O Estado de S. Paulo
Ministro lastima que o Supremo arque com o ‘preço social’ de decidir sobre o que não lhe cabe
Luiz Fux resolveu desabafar sobre o
“protagonismo deletério” do Supremo. Foi na sessão em que o tribunal legislou
pela descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Aquela jornada em
que se usou a balança da Justiça – de alta precisão – para pesar gramas de
droga, expostos juízes da Corte constitucional, em busca da batida perfeita, ao
debate-definição sobre qual seria a gramatura justa.
“Não se podem desconsiderar as críticas de
que o Judiciário estaria se ocupando de atribuições próprias dos canais de
legítima expressão da vontade popular, reservada apenas aos
Poderes integrados por mandatários eleitos” – disse o ministro que suspendeu individualmente a implementação de lei, a que instituíra o juiz de garantias, aprovada pelo Parlamento.
“Nós não somos juízes eleitos.” São os não
eleitos cuja confiança nas próprias luzes lhes autoriza a identificar (forjar)
urgências e preencher lacunas sobre as quais a democracia representativa se
acovardaria.
“Brasil não tem governo de juízes” – declarou
o juiz que esteve longamente sentado sobre liminar que garantia o pagamento de
auxílio-moradia a magistrados.
“Nós assistimos, cotidianamente, ao Poder
Judiciário sendo instado a decidir questões para as quais não dispõe de
capacidade institucional.” Diante de arguição sobre constitucionalidade de lei,
em vez de responder e ponto, expande-se o tribunal para criar
critériosprocedimentos. Porque, tão sabedores os seus, não podem admitir que a
acusada omissão do Parlamento seja uma posição.
“Essa disfuncionalidade desconhece que o STF
não detém o monopólio das respostas nem é o legítimo oráculo para todos os
dilemas morais, políticos e econômicos da nação.” Nesse momento, lamentei não
haver o diretor de imagens da TV Justiça nos mostrado o ministro Barroso.
Fux lastima que o Supremo arque com o “preço
social” de decidir sobre o que não lhe cabe. Haveria espécie de armadilha
contra o tribunal, manipulando-lhe a natureza contramajoritária. Como se o STF
fosse obrigado a entrar na arapuca, compulsória a prática proativa. Como se não
houvesse o voto de Fachin (pela descriminalização), exemplar da expressão
comedida que se espera da Corte constitucional.
“Nós não temos de fazer pesquisa de opinião
pública.” Correto. “Nós temos que aferir o sentimento constitucional do povo.”
Ele adora esse conceito. O sentir jurídico – dos intérpretes da massa – pela
construção da cidadania. Né? Melhor fazer pesquisa de opinião.
“Quanto mais as nossas decisões se aproximam
do sentimento constitucional do povo, mais efetividade terão as nossas
decisões” – falou o juiz, leitor do povo, que nem sequer a própria cadeira
afasta.
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