicos e econômicos e, pior, das instituições numa luta entre o bem (justiça social) e o mal (cobrança por responsabilidade fiscal).

Nada mais deletério para a compreensão dos problemas, bem mais complexos que essa simplificação eterna, e para que ele próprio consiga expandir seu círculo de apoios e atrair os tão propugnados investimentos para o Brasil.

Bernardo Mello Franco - A missão de Magda

O Globo

A nova presidente da Petrobras assumiu com juras de obediência. Ao tomar posse, Magda Chambriard prometeu uma gestão “totalmente alinhada” ao governo. “A missão que recebi foi movimentar a Petrobras, porque ela impulsiona o PIB”, afirmou.

O presidente pegou o avião para prestigiar a pupila. Arrastou na comitiva a primeira-dama, sete ministros e três presidentes de bancos públicos. “Como Deus existe, eu estou aqui”, congratulou-se. A julgar pelos discursos, os dois estão mesmo alinhados. Ela agradeceu a confiança do “nosso presidente”. Ele se derramou em elogios à “querida companheira”.

Além de trocar confetes, Lula e Magda defenderam ideias parecidas. Acenaram com mais investimentos, mais gasodutos, mais refinarias. Prometeram a retomada da indústria naval, da produção de fertilizantes e do apoio à cultura.

Rogério F. Werneck - Estabilização como consenso

O Globo

A condução coerente da política macroeconômica deve ser tratada como um valor suprapartidário

“30 anos do Real: crônicas no calor do momento” é o título do novo livro de Gustavo Franco, Edmar Bacha e Pedro Malan, publicado pela Intrínseca, em que analisam a economia brasileira nas últimas décadas, da perspectiva do Plano Real e do programa de estabilização que a ele se seguiu.

Por reunir artigos escritos a cada comemoração do Plano nos últimos 30 anos, não é bem do Real que o livro primordialmente trata, mas da política econômica dos governos que se seguiram aos dois mandatos de FHC.

Há um fio condutor claro. O foco é no esforço de décadas, ainda inconcluso, de consolidação da estabilização macroeconômica como um valor consensual, suprapartidário, enraizado no conjunto de valores compartilhados pelas principais forças políticas do país, estejam no governo ou na oposição. Enraizado no que no mundo anglo-saxão se denomina common ground.

O que de melhor aqui posso fazer, para salientar a importância do livro, é ressaltar o quanto o país pôde avançar nesse esforço, desde seu momento mais dramático, na campanha presidencial de 2002, que os autores apenas tangenciam.

André Roncaglia - Mercado aperta o cerco sobre o governo Lula

Folha de S. Paulo

A Faria Lima vem cobrando sucessivos pedágios pela governabilidade

Venho alertando, desde o ano passado, que Campos Neto ameaçaria a credibilidade do Banco Central se atuasse como central sindical do rentismo. Depois de espalhar pânico no mercado com suas manifestações públicas antes da reunião do Copom de maio, ele esticou a corda ao aceitar ser ministro da Fazenda em um hipotético governo Tarcísio de Freitas; agora pôs-se a espalhar informações catastróficas sobre a situação do governo.

Encurralado pelas ações desse quinta-coluna, o Copom precisou demonstrar unanimidade na parcimônia monetária, interrompendo os cortes da Selic, a qual não deve baixar de 10,5% até 2025. A despeito da incerteza no cenário externo, havia espaço seguro para cortes, pelo menos até 9%, como mostrou meu colega Bráulio Borges em artigo recente para o Ibre-FGV.

Marcus Cremonese - Um cacique intocável na aldeia de McLuhan

Conforme largamente noticiado pela mídia internacional, no sábado, 13 de abril deste ano, numa crise aguda de esquizofrenia, um australiano matou seis pessoas e feriu outras doze, usando uma faca, num shopping centre de Sydney. Ao avançar em direção a uma policial que tentou detê-lo, ele foi abatido por ela com um tiro.

Sobre este episódio, escrevi o artigo "Uma Faca e a Liberdade de Expressão", publicado na semana seguinte pelo Observatório da Imprensa. Meu enfoque foi o tratamento dado ao fato não só pela mídia, mas especialmente pelas redes sociais.

Cerca de uma hora após o evento, o subcomissário da polícia do Estado informou que não havia nenhuma evidência nem indício de que o ocorrido tivesse sido um ato de terrorismo. No entanto, este não foi o enfoque dado ao caso por dezenas de canais. No X, um influencer postou para seus quase um milhão de seguidores "a primeira foto do terrorista que matou algumas pessoas em Sydney". E continuou: "Ele esfaqueou numa área de judeus bem próxima a um restaurante israelense”. Ou ainda, na Inglaterra, a âncora de um noticiário de TV noticiou para seu meio milhão de seguidores, também no X: "... outro ataque de terror por outro terrorista islâmico".

Guto Rodrigues - Chico Buarque faz 80 anos!

(Manaus, 19/6/2024)

Acordei, lembrando dos 80 anos do Chico Buarque, ontem Betânia fez aniversário, Enne ouviu Yaya Massemba de Roberto Mendes e Capinam, ecoando a voz de Betânia, em casa: "VOU APRENDER A LER PRA ENSINAR MEUS CAMARADAS".

Veio na lembrança a discussão de dezembro de 1971, com meus amigos, todos jovens. Falei que construção o LP, lançado por Chico, com arranjos de Rogério Duprat, era a maior obra da Música Popular Brasileira, uma parte contra, argumentou defendo Detalhes de Roberto Carlos, também de 1971. 

Um amigo saiu em defesa, disse que Detalhes era uma música medíocre. Houve quem vaticinasse que Chico no futuro, nem seria lembrado. Um tempo de transição, Roberto Carlos deixa jovem guarda assume músicas mais melosas e religiosas, salvo em algumas, pela rebeldia de Erasmo. 

Chico deixa o terno do Tom, e, já na capa de Construção, veste uma camisa estilo, gayabeira cubana, e puxa o cordão da luta contra a Ditadura, "Apesar de Você, Cálice, Deus lhe Pague. E, na derrota da ditadura, cantamos com Chico: "vai passar nesta Avenida um samba popular", na derrota recente do fascismo cantamos " que tal um samba".

Não, não se cumpriu o prognósticodos amigos alienados de 1971, Chico Buarque, 80 anos, ídolo eterno!

Poesia | Sempre, de Pablo Neruda

 

Música | Teresa Cristina - Tristeza pé no chão

 

quinta-feira, 20 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Legislação sobre pesquisa eleitoral é um equívoco

O Globo

Falta lastro científico e sobra oportunismo à proposta que tramita no Senado

O Projeto de Lei do novo Código Eleitoral que tramita no Senado prevê a divulgação de pesquisas de intenção de voto acompanhadas de um insólito “indicador de confiabilidade”, elaborado pela Justiça Eleitoral. Trata-se da mais nova versão da “taxa de acerto” sugerida por parlamentares às vésperas da última eleição, em 2022. Como naquela época, a proposta atual também é descabida.

Pesquisas eleitorais não são prognósticos. São retratos de um momento e devem ser analisadas levando em conta as leis estatísticas que regem levantamentos por amostragem. Dentro de condições ideais de coleta da amostra, elas garantem que o resultado reflete a realidade de certa população com determinada probabilidade, dentro de uma margem de erro. Por definição, não têm como “acertar” ou “errar” o que acontecerá no dia da eleição. Intenção de voto é uma coisa. Outra, bem diferente, é o comportamento na urna.

Merval Pereira - A quem representam?

O Globo

O que marca mesmo as decisões no Congresso são interesses pessoais dos deputados e senadores, acima das ideologias. São raros os parlamentares que mantêm sua posição apesar da pressão de grupos, os “formadores de opinião”, que se elegem por nichos de eleitores

Cada vez mais desconfio de que o Congresso não representa, necessariamente, a vontade do eleitor médio brasileiro, como alegam quando se aponta alguma barbaridade maquinada nos bastidores por Suas Excelências. A começar pelos métodos que foram incorporados nas campanhas eleitorais. Candidatos só entram em algumas regiões, no Brasil todo, se tiverem proteção de milicianos e facções criminosas. Esses votos já estão contaminados. Mulheres e minorias são manipuladas pelas direções partidárias, que controlam quem tem acesso a financiamento público. Acordos políticos na surdina comprometem votos por interesses pessoais.

Maria Hermínia Tavares - Juntos contra a barbárie

Folha de S. Paulo

Sociedade freia PL Antiaborto por Estupro e mostra que pode barrar obscurantismo da direita extremada

Em boa hora, fracassou a tentativa do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), patrocinada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de acelerar a votação do projeto de lei 1904/24, que equipara o aborto a homicídio quando completadas 22 semanas de gestação.

Autor da desumana proposta, o parlamentar bolsonarista viu no pedido de urgência uma forma de constranger o presidente Lula —"testar o governo", confessou com todas as letras— valendo-se de um tema espinhoso como poucos. Lira, por sua vez, imaginou uma oportunidade de assegurar o apoio da bancada evangélica para eleger seu sucessor no ano que vem.

Luiz Carlos Azedo - "Brasileiro, profissão esperança" continua em cartaz

Correio Braziliense

"A posição ambígua do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao equilíbrio fiscal ajuda a tecer o arco de oposição ao governo, que inclui parcela expressiva da classe média e a maioria do empresariado"

O musical Brasileiro, profissão: esperança foi uma lufada de ar fresco no ambiente carregado dos anos de chumbo do regime militar. Desde então, o espetáculo criado por Paulo Pontes, talentoso e jovem dramaturgo, foi encenado várias vezes, em versões com Maria Bethânia e Ítalo Rossi (1971), Clara Nunes e Paulo Gracindo (1973) e Bibi Ferreira, viúva de Paulo Pontes, e Gracindo Jr. (1998). A mais recente foi a de Claudia Netto e Claudio Botelho, no Teatro Clara Nunes, em 2021, que comemorou os 50 anos do espetáculo.

O texto de Paulo Pontes e as canções de Dolores Duran e Antônio Maria resgataram um Brasil que parecia definitivamente perdido nos anos 1970, incerto e inseguro, mas cheio de esperança ao mesmo tempo. O espetáculo revelou um aspecto, digamos, antropológico da vida do brasileiro, cuja recidiva ocorre com frequência: acreditar que a vida pode melhorar, em qualquer contexto.

Bruno Boghossian - Moraes viu o chifre de um cavalo

Folha de S. Paulo

Ministro desvirtuou doutrina sobre remoção de conteúdo e recuou para evitar novo tiro no pé

Alexandre de Moraes atirou no chifre da cabeça de um cavalo. Ao derrubar reportagens sobre acusações de agressão feitas pela ex-mulher de Arthur Lira, o ministro do STF afirmou que era preciso interromper a propagação de "discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática".

O material censurado incluía vídeos e textos em que Jullyene Lins dizia ter sido agredida e ameaçada. Descontada a irritação que as declarações devem causar ao presidente da Câmara, é preciso ter fé em unicórnios para afirmar que ali há discurso de ódio, subversão da ordem e quebra da normalidade democrática.

Malu Gaspar - A tomada da Petrobras

O Globo

A cerimônia de posse de Magda Chambriard na presidência da Petrobras, ontem, foi um show de simbolismo. Do local escolhido, o suntuoso centro de pesquisas da empresa, à presença de sete ministros na plateia e aos discursos ufanistas, tudo foi programado para passar a mensagem de que o governo finalmente tomou conta da petroleira.

Pelos discursos de Lula e Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, parecia até que não existiu a gestão Jean Paul Prates, o CEO que saiu humilhado depois de um ano e meio no cargo e de uma disputa de poder feroz com Silveira e seu colega da Casa CivilRui Costa.

Não chega a ser surpreendente. Lula e os ministros viviam se queixando de que Prates não fazia o que queriam. Só não dá para garantir que temos motivos para celebrar.

Geraldo Alckmin - O Brasil de volta ao mundo

O Globo

Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível confere densidade ao relacionamento com o nosso maior parceiro comercial

Desde o começo de seu mandato, o presidente Lula vem se dedicando ao exercício da diplomacia presidencial. A exemplo de seus governos anteriores, sua postura ativa e altiva na condução de nossa política externa tem se traduzido em ganhos concretos para o Brasil, tanto na reconstrução de suas credenciais, no estabelecimento de parcerias, como na captação de recursos financeiros. Em apoio à atuação presidencial, a Vice-Presidência da República tem também buscado contribuir para esse esforço.

Nos dias 4, 5, 6 e 7 de junho, realizamos uma importante missão a Pequim, por ocasião da VII Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban). Estabelecida em 2004, no primeiro mandato do presidente Lula, a comissão é copresidida pelos vice-presidentes de Brasil e China, sendo nosso mecanismo de diálogo e cooperação mais abrangente. Dividida em 11 subcomissões, que cobrem grande número de temas, como agricultura, comércio e tecnologia, a Cosban confere densidade, eficiência e continuidade ao relacionamento do Brasil com nosso maior parceiro comercial.

Maria Cristina Fernandes - Copom sela capitulação ao ajuste rumo a 2026

Valor Econômico

Decisão demonstra, no limite, um BC que discorda de Lula sobre as perspectivas da inflação

Tratada no PT como uma traição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a decisão unânime pela manutenção da taxa de juro mantém Gabriel Galípolo na linha sucessória para a presidência do Banco Central. Se discordasse, poderia perder a credibilidade para assumir o cargo. Votando a favor, só perderá pontos para ser indicado se Lula quiser dar razão a quem o acusa de querer interferir no BC.

Tratada no mercado como uma derrota do presidente, que fez duras críticas à política monetária e tem quatro indicados na atual diretoria, a decisão do Copom demonstra, no limite, um BC que discorda de Lula sobre as perspectivas da inflação. A unanimidade, por afastar o risco de interferência, pode acabar, paradoxalmente, afetando positivamente as expectativas se for acompanhada de um pacote exequível de novas receitas e corte de despesas.

Míriam Leitão - A unanimidade no Copom diminui a crise

O Globo          

A decisão ajuda a distensionar. Mas o país precisa parar de criar problemas para si. Bastam os desafios que temos

Foi mais importante ter sido unânime a decisão de ontem do Copom do que os juros terem ficado em 10,5%. A unanimidade afastou temores de uma diretoria dividida e de que a próxima administração do Banco Central será leniente com a inflação. Quem acompanha o dia a dia da política monetária sabe que ninguém seria irresponsável com a questão inflacionária, mas em economia a percepção afeta os indicadores, mesmo que seja errada a visão dos agentes econômicos.

No seu comunicado o Banco Central repete o alerta de sempre sobre política fiscal e diz que monitora como afeta o desenvolvimento da política monetária e os ativos. Disse que o ambiente externo está incerto e acompanha o cenário doméstico em que a economia cresce, as projeções de inflação aumentam e as expectativas estão desancoradas. Não deu muito ideia do que virá pela frente, a não ser as palavras de praxe. O comunicado é encerrado com a afirmação que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Vinicius Torres Freire - BC faz feijão com arroz e ignora Lula

Folha de S. Paulo

Decisão unânime de manter a Selic pode ser o começo de uma contraofensiva contra o tumulto

A direção do Banco Central tomou a tal decisão unânime de manter a Selic em 10,5%. Se baixasse a taxa básica de juros ou votasse dividida, teria puxado o pino de uma granada amarrada na testa, que explodiria nesta quinta-feira e por semanas a seguir.

As supostas alas "campista" e "lulista" querem acalmar o tumulto. Se assim não for, o próximo presidente do BC, a ser nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vai assumir o cargo com uma situação ingovernável.

Fazendo o arroz com feijão ora inevitável, BC e governo podem organizar uma contraofensiva. Se o supremo senhor do dinheiro, o BC dos EUA, também ajudar, talvez até dê para talhar a Selic neste ano.

No momento, o mais importante é induzir uma baixa de taxas de juros mais longas no mercado e tirar o dólar do patamar de combustível para a inflação.

William Waack - Os juros sou eu

O Estado de S. Paulo

Sem controlar o imbróglio político, Lula perde autoridade

No discurso na posse da nova presidente da Petrobras e na entrevista que deu para emparedar o Banco Central o presidente Lula se apresentou como uma espécie de Luís XIV (aquele rei francês de “o Estado sou eu”) da economia brasileira. Depois da decisão unânime do BC em manter inalterada a taxa Selic, Lula ficou sendo “os juros sou eu”.

O monarca francês de fato mandava, mas Lula ainda não encontrou a rota para superar dois conhecidos problemas que o tornam impotente. Um deles é a alteração da relação de forças entre Legislativo e Executivo. O outro é o peso da questão das contas públicas.

Alvaro Gribel - Banco Central unido supera a pressão

O Estado de S. Paulo

Dúvida é se Lula será capaz de compreender que o resultado da reunião não é ruim

A decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em 10,5% ao ano na noite de ontem é menos importante do que o sinal dado pelos nove diretores que compõem o Comitê de Política Monetária (Copom). A votação unânime mostrou que o colegiado conseguiu superar o racha da última reunião, em maio, e, mais do que isso: suportar a forte pressão política que vinha do Palácio do Planalto pela continuidade da queda dos juros.

Especialmente o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, demonstrou independência em relação ao governo e sugeriu que uma possível indicação à presidência do BC no final do ano não significará subordinação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em outras palavras, Galípolo ganhou credibilidade, e isso levará a juros mais baixos para o País, a partir do ano que vem, caso sua indicação se confirme.

Celso Ming - Pressões de Lula não dobram o Copom

O Estado de S. Paulo

Esta foi a primeira vez que o resultado da reunião do Copom foi recebido em confronto direto com o feroz ataque do presidente da República ao presidente do Banco Central (BC) e aos “juros altos demais”.

Tão importante quanto a decisão desta quarta-feira, de manter os juros básicos (Selic) nos 10,5% ao ano, foi a unanimidade da decisão, o que inclui os quatro diretores conduzidos ao BC pelo presidente Lula, que lá estariam supostamente para quebrar a ortodoxia com que vem sendo executada a política de juros.

Felipe Salto - Carta de Lula para Lula

O Estado de S. Paulo

A História precisa ser lembrada para que se evitem erros conhecidos e para que experiências exitosas subsidiem o bom enfrentamento de problemas repetidos

“Nosso governo vai preservar o superávit primário o quanto for necessário, de maneira a não permitir que ocorra um aumento da dívida interna em relação ao PIB, o que poderia destruir a confiança na capacidade do governo de cumprir seus compromissos.”

Extraído do programa de governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, a pedido do ministro da Fazenda, Pedro Malan, durante as eleições presidenciais de 2002, esse texto cairia muito bem ao Lula de 2024.

Em seu livro Eles Não São Loucos: Bastidores da Transição Presidencial FHC-Lula, editado em 2022 pela Portfolio-Penguin, o jornalista João Borges conta que, em 2002, Malan determinou a assessores que selecionassem manifestações de todos os candidatos para submeter ao FMI e ao Tesouro americano.

A desconfiança ameaçava macular o período final da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. O dólar chegou a valer R$ 4, o pico de uma escalada preocupante (para o período), com efeitos sobre a inflação interna. Era impositivo buscar uma transição tranquila e acalmar os ânimos dos financiadores externos. Afinal, a dívida pública externa era grande.

Roberto Macedo - O plano do governador Tarcísio

O Estado de S. Paulo

Do ‘São Paulo na Direção Certa’ pode ser entendido que, nas circunstâncias atuais, na direção errada estaria o governo federal

Conforme este jornal noticiou no dia 23 do mês passado, o governador paulista, Tarcísio de Freitas, anunciou que adotará neste ano um plano intitulado “São Paulo na Direção Certa”. Segundo a reportagem, plano esse com “uma série de medidas com o objetivo de cortar despesas na máquina pública, melhorar o ambiente de negócios em São Paulo e aumentar os investimentos. Uma das ações com maior potencial é a revisão de benefícios fiscais concedidos a empresas, que, segundo o governador, pode aumentar a arrecadação em R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões por ano”.

Ruy Castro - Lugares de sonho ou de pesadelo

Folha de S. Paulo

O perigo é quando, ao acordar do pesadelo, descobrimos que não estávamos dormindo

Quem não sonhou, um dia, com um lugar perfeito? Como a ilha dos Prazeres, perto da Toscânia, em que as crianças não precisam estudar nem lavar atrás das orelhas. Foi aonde levaram Pinóquio. Ou a ilha do Tesouro, na costa do México, onde, em 1754, o corsário inglês Flint enterrou uma arca com 700 mil libras. Ou a Terra do Nunca, onde os garotos, como Peter Pan, não crescem e não se tornam adultos. Pena que esses lugares só existam na fantasia de seus criadores, respectivamente Carlo Collodi, Robert Louis Stevenson e James M. Barrie. Aqui, no nosso quintal, os equivalentes seriam a Pasárgada de Manuel Bandeira, a Maracangalha de Dorival Caymmi ou a Platiplanto de José J. Veiga.

Cora Rónai - O debate abortado

O Globo

O Congresso é apenas espelho da sociedade. Somos um país retrógrado, perverso, hipócrita e misógino. O Brasil é um desgosto que não passa

Em 2009, o arcebispo de Olinda e Recife excomungou os médicos que fizeram o aborto de uma menina de 9 anos (9!) que havia sido estuprada pelo padrasto. O arcebispo não só não excomungou o padrasto, como ainda fez questão de dizer que o aborto era um crime pior do que o estupro. Houve uma enxurrada de artigos horrorizados na imprensa, e eu, otimista que era, achei que alguma coisa poderia mudar no país.

“Minha esperança é que esse tiro funesto saia pela culatra”, escrevi. “A discussão sobre o aborto, que a Igreja insiste em abafar sempre que vem à tona, voltou reforçada. Já não era sem tempo. A criminalização do aborto é uma das maiores violências institucionais contra as mulheres, especialmente as menos favorecidas, que por vezes se veem vítimas de procedimentos tão primitivos quanto a mente do arcebispo de Olinda e Recife.”

Poesia | O Pai, de Pablo Neruda

 

Música | Chico Buarque - Bancarrota Blues

 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Juros altos sufocam a economia e as contas públicas

Correio Braziliense

O que também se espera é que o governo mensure a eficiência dos seus gastos para encontrar espaço para cortar, mostrando, assim, empenho em buscar o equilíbrio fiscal

Taxas de juros altas sufocam a economia, forçando a redução do consumo e inibindo os investimentos. Pesam ainda sobre as contas públicas, praticamente fazendo com que a dívida pública cresça, uma vez que o prêmio que o governo paga para rolar seus títulos é maior do que a margem de aumento da arrecadação. Com a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 3,93% em 12 meses e as projeções do mercado financeiro indicando que a taxa feche o ano em 3,9%, não seria surpresa se o Comitê de Política Monetária (Copom) fizesse, hoje, um novo corte de 0,25 ponto percentual, até para confirmar sua autonomia em relação ao governo e ao mercado financeiro, que aposta na manutenção da taxa em 10,5%.

Vera Magalhães - O ‘timing’ triplamente infeliz da fala de Lula

O Globo

Além de ser contraproducente para forçar queda de juros, entrevista do presidente antecipa sucessão presidencial

O conteúdo e o tom da altamente noticiosa entrevista de Lula à rádio CBN foram bastante questionáveis, mas o timing da fala presidencial também foi infeliz por pelo menos três razões. O conjunto da obra mostra que o governo precisa de ajustes também na comunicação, além de na economia e na articulação política.

Já escrevi em meu blog no GLOBO a respeito de como, ao voltar a mirar no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Lula reedita uma estratégia de 2023 que tem menos capacidade de surtir efeito agora que há um ano.

A decisão do Copom a respeito da taxa básica de juros sairá hoje, e, se tiverem algum efeito, os ataques de Lula ao presidente do BC unirão o colegiado naquela que já era a decisão mais esperada pelo mercado: a manutenção da Selic em 10,5%.

Nas últimas semanas já havia uma espécie de consenso de que a reunião de junho não repetiria a divisão exatamente meio a meio da diretoria: de um lado os indicados de Lula; de outro, os remanescentes indicados por Jair Bolsonaro.