O Globo
Nessa disputa retórica, o Brasil só tem a
perder, assim como Bolsonaro, pois os dois são mais frágeis que seus oponentes.
Dizer que a revogação dos vistos de ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) é “inadmissível”, como fizeram o presidente
Lula e o chefe da Casa Civil, Rui Costa, é uma linguagem política que coloca os
que a pronunciam, especialmente sendo duas figuras das mais importantes do
país, numa situação-limite. Se é “inadmissível”, farão o quê? O rato que ruge?
Exército Brancaleone? Nessa disputa retórica, o Brasil só tem a perder, assim
como Bolsonaro, pois os dois são mais frágeis que seus oponentes.
O governo brasileiro tem uma vantagem institucional, pois é uma das maiores economias do mundo democrático. O país, diante da maior potência econômica e militar do mundo, não tem como confrontar o oponente, a não ser no campo moral, mesmo que tenha razão. Já Bolsonaro, não tem como confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo que tenha o apoio do presidente daquele país, pois não tem o apoio dos fatos, que o condenarão por ter atentado contra a democracia brasileira.
À medida que a guerra retórica se prolonga, o
campo de batalha sai da realidade para se enfiar num lamaçal de conjunturas e
subjetividades que não leva a nada, a não ser a uma situação de instabilidade
que nos afetará mais do que aos Estados Unidos. O caminho melhor é negociar por
meio da diplomacia, sem interferências políticas. Nos metemos nessa enrascada
devido a uma conspirata política dos apoiadores de Bolsonaro, especialmente seu
filho Eduardo, que não hesitaram em pedir ajuda de um país estrangeiro, sem se
importar com as consequências sobre o seu próprio país, considerando a hipótese
de que uma pressão americana seria suficiente para liberar o patriarca da
família.
Apelar para um tribunal internacional teria
mais sentido político, embora dificilmente, nesse caso, tivesse consequência
prática. Mas para uma superpotência, presumindo que o mais forte sempre
ganhará, é um grande erro de estratégia. Que ideia fazem do Brasil? Concordam
que é um país de quinta categoria, uma republiqueta de bananas, que se dobra à
vontade do mais forte? Só pensando assim é possível acreditar que uma ordem de
Trump seria obedecida. Não tenho dúvida de que o presidente americano tenha essa
opinião sobre o Brasil; não fosse assim, não tomaria as medidas que está
adotando.
Uma visão míope sobre o país, mesmo que o
governo petista lhe desagrade, ou que a aproximação com a China e a Rússia o
irrite, como se a substituição do dólar no comércio internacional fosse
possível a curto prazo. A longuíssimo, poderá ser, se assim quiserem as duas
potências, não o Brasil. Não é o caso no momento, o que há são movimentos
políticos ousados na retórica, nulos na prática, os tigres do Brics usando o
Brasil como bucha de canhão.
Nesta semana, novas sanções de Trump contra o
Brasil devem acontecer. Pelo menos é o que os bolsonaristas que estão ajudando
a criar o clima de punição prometem. Imagino que seja a Lei Magnitsky, para
apertar o cerco pessoalmente, principalmente sobre o ministro Alexandre de
Moraes. Essa lei, aprovada depois dos atentados de 11/9/2001 para conter o
financiamento de terroristas, foi ampliada para todos os “inimigos” dos Estados
Unidos. Pode prejudicar pessoalmente, mas nada muito grave. Significa não ter
conta em bancos, nem cartão de crédito americanos.
No campo institucional, não há mais o que fazer; Trump já fez tudo, e tudo errado, acusando o Brasil de coisas que não faz. A melhor medida a ser alcançada, a meu ver, é um adiamento das tarifas, não é incomum o presidente americano adiar ou prolongar o prazo. Vamos ver qual é a boa vontade dele com o Brasil, que, aparentemente, é nenhuma. Mas as empresas americanas afetadas estão trabalhando para mostrar o prejuízo que poderão ter com as sanções impostas, e com isso estão pressionando o governo de lá.
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