Correio Braziliense
Se "Ainda estou aqui" será premiado
ou não com o Oscar, saberemos apenas no domingo de carnaval. O filme, no
entanto, já fez história e os feitos precisam ser lembrados
A votação para escolha dos ganhadores do
Oscar está em andamento. Daqui até terça-feira, as 9,9 mil pessoas habilitadas
vão entregar à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas os escolhidos nas
categorias. Se Ainda
estou aqui será premiado ou não, saberemos apenas na noite do domingo
de carnaval (e quem sabe avançando pela madrugada de segunda-feira). O filme,
no entanto, já fez história e os feitos precisam ser lembrados.
O primeiro deles é que serviu para reaproximar o brasileiro do Oscar. Depois de mais de duas décadas sem participar das categorias principais, o cinema nacional ocupa local de protagonismo com as indicações para melhor atriz, melhor filme internacional e melhor filme. Com isso, detalhes sobre o processo de votação (com conclusão duas semanas antes da cerimônia), o colégio eleitoral (52 brasileiros estão na lista) e as regras para evitar empates (na categoria principal, por exemplo, os votantes precisam elencar os 10 longas indicados em ordem de preferência, do melhor ao pior) passaram a fazer parte do nosso dia a dia.
O segundo ponto é que o longa de Walter
Salles serviu para aproximar a população da cultura. Com mais de 4 milhões de
espectadores até agora, o filme atraiu gente que simplesmente não ia ao cinema.
E a torcida de todos nós é de que retornem às salas — ainda mais se promoções
como a da última semana, com inteira a R$ 10, passarem a se tornar mais
frequentes. Ir ao cinema é um passeio caro e elitista, sem dúvida, que, somado
ao crescimento do streaming, levou a uma expressiva redução dos locais de
exibição. Em comparação com 2019, por exemplo, houve o fechamento de um terço
das salas.
E outro feito não menos importante é que o
filme fala de história em um país que costuma esquecer o passado. Relembrar os
anos de chumbo é importante para que erros nunca mais voltem a ser cometidos.
Perseguição política, cerceamento da liberdade de expressão e participação
popular restrita são características de ditaduras, como a que existiu no Brasil
de 1964 a 1985, que nunca mais precisam ser revividas no nosso país. E Ainda
estou aqui mostrou isso com maestria: é um filme que fala de política de
forma indireta, detalhando com precisão como a repressão atingia em cheio uma
família.
Assim, independentemente do desfecho da
premiação, a importância de Ainda estou aqui vai muito além das
estatuetas douradas. Só de reabrir o debate sobre os 21 anos sombrios de regime
militar e de ativar a reflexão sobre a nossa própria história já cumpriu um
papel fundamental.
O Oscar é apenas mais um capítulo da
trajetória. No coração do público, já está.
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