Correio Braziliense
Em 2023, 24% dos jovens brasileiros entre 18
e 24 anos de idade não estudavam nem trabalhavam. A situação é pior do que em
boa parte dos países desenvolvidos, conforme levantamento divulgado neste ano
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
O acesso ao ensino superior no Brasil
registrou o maior crescimento dos últimos dez anos em 2023. Nesse período, o
número de matrículas nas redes pública e privada subiu 5,64% — avanço
impulsionado pelo incremento do volume de estudantes nos cursos de ensino a
distância (EAD). Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior.
Embora positivo, o resultado ainda é insuficiente, frente ao potencial de aumento de ingressantes. A mesma pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que apenas 21% dos alunos que concluem o ensino médio na rede estadual entram para a universidade no ano subsequente. Mas, afinal, por que isso acontece?
Poderíamos elencar diversos motivos para
justificar esse descompasso, como a falta de informação sobre as formas de
acesso, a aposta no empreendedorismo, dinâmicas em sala de aula incapazes de
capturar a atenção dos universitários, e dificuldades para conciliar estudos e
trabalho. Quero, contudo, debruçar-me sobre a razão apontada como a principal
por pesquisa recente da Deloitte: restrições financeiras. Mensalidades que não
cabem no bolso do estudante e a disputa acirrada por vagas em universidades públicas
acabam por distanciar o jovem do tão sonhado curso de graduação.
A necessária elevação da taxa básica de
juros, anunciada recentemente pelo Banco Central (BC), representa um desafio
adicional nesse contexto. A alta da Selic para 13,25% ao ano, no intuito de
combater a desancoragem das expectativas de inflação, influencia diversos
setores da economia, entre eles, o da educação. E já há novos reajustes
previstos para março de 2025. Quando a Selic sobe, o aumento do custo de
capital para as instituições de ensino tende a dificultar ainda mais a
realização de suas missões educacionais. Com uma economia mais apertada, também
é factível que haja maior evasão, tendo em vista a dificuldade de alguns alunos
para honrarem o pagamento do curso.
Diante desse cenário, o crédito educacional,
em que o aluno entra para a universidade e restitui o valor total das
mensalidades somente após a conclusão do curso, funciona como uma alternativa
que contribui para a manutenção e o crescimento de matrículas no ensino
superior. Há opções no mercado que dispensam a cobrança de juros
remuneratórios, ou seja, que não tomam a Selic por parâmetro. Esse tipo de
solução funciona há décadas e vem garantindo acesso a milhares de pessoas —
promovendo a inclusão educacional e produtiva de jovens que concluem o
ensino médio em escolas públicas.
Dados apontam que o Brasil é um dos países
com a pior taxa de produtividade entre 67 economias no mundo. Em 2024, caiu
duas posições no ranking divulgado anualmente pelo Institute for Management
Development (IMD), passando a ocupar o 62º lugar. Não por coincidência, o país
mais bem avaliado, Singapura, é também o que lidera a nota no Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), ou seja, investir em educação é
apostar em desenvolvimento e competitividade, a partir do aumento da
produtividade per capita.
A relação entre estudo e inclusão produtiva é
evidente. Em 2023, 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade não
estudavam nem trabalhavam. A situação é pior do que em boa parte dos países
desenvolvidos, conforme levantamento divulgado neste ano pela Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O relatório aponta a formação
acadêmica — ou a falta dela — como um dos fatores determinantes na hora de
conseguir um emprego, reforçando mais uma vez essa tese.
Para superar esse desafio, é imprescindível
que, para além das soluções de crédito privado, o país fortaleça investimentos
em políticas públicas eficazes. Essas políticas devem priorizar a
democratização do acesso ao ensino, a valorização dos professores, a ampliação
de vagas nas universidades e a oferta de apoio financeiro contínuo a
estudantes.
Somente por meio de um conjunto integrado de
ações será possível diminuir a disparidade entre o número de jovens que
concluem o ensino médio e aqueles que conseguem ingressar e concluir uma
graduação. Não podemos deixar que o custo de capital aumente ainda mais o risco
de sermos uma nação desigual em oportunidades e pouco produtiva em comparação a
outros países, pelo baixo investimento em ensino. É tempo de acreditar — e de
fazer acreditar — em alternativas, para que o Brasil volte a crescer
pelas mãos da educação.
*Presidente da Fundacred
Nenhum comentário:
Postar um comentário