terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Mensagem de Lula ao Congresso tenta afastar ideia de política fiscal frouxa - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Presidente busca confrontar decepção com pacote apresentado em novembro do ano passado 

Em meio à crise das emendas de parlamentares ao orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou mensagem ao Congresso Nacional na qual diz que não hesitará em lançar mão de bloqueios e contingenciamentos de despesas este ano para alcançar a meta de déficit zero, resultado “crucial” para estabilizar a dívida pública na casa dos 80% do Produto Interno Bruto (PIB) por volta de 2028.

O recado está na mensagem presidencial entregue ao Congresso Nacional, na abertura do ano legislativo.

Num esforço de reconstrução da credibilidade na política fiscal, o texto lista exemplos de medidas duras adotadas para ajustar as contas públicas.

Um exemplo está no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, em análise no Congresso Nacional. As projeções apontaram para um aumento de 3,6% nas despesas. No entanto, seguindo a regra do arcabouço, essa expansão foi limitada a 2,5% na proposta.

Esse limite de 2,5% de aumento real será aplicado inclusive a itens como o salário mínimo e as emendas parlamentares ao orçamento, aponta a mensagem. Essa proposta foi o centro do pacote anunciado em novembro passado.

As economias proporcionadas pelo pacote deverão atingir R$ 300 bilhões no período de 2025 a 2030, informa Lula na mensagem aos congressistas. Em 2025 e 2026 o corte de despesas chegará a R$ 70 bilhões.

Por fim, a expectativa do governo é economizar R$ 25 bilhões com as revisões de gastos, “a partir de medidas administrativas que melhoram o alcance das políticas públicas, tornando-as mais eficientes e gerando economia aos cofres públicos.”

Com esses números, o governo busca confrontar a decepção de analistas do mercado com o pacote de novembro, considerado insuficiente para garantir uma trajetória sustentável para a dívida pública. O conjunto, “desidratado” em comparação com o que se discutiu na área técnica, deixou evidente a dificuldade da área econômica em avançar com a agenda fiscal perante o próprio governo. O Congresso aprovou parte do pacote, mas ainda há medidas a serem analisadas.

A mensagem de Lula destaca o resultado fiscal de 2024, “o sexto maior ajuste fiscal do mundo, o terceiro maior entre países emergentes.”

No ano passado, o déficit atingiu 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) - ou 0,4% do PIB, se forem considerados os gastos com a calamidade do Rio Grande do Sul. Mesmo esse número mais elevado é “um dos melhores da década”, informa.

O presidente afirma que mesma condução implementada em 2024 prosseguirá em 2025, com o acionamento das medidas disponíveis para ajustar as contas, como bloqueios e contingenciamentos de despesas.

Integrantes da área econômica têm repetido que, sendo necessário, novas medidas de ajuste serão acionadas. O próprio Lula sinalizou nessa direção, para em seguida dizer que não é esse seu desejo.

A mensagem presidencial é focada no atingimento das metas de resultado primário. Esse, porém, não é o indicador mais considerado pelos especialistas em contas públicas. As atenções estão mais voltadas para a dívida pública, cuja tendência é de alta no curto prazo. O aumento das taxas de juros básicas e a instabilidade no cenário externo tornam esse quadro ainda mais difícil.

Além disso, analistas enxergam riscos à frente. O principal é a proposta de isentar do Imposto de Renda as pessoas com renda de até R$ 5 mil. Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha afirmado que a proposta não trará ganho nem perda de receitas, não é possível garantir que o equilíbrio seja mantido pelo Congresso Nacional.

A recente queda nas avaliações positivas do governo acendeu outro sinal de alerta entre os especialistas: o risco de serem adotadas políticas novas com aumento nas despesas.

A mensagem de Lula descreve resultados de uma política fiscal que tem sido praticada a duras penas, graças a medidas impopulares aprovadas por deputados e senadores. A relação do governo com o Congresso Nacional nos próximos meses, a começar com a questão das emendas ao orçamento, dirá muito sobre o futuro dela.

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