domingo, 30 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Espírito do Plano Real é inspiração para outros desafios

O Globo

Derrota da hiperinflação mostra que soluções de problemas aparentemente intratáveis estão ao alcance do Brasil

O aniversário de 30 anos do Plano Real, amanhã, prova que o Brasil, quando unido em torno de uma meta, tem plena capacidade de superar a realidade mais adversa. A comemoração desmente a crença derrotista, popular em alguns círculos, de que os avanços por aqui são de pouca monta. Um exame do passado ensina que o maior dos problemas pode ser vencido se houver clareza de propósito e determinação. É preciso resgatar o espírito que animou o Real para encarar os desafios do futuro, independentemente da dificuldade que aparentem. Seu maior legado é comprovar o poder das ideias e da perseverança.

A nova moeda entrou em circulação em 1º de julho de 1994. Nos 12 meses anteriores, a inflação alcançara inacreditáveis 4.922%. Para as novas gerações, o número — mais de mil vezes o atual — pode soar abstrato. Na época, era bem concreto. A maioria dos assalariados, sem a proteção das aplicações financeiras, corria aos supermercados depois de receber, pois comida e itens básicos estariam mais caros no dia seguinte. Estocar alimentos era uma espécie de poupança. Passado o dia de pagamento, os varejistas ficavam vazios.

Merval Pereira - A voz do povo

O Globo

Em seu primeiro mandato, Lula teve o bom senso de dar continuidade à política de equilíbrio fiscal iniciada no governo FH e teve sucesso

Um dos maiores legados do Plano Real, trinta anos depois, foi fazer com que a sociedade compreendesse a importância do controle da inflação. O plano só deu certo porque a população já não aguentava mais viver sob a hiperinflação, e aceitou todas as mudanças, inclusive aprendeu a lógica da URV - Unidade Real de Valor -, ponto crucial para a implementação do plano.

O país viveu muitos anos sem entender que a desvalorização da moeda prejudicava o dia a dia da população, e por isso os governadores usavam e abusavam de seu poder para ganhar eleições. Ficou famoso o comentário atribuído ao então governador de São Paulo Orestes Quércia, ao eleger Luiz Antonio Fleury Filho seu sucessor no governo de São Paulo em 1990: “Quebrei o banco, mas elegi meu sucessor”.

Referia-se ao Banespa, um dos mais potentes bancos públicos do país, que Quércia utilizou para financiar obras na campanha para governador. Com o Plano Real, todos os bancos estaduais foram privatizados, mais uma das ações para consolidar o combate da inflação, pois, praticamente sem exceção, os bancos estaduais eram usados para ações políticas, especialmente em vésperas de eleição.

Esse detalhe de um vasto plano econômico demonstra que a sociedade em geral não ligava para os efeitos desses gastos públicos nas campanhas eleitorais, pois não entendiam que aqueles “investimentos” a longo prazo teriam como contrapartida o aumento da inflação, voltando-se contra ela.

Luiz Carlos Azedo - Para não sucumbir, Lula precisa adaptar-se à nova realidade

Correio Braziliense

Joe Biden, aos 81 anos, após perder o debate com Trump, resiste às pressões para desistir da reeleição. Repete o roteiro dos que não querem se retirar antes de o sol se pôr

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa hoje 546 dias de governo, 34 dias a menos do que o período em que esteve preso em Curitiba. São, portanto, 78 semanas, quase 18 meses e pouco menos do que um ano e meio de poder. Ao contrário de seus governos anteriores, divide o protagonismo político da nação com um Congresso conservador, que muitas vezes lhe dá uma invertida; um ex-presidente capaz de lhe fazer oposição de massas, o que antes era uma quase exclusividade do petismo; e governadores adversários — em São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR); Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e Paraná, Ratinho Jr. (PSD).

Eliane Cantanhêde - O corte de gastos é para valer?

O Estado de S. Paulo

Das cinco medidas de Haddad e Tebet, sobra uma, a que não tem a ver com corte nem gasto

Além de descumprir uma regra elementar de política externa, ao apoiar Joe Biden contra Donald Trump e correr o risco de trazer problemas para o Brasil, o presidente Lula está desmontando, uma a uma, as medidas dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet para cortar gastos. Das cinco, sobra uma, exatamente a que não caracteriza corte nem gastos, só combate a fraudes, que deveria ser mera rotina.

Se Lula de fato aprovou a lista em reunião com os ministros, como anunciado, ele disse uma coisa em privado e está fazendo outra em público. Ou... é tudo um jogo de cena, em que os ministros assumem medidas impopulares, dando a Lula a chance de vetá-las. Eles levantam a bola, Lula corta, a torcida aplaude. O foco continua sendo na receita, os gastos ficam pra lá.

Elio Gaspari - A PF e o MP no teste das Americanas

O Globo

É nas duas instituições que se depositam as esperanças de que a maior fraude corporativa da história seja exposta ao público

Houve algo de teatral na operação da Polícia Federal (PF) para trazer de volta à vitrine o escândalo da rede varejista Americanas. Depois do vexame da Comissão Parlamentar de Inquérito, que não identificou responsáveis por um calote de R$ 47,9 bilhões, é nela e no Ministério Público que se depositam as esperanças de que a maior fraude corporativa da história de Pindorama seja exposta ao público. É coisa de R$ 25,2 bilhões.

Na sua expressão mais simples, já se sabe o seguinte:

1) Miguel Gutierrez, o CEO da Americanas por mais de uma década, tinha uma sala exclusiva no prédio da empresa, onde só ele entrava. A partir de julho de 2022, quando soube que seria substituído no comando da empresa, começou a transferir bens para parentes e vendeu ações da Americanas no valor de R$ 171,8 milhões. Com nacionalidade espanhola, Gutierrez deixou o Brasil em 2023. Na semana passada foi expedido um mandado de prisão contra o doutor.

Dorrit Harazim - O naufrágio?

O Globo

Pelo futuro dos Estados Unidos, presidente não deveria correr o risco de eleger Donald Trump

Faltam dois meses até a convenção nacional do Partido Democrata, marcada para os próximos dias 19 a 22 de agosto, em Chicago. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vencedor das arrastadas eleições primárias em que foi praticamente candidato único, aguardava apenas a consagração formal. A participação da escritora e líder espiritual Marianne Williamson foi efêmera, entrou em colapso na largada. E a tentativa do congressista pelo estado de Minnesota Dean Phillips, de 55 anos, para se manter no páreo chegou a ser considerada insolente pelos caciques do partido.

Tudo mudou ao longo dos 90 minutos de agonia e choque, na noite de quinta-feira, quando 47,9 milhões de telespectadores assistiram a um presidente dos Estados Unidos de esgar opaco, aspecto confuso e vulnerável, em busca de um raciocínio perdido. O naufrágio de Biden no primeiro debate com o oponente republicano, Donald Trump, sacudiu os democratas de alto a baixo. As primeiras horas após a debacle foram de “barata-voa”.

Bernardo Mello Franco - Apagão de Biden

O Globo

Debate escancarou fragilidade de democrata para milhões de eleitores americanos

O debate ainda não contava dez minutos quando Joe Biden sofreu o primeiro apagão. Questionado sobre o déficit público, o presidente tentou articular um raciocínio sobre impostos e o sistema de saúde. No meio da fala, cerrou os olhos, baixou a cabeça e pareceu esquecer o que queria dizer.

A desorientação se repetiu outras vezes ao longo do duelo televisivo. Com olhar perdido, Biden se enrolou com as palavras, teve lapsos de memória, deixou frases pela metade. Donald Trump tripudiou da situação e desafiou o rival a fazer um teste cognitivo. “Eu realmente não sei o que ele disse no fim da última frase. E acho que ele também não sabe”, debochou.

Vinicius Torres Freire - Derrotas de Macron são mais um capítulo do fracasso do centro liberal

Folha de S. Paulo

Presidente da França queria reduzir esquerda e direita a extremos minoritários

A ultradireita deve ter perto de 37% dos votos no primeiro turno da eleição legislativa da França, neste domingo. A coalizão de esquerda, ecologistas e centro-esquerda teria 29%. A coalizão de centro, liderada pelo presidente da República, Emmanuel Macron, ficaria com 20%. O que restou da centro-direita, 7%. É o que diziam pesquisas (Ifop, Ipsos).

Suponha-se que viesse a ser essa a composição da Assembleia Nacional, o que é bem incerto, dado o sistema eleitoral. Seria o resultado, em parte, do fracasso político de Macron.

Seria também mais um capítulo dos fracassos de público dos partidos de centro. Isto é, dessa convergência de centro-esquerda e centro-direita no centrismo liberal-tecnocrático, evidente desde os anos 1990 no mundo rico.

Macron teria de chamar a ultradireita para formar um governo minoritário, a Reunião Nacional, de Marine Le Pen. Apenas por milagre haveria aliança do "Juntos" de Macron com a salada da esquerda (socialistas, ecologistas e "França Insubmissa", esquerdona tradicional, majoritária nessa coalizão).

Míriam Leitão - O Plano Real e a democracia

O Globo

Um fio liga as duas maiores conquistas brasileiras: o real é obra da democracia e ajudou a consolidar a democracia

Persio Arida sempre diz que o Plano Real foi obra da democracia. Há um fio que liga as duas conquistas. A estabilização também consolidou a democracia. Vivíamos o caos monetário e se aquela devastação continuasse o país perderia a confiança nos governos civis. O próprio plano, ao ser explicado antecipadamente por Fernando Henrique e, depois, por Rubens Ricupero, virou uma obra coletiva. Não haveria sucesso do plano sem o povo. Conceitos complexos foram entendidos pela população. FHC chamou isso de pedagogia democrática.

A alta dos índices de preços ficou maior na democracia. Saiu do patamar das centenas para o de milhares por cento. Contudo, a gênese daquele horror econômico ocorreu na ditadura que escolheu, através da correção monetária, conviver com inimigo tão perigoso. Havia ainda a humilhante dívida externa também herdada dos militares. A destruição de valores que a hiperinflação produz, num país desigual, demoliria a confiança na democracia nascente. Seria fácil prosperar o discurso autoritário.

Roberto Luis Troster - 40 anos do real

Correio Braziliense

O correto seria falar do processo do real, e de 40 anos em vez de 30. A bem da verdade, começou em 1984, com a publicação do trabalho conhecido como proposta Larida, de Pérsio Arida e André Lara Resende

Mais do que plano, o correto seria falar do processo do real, e de 40 anos em vez de 30. A bem da verdade, começou em 1984, com a publicação do trabalho conhecido como proposta Larida, de Pérsio Arida e André Lara Resende, e teve como última medida a publicação do decreto presidencial oficializando a meta de inflação contínua em 3%, na quarta-feira passada, 26 de junho de 2024.

Não foi uma ideia mágica que fez a mudança. Foi um trabalho que combinou teoria econômica, habilidade política, aprendizado com os erros e criatividade. Além da proposta Larida, que inspirou o Plano Real, houve um processo de aprendizado com o Plano Cruzado, em 1986, depois o Plano Bresser, o Plano Verão, o Plano Collor I e o Plano Collor II. Todos fracassaram em acabar com a inflação, mas deixaram ensinamentos para a formulação do Plano Real.

Aloizio Mercadante - O Real não foi só um plano econômico

Folha de S. Paulo

Programa teve êxito contra a inflação, mas não garantiu a retomada do crescimento

Plano Real teve sucesso em acabar com a alta inflação, diminuindo o grau de indexação da economia brasileira. A Unidade Real de Valor (URV) permitiu a saída de forma criativa e organizada da alta inflação inercial, sem congelamento de preços. Outro elemento crucial foi a renegociação e a securitização da dívida externa pelo Plano Brady.

Na preparação do Real, o governo renegociou a dívida externa velha, abriu a conta de capitais e elevou brutalmente o juro real, para evitar fuga de capitais domésticos e atrair capital de curto prazo, o que viabilizou a transição da URV para o Real.

A valorização inicial do câmbio foi essencial para a rápida redução da inflação, mas trouxe um alto custo: o início da era de elevados juros reais. De 1994 a 1999, a taxa básica média de juro real foi de 22% ao ano.

Para atrair recursos externos e promover o ajuste fiscal, o governo liquidou ativos estatais por preços reduzidos, sem o planejamento de uma política industrial e sem avaliação estratégica dos desdobramentos.

Depois de 30 anos, a história mostra que o Plano Real teve êxito ao reduzir a inflação, mas não em garantir a estabilidade macroeconômica e a retomada do crescimento. Para reeleger FHC, a âncora cambial foi prorrogada, com a apreciação do câmbio e a deterioração das contas externas, empurrando o país para grave crise cambial, econômica e social.

Celso Rocha de Barros - Brasil está fazendo o certo com proposta de taxar os riquíssimos

Folha de S. Paulo

País vai apresentar ao G20 ideia de taxação dos bilionários globais

O mundo tem cerca de 3.000 pessoas com patrimônio superior a US$ 1 bilhão. Se esse número fosse o público pagante de um jogo de futebol, seria um dos menores do atual Brasileirão. Esse pequeno grupo tem abocanhando uma parte cada vez maior da riqueza mundial. Em 1987, os 0,0001% mais ricos do mundo controlavam cerca de 3% da riqueza do mundo. Em 2024, esse número subiu para 13%. É muito pouca gente controlando muito dinheiro.

Os números são do estudo encomendado pelo governo Lula ao economista francês Gabriel Zucman, um dos grandes estudiosos de desigualdade de renda do mundo. O estudo, "A blueprint for a coordinated minimum effective taxation standard for ultra-high-net-worth individuals" ("Proposta para um padrão de taxação efetiva mínima para os indivíduos de riqueza ultra-alta"), foi publicado nos últimos dias.

Bruno Boghossian - Lula escolhe seu jogo

Folha de S. Paulo

Falas das últimas semanas indicam um presidente convencido a depositar mais fichas na clivagem socioeconômica

O falatório de Lula sobre economia nas últimas semanas revela mais que a tática para enfrentar as pressões por um corte nos gastos do governo. A maneira como o presidente enquadra esse conflito define seu jogo para o restante do mandato e aponta para um ajuste na base de eleitores com que ele pretende chegar a 2026.

Na campanha passada, o petista concorreu com um programa que reproduzia sua plataforma de redistribuição de renda. A disputa, no entanto, carregou outros fatores que ganharam relevo em grupos estratégicos, notadamente a repulsa à gestão Bolsonaro, o assalto ideológico daqueles anos e o risco à democracia.

Lula não abandonou esses últimos elementos, mas se mostra convencido a depositar uma quantidade crescente de fichas na clivagem socioeconômica. Em reação ao Banco Central e às oscilações do mercado, o presidente escolheu uma contraposição clara entre elite e povo.

Muniz Sodré - Na gaiola patriarcal, as mulheres são culturalmente anuladas

Folha de S. Paulo

A manutenção do patriarcado está na raiz da feroz política de Estado antifeminista

"Homens sem mulheres, uma piada cruel", esta frase de história passada num campo de prisioneiros aliados na Segunda Guerra pode ser interpretada como machista. Seria mera queixa de carência sexual. No texto, porém, soa como aguda reflexão sobre a condição masculina entregue a si mesma, sem a alteridade feminina.

A democracia liberal e a vulgarização da psicanálise habituaram a consciência moderna a apostar na diferença genital como marca exclusiva de uma ética da alteridade sexual. No entanto, "há situações em que a diferença não é a priori recusa de similaridade" (Achile Mbembe em "La Domination Universelle"). Quer dizer, é preciso buscar além da genitalidade pontos comuns entre os sexos.

Oscar Vilhena Vieira - Supremocracia desafiada

Folha de S. Paulo

Tensão entre Legislativo e STF não parte só de ressentidos com golpe frustrado contra a democracia

Temos testemunhado uma crescente tensão entre o Poder Legislativo e o Supremo Tribunal Federal. Essa tensão não decorre, no entanto, apenas do ressentimento de alguns inimigos da democracia, contra um tribunal que frustrou suas expectativas de rasgar o pacto constitucional de 1988, em 8 de janeiro de 2023.

Há também um movimento bastante intenso por parte de um grupo mais amplo de parlamentares desconfortáveis com o controle exercido pelo Supremo sobre a conduta da classe política, assim como em decorrência do que reputam ser avanços indevidos do tribunal sobre as esferas de competência reservadas ao legislador.

Até o presidente Lula, aliado da hora do Supremo, resolveu dar conselhos ao Supremo, afirmando que o tribunal não deveria se meter em tudo, em reação à decisão do STF de despenalizar o porte de maconha para consumo próprio.

Poesia | Papel, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Zeca Pagodinho - Saudade louca / Part. especial: Seu Jorge

 

sábado, 29 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desempenho ruim alimenta pressão para Biden desistir

O Globo

Diante das dúvidas depois do debate, democratas questionam se presidente deveria abandonar a candidatura

Do início ao fim, o desempenho de Joe Biden no debate com Donald Trump, primeiro do ciclo eleitoral que decidirá quem comandará os Estados Unidos a partir do ano que vem, foi constrangedor. Ao defender o embate contra Trump antes das convenções democrata e republicana que escolherão oficialmente os candidatos, partidários de Biden pretendiam afastar as preocupações com sua idade avançada (81 anos) e as dúvidas sobre sua capacidade cognitiva. O efeito foi o oposto. Na saída do evento em Atlanta, estavam instalados entre os democratas o pânico e a discussão sobre o que fazer para convencer Biden a desistir da candidatura.

Já na primeira pergunta, Biden falou com voz tíbia e rouca. Em seguida, teve um lapso de memória ao discorrer sobre o sistema de saúde. Repetidas vezes, interrompeu frases no meio para seguir outro fluxo de pensamento. Ao comentar a guerra na Ucrânia, confundiu Trump com o russo Vladimir Putin, numa de suas dezenas de frases tortuosas: “Se você der uma olhada no que Trump fez na Ucrânia, ele, esse sujeito disse à Ucrânia, disse a Trump, faça o que quiser, faça o que quiser, e foi exatamente isso que Trump fez. Putin o encorajou, faça o que quiser. E ele entrou”. Ao final de outra resposta obtusa de Biden sobre segurança na fronteira, Trump retrucou: “Realmente não sei o que ele disse no final daquela frase. E acho que ele também não sabe”.

Marco Aurélio Nogueira - Atropelos em série

O Estado de S. Paulo

Lula está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota

Junho foi ruim para o governo. Não por ter ele acumulado derrotas ou sofrido um assédio vencedor da extrema direita. Mas sim porque o governo não saiu das cordas em que sua própria atuação o jogou.

O leilão de importação emergencial de arroz foi suspenso por suspeita de fraude. O governo perdeu no Congresso em áreas estratégicas, como a da reforma tributária. Recebeu de volta, por decisão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a anuência de parlamentares petistas, a medida provisória com mudanças no PIS/Cofins. Lula da Silva, por sua vez, peitou o presidente do Banco Central, mas engoliu a manutenção da taxa básica de juros. O ataque a Roberto Campos Neto foi visceral, abertamente político e ideológico, revelando certa fúria descalibrada.

Dora Kramer - Conciliar e avançar

Folha de S. Paulo

No lugar de brigar, Congresso pode aperfeiçoar a decisão do STF sobre drogas

Como quem reconhece que transita na seara alheia, o Supremo Tribunal Federal fez uma ressalva à decisão ao criar critério de quantidade para diferenciar o usuário do traficante de maconha: 40 gramas "até que o Congresso legisle sobre a matéria".

Um jeito, um tanto enviesado é verdade, de acenar ao equilíbrio institucional. O Parlamento pode ou não aceitar o aceno, embora num primeiro momento de reações acaloradas pareceu optar por ignorar o gesto algo encabulado do tribunal.

Alvaro Costa e Silva - Dinheiro na mão é vendaval

Folha de S. Paulo

PEC das Drogas tem a mesma urgência da PEC da Anistia

Antes do São João e do "Gilmarpalooza", que esvaziaram o Congresso, Arthur Lira desengavetou a PEC da Anistia. É o maior perdão da história a irregularidades cometidas por partidos políticos, entre elas o descumprimento das cotas eleitorais para mulheres e negros. Aprovada a proposta, as dívidas pendentes não vão impedir as siglas de obter recursos destinados a financiar as campanhas de 2024.

Pois vem aí um vendaval de dinheiro. PL (R$ 886,8 milhões), PT (R$ 619,8 milhões) e União Brasil (R$ 536,5 milhões) receberão as maiores fatias do bolo, 41% do total de R$ 4,9 bilhões, recorde que supera em mais de duas vezes o reservado para 2020 e equivale ao distribuído nas eleições de 2022 para presidente, governadores, senadores e deputados. Nunca fazer um prefeito ou não conseguir eleger um vereador nos mais de 5.000 municípios custou tão caro aos cofres públicos.

Hélio Schwartsman - Insofismável massacre

Folha de S. Paulo

Ceticismo do próprio partido em relação à candidatura poderá ser fatal

A performance de Joe Biden no debate de quinta-feira (27) foi nada menos que desastrosa. Em tese, isso não precisaria ser um grande problema.

Jornalistas, marqueteiros e os próprios políticos nutrem um certo fetiche por debates, mas eles são menos importantes do que se imagina. Em condições normais, isto é, quando os contendores alternam momentos positivos e negativos, o eleitor, mobilizando seu viés de confirmação, valoriza as boas tiradas do candidato para o qual torce e menospreza seus tropeços. O simpatizante do postulante rival faz o mesmo e, no cômputo geral, pouca coisa muda.

Demétrio Magnoli - Le Pen rompe o 'cordão sanitário'

Folha de S. Paulo

Política lidera intenções de voto porque desistiu do extremismo

"Os herdeiros políticos de Vichy chegam ao governo francês" —eis uma manchete sensacionalista possível para, caso se confirmem as pesquisas, sintetizar o resultado das eleições parlamentares antecipadas que começam neste domingo (30/6). Nas sondagens, a Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, tem 36% das intenções de voto, contra 28% para a Nova Frente Popular, de esquerda, e apenas 22% para os centristas liderados por Macron. Contudo, seja qual for o veredito das urnas, a manchete precisa é outra: a que intitula esta coluna.

Partidos não mudam seu nome por acaso. A RN nasceu em 1972, como Frente Nacional (FN), sob o comando do pai de Marine, Jean-Marie. O líder admirava o general Pétain, que governou, como colaboracionista, a parte da França não ocupada pela Alemanha nazista. Marine assumiu o controle do partido em 2011 e expeliu seu pai em 2015, reagindo a elogios a Pétain e à classificação das câmaras de gás como um "detalhe" histórico. A troca de nome veio em 2018.

Carlos Andreazza - Luiz Fux desabafa

O Estado de S. Paulo

Ministro lastima que o Supremo arque com o ‘preço social’ de decidir sobre o que não lhe cabe

Luiz Fux resolveu desabafar sobre o “protagonismo deletério” do Supremo. Foi na sessão em que o tribunal legislou pela descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Aquela jornada em que se usou a balança da Justiça – de alta precisão – para pesar gramas de droga, expostos juízes da Corte constitucional, em busca da batida perfeita, ao debate-definição sobre qual seria a gramatura justa.

“Não se podem desconsiderar as críticas de que o Judiciário estaria se ocupando de atribuições próprias dos canais de legítima expressão da vontade popular, reservada apenas aos

Poderes integrados por mandatários eleitos” – disse o ministro que suspendeu individualmente a implementação de lei, a que instituíra o juiz de garantias, aprovada pelo Parlamento.

Eduardo Affonso - A falta que um Chico faz

O Globo

Militância progressista boicota, intimida e cancela quem desafia o coro dos onipotentes e não reza conforme sua cartilha

No mesmo 19 de junho em que Chico Buarque fez 80 anos, Solano Fernandes (nome fictício — como, aliás, quase tudo o que se segue) completou 100. Tinha 46 quando lhe caiu nas mãos um inocente samba em que a vítima de um relacionamento tóxico (Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/Não tem discussão) se ressignifica enquanto pessoa subalternizada (Apesar de você/Amanhã há de ser outro dia) e exige reparação da dívida histórica (Vou cobrar com juros, juro (...) Você vai pagar e é dobrado/Cada lágrima rolada nesse meu penar).

De boa-fé, Solano — censor, servidor público concursado — liberou o samba. Desde então, têm sido 54 anos de culpa e autoflagelação por não ter captado a mensagem subliminar. Como um garoto de 20 e poucos anos pôde enganá-lo e a toda a máquina montada para proteger o público e as autoridades daqueles que tentavam ferir a dignidade e o interesse nacionais?

Pablo Ortellado - O cerco às mídias sociais nos EUA

O Globo

Popularização do uso das redes coincidiu com saltos nos índices de doença mental entre adolescentes

Enquanto, no Brasil, o Congresso enterrou o PL 2.630, que tentava regular as mídias sociais, nos Estados Unidos as plataformas sofrem uma espécie de cerco, tendo de responder a três movimentos simultâneos: processos coordenados contra a Meta (dona do Facebook e Instagram) pelas promotorias de diversos estados; um Projeto de Lei para conter o efeito compulsivo e viciante que as mídias sociais têm sobre as crianças e adolescentes; e a tentativa do cirurgião-geral — principal autoridade do governo americano para questões de saúde — de rotulá-las com uma advertência, como a que aparece nas embalagens de cigarro.

O ponto de partida de todos os projetos de lei é a evidência empírica alarmante que vem mostrando aumento de ansiedade, depressão, automutilação e suicídio entre os adolescentes. É muito difícil determinar a causalidade, mas a popularização do uso das redes sociais pelos smartphones, nos anos 2010, coincidiu com saltos nos índices de doença mental entre adolescentes.

Carlos Alberto Sardenberg - As crises do Real

O Globo

A população andava cansada da inflação e dos sucessivos planos que só tornavam ainda mais complicada uma situação difícil

De Fernando Henrique Cardoso:

— Não se pode desperdiçar uma crise.

FH deve ter chegado a essa conclusão depois das diversas crises que enfrentou na elaboração, na implantação e no desenvolvimento do Plano Real, que completa 30 anos na próxima segunda-feira.

A primeira crise foi o ambiente em torno de sua nomeação para ministro da Fazenda, em maio de 1993. Seria o quarto ministro de um presidente fraco, Itamar Franco, com o país tomado pela hiperinflação. Os preços subiram 27% no mês da posse de FH, que se tornava o maior e talvez o único ativo de Itamar. Como o próprio Itamar disse a seu novo ministro: sua nomeação foi muito bem-aceita. FH entendeu: tornara-se responsável de fato pela política econômica. Na circunstância, dono de uma crise grave e piorando.

O lado promissor: a população andava cansada da inflação e dos sucessivos planos que só tornavam ainda mais complicada uma situação difícil. Provavelmente, toparia sacrifícios para um programa crível com uma equipe respeitada. Ainda assim, o propósito de FH e de sua então reduzida equipe era modesto: dar uma arrumada na casa, especialmente nas contas públicas, deixando qualquer coisa mais ousada para um futuro governo. O próximo presidente seria eleito em outubro de 1994.

Manfred Back e Luiz Gonzaga Belluzzo - Amém, irmãos!

CartaCapital

A autonomia operacional deve ser contida nos limites do sacramento das metas de Inflação

“A liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam.”
Baruch Espinosa

Na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom), por unanimidade, foi ratificada a manutenção da Taxa Selic em 10,5% ao ano e a suspensão temporária de corte na taxa básica. No Templo dos Milagres do Financismo, localizado na Avenida Faria Lima, o pastor J.P. ­Morgan, no final do culto, bradou em êxtase: “Amém, irmãos! A credibilidade voltou! Nossas preces foram ouvidas, somos o povo escolhido para ganhar dinheiro, nossa verdade é a nossa fé!” Os fiéis gestores do dinheiro alheio fizeram o coro: “Oh a credibilidade voltou, oh oh…”

O Deus Mercado sempre está certo, amém irmãos! Quem melhor entende do vil metal? Nós ou o Banco Central? Nossa autoridade monetária voltou ao caminho da fé financista, viu a luz no caminho de Damasco… Faria Lima! Amém…

O dilúvio da desancoragem das expectativas inflacionárias foi salvo pelas mãos divinas do mercado. Contra a fé e o dogma metamorfoseados em Ciência, ninguém pode! Nem o Bacen! Amém duas vezes, irmãos!

Marcus Pestana - Um alerta para o risco de estrangulamento fiscal

A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado Federal, publicou o seu Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) No. 89, relativo a junho de 2024, onde faz a revisão dos cenários de médio e longo prazo (2026/2034).

A perspectiva de crescimento médio anual do Produto Interno Bruto foi ajustada de 2,0% para 2,2% ao ano em função, fundamentalmente, dos ganhos de produtividade derivados dos efeitos da Reforma Tributária.

Nos médio e longo prazos, a IFI acredita que haverá convergência da inflação para níveis muito próximos a atual meta inflacionária, ficando, em média, no patamar de 3,1% ao ano.

Thomas L Friedman - Chorei ao assistir ao debate

The New York Times / O Globo

Se encerrar agora, poderá deixar a Presidência como um dos melhores líderes da História americana e mostrar aos eleitores que o país vem antes de seus interesses

Assisti ao debate entre Biden e Trump sozinho em um quarto de hotel em Lisboa, Portugal, e ele me fez chorar. Não consigo me lembrar de um momento mais desolador na política da campanha presidencial americana em minha vida — justamente por causa do que ele revelou: Joe Biden, um bom homem e um bom presidente, não tem condições de concorrer à reeleição. E Donald Trump, um homem malicioso e um presidente mesquinho, não aprendeu nada e não esqueceu nada. Ele é a mesma fonte de mentiras que sempre foi, obcecado por seus ressentimentos — nem perto do que será necessário para que os Estados Unidos liderem no século XXI.

Poesia | O Rio, de João Cabral de Melo Neto - Musicado por Helô Ribeiro

 

Música | Nega - Canto das Três Raças

 

sexta-feira, 28 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desvincular BPC do salário mínimo é medida necessária

O Globo

Trocar correção pela inflação não traria perda a beneficiários e ajudaria a equilibrar as contas públicas

‘Não considero isso gasto, gente.’ A frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado a idosos e deficientes de baixa renda, revela o longo caminho que o governo tem a percorrer para controlar a dívida pública. Como o BPC está vinculado ao salário mínimo, desde o ano passado passou a ser regido pela mesma regra de correção, que prevê aumento acima da inflação.

O histórico recente do BPC é de alta. Nos 12 meses terminados em março, a quantidade de benefícios assistenciais cresceu 12%, pelos dados do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre). Essa expansão foi decisiva para aumentar o rombo da Previdência federal, equivalente a 3,9% do PIB em 2023. Isso se faz sentir nos resultados fiscais de maio, que registrou déficit de R$ 61 bilhões ante superávit de R$ 1,8 bilhão no ano passado. De acordo com o Tesouro, o déficit foi puxado pelo crescimento de R$ 24,4 bilhões nos benefícios previdenciários.

Fernando Abrucio -Escolas cívico-militares: um atraso amplo

Valor Econômico

O Brasil está propondo uma solução não educacional a complexos problemas relativos à qualidade do ensino sem que haja qualquer evidência da efetividade de tal proposta

A forma como os países organizam a educação tem efeitos que ultrapassam essa política pública. Lembrar disso é fundamental quando a adoção das chamadas escolas cívico-militares é ampliada no Brasil. Elas devem ser analisadas não só na maneira como impactam o modelo de ensino, mas também nas consequências que têm sobre o Estado e a visão de democracia.

Neste sentido, a militarização da política educacional bate de frente com várias conquistas obtidas a partir da redemocratização, levando a um retrocesso amplo que expressa o atraso civilizacional brasileiro em sua versão do século XXI.

O primeiro ponto que chama atenção no modelo das escolas cívico-militares é sua singularidade frente à experiência internacional recente. Nenhum dos países com resultados destacados em política educacional no mundo adota um padrão similar a essa nova jaboticaba brasileira. Militarizar o funcionamento das escolas não é característica nem dos governos mais próximos do autoritarismo que aparecem bem em rankings como o da avaliação do Pisa, exame organizado pela OCDE com cerca de 80 países.

Indo mais direto à essência da singularidade dessa proposta: não passa pela cabeça de gestores, educadores ou pesquisadores de educação em qualquer parte minimamente desenvolvida do mundo colocar militares aposentados como resposta a desafios educacionais.

José de Souza Martins - Imobilizados na mediocridade do repetitivo

Valor Econômico

O autoritarismo brasileiro condenou o país à eternidade da farsa

As pesquisas de opinião têm revelado a lentidão das esquerdas na conquista da preferência e do apreço do brasileiro. Na verdade, o povo não está dividido entre direita e esquerda. Um terço significativo dele está imobilizado na extrema direita e não se sente desafiado a sair do imobilismo. Gosta do atraso.

O que alguns sugerem ser esquerda está aprisionado no território político residual de uma direita que se julga consolidada, mas é politicamente frágil porque dilacerada em fragmentos antipolíticos e antidemocráticos. Longe de ser conservadora, a direita brasileira é reacionária e imobilista. Seus instrumentos de manipulação das consciências podem ter chegado ao limite da eficácia. A mentira política, gasta, já mostrou sua verdade infantil e ridícula.

Luiz Carlos Bresser-Pereira - Europa Ocidental à deriva

Valor Econômico

Semiestagnação e ameaça do nacional populismo avançam na região em que a forma de capitalismo é a mais avançada

Nas eleições recentes para o Parlamento Europeu, a direita radical fez novos avanços. Ao contrário do que se previa, não foi uma grande vitória, mas fez estragos nos dois países centrais da zona do euro, a França e a Alemanha. Já nos Estados Unidos, essa direita já esteve no poder e poderá voltar a ele no final deste ano. Não quero, porém, discutir esse país, mas sim a Europa Ocidental. Meu argumento é que o capitalismo do mundo rico está em crise - uma crise mais política do que econômica - e esta crise se vê mais claramente no Europa Ocidental.

Minha impressão é que esta região está à deriva. Seus dirigentes não sabem que rumo tomar. No pós-guerra, os europeus ocidentais construíram o capitalismo mais avançado de que temos notícia. Um capitalismo social-democrático. Em 1990 seu PIB per capita era quase igual ao dos Estados Unidos, enquanto a distribuição de renda era (e continua a ser) substancialmente melhor, o mesmo valendo para a qualidade de vida. Mas, desde então, a Europa Ocidental vem crescendo 50% menos do que os Estados Unidos. Entre 1990 e 2023 o PIB per capita cresceu 66% nos Estados Unidos contra apenas 48% na Europa Ocidental. Se considerarmos um período mais recente, de 2010 e 2023, as taxas médias de crescimento do PIB foram de 2,1% nos Estados Unidos contra 1,4% na Europa Ocidental.

Bernardo Mello Franco – Tempestade no Altiplano

O Globo

País andino não é o único a conviver com tentativas de tutela militar sobre o poder civil

A ação se deu à luz do dia, com transmissão ao vivo na TV. Tanques do Exército cercaram a Praça Murillo, sede do poder político na Bolívia. Um blindado avançou contra o palácio presidencial e arrombou o portão, abrindo caminho para a invasão fardada.

A quartelada de quarta-feira deixou o governo de Luis Arce por um fio. Após horas de tensão, o general Juan José Zúñiga foi preso, e a tentativa de golpe foi derrotada. Mas o episódio expôs os fantasmas que ainda rondam a democracia na América Latina.

No início da semana, Zúñiga disse estar “atento aos maus bolivianos” e ameaçou prender o ex-presidente Evo Morales para impedi-lo de voltar ao poder pelo voto. “Somos o braço armado do povo”, justificou.

César Felício - Lula muda estratégia para pautar noticiário

Valor Econômico

Presidente agora aceita correr riscos

Há uma evidente mudança de estratégia de comunicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As recentes entrevistas às rádios CBN e Itatiaia e ao portal UOL mostram isso.

O Lula de 2023 fez uma opção preferencial em se comunicar com entrevistadores mais alinhados a seu pensamento e a veículos de alcance regional, nas ocasiões em que cumpria agenda de viagens aos Estados, com pauta específica. Tentou também fazer uma mídia direta, com a entrevista ao vivo que concedia pelos canais da TV Brasil. Eram ambientes controlados. A mudança de estratégia sinaliza que não funcionou.

O Lula de agora aceita correr riscos. Ele se vê obrigado a responder de improviso a questões desconfortáveis. Joga com as pedras brancas do xadrez, dá o lance inicial. Em três entrevistas o presidente descartou alternativas para cortes de gastos, como revisões de vinculações constitucionais, retomou os ataques ao presidente do Banco Central, disse que não gosta do grande favorito para vencer as eleições americanas e que não pretende ter diálogo com o presidente argentino, a não ser que ele se humilhe. No plano político, Lula condicionou a permanência de um ministro de seu governo, nominou os possíveis candidato da direita em 2026 e deixou claro que pensa na reeleição.