Por Luize Meirelles / IFBA
A sessão solene de outorga do título acontecerá na sexta-feira, 1º de agosto, às 17h, no Espaço Cultural 2 de Julho, da Reitoria do IFBA. Com parceria com Gilberto Gil, João Bosco, Sueli Costa, Moraes Moreira, Roberto Mendes e Paulinho da Viola, entre outros, o poeta e compositor baiano José Carlos Capinan é considerado um dos maiores letristas da música popular brasileira
“Quem me dera agora, eu
tivesse a viola pra cantar. Ponteio”. Lá pelo ano de 1967, esses versos da
música Ponteio invadiram os lares brasileiros na terceira
edição do Festival de Música Popular Brasileira, organizado pela TV Record, e
arrebataram o primeiro lugar entre as canções apresentadas, como Alegria,
Alegria, de Caetano Veloso, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, O Cantador, de
Dori Caymmi e Nelson Motta, e Roda Viva, de Chico Buarque.
Quem assinou a composição
junto com Edu Lobo, que interpretou a canção no Festival, foi José Carlos
Capinan, o poeta baiano que atuou e tem atuado em momentos e movimentos
importantes no Brasil. Pelo seu relevante papel artístico, cultural e político,
Capinan será homenageado com a concessão do título de Doutor Honoris
Causa pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Bahia (IFBA).
A sessão solene de outorga do título acontecerá na sexta-feira, 1º de agosto, às 17h, no Espaço Cultural 2 de Julho, da Reitoria do IFBA, localizada na Avenida Araújo Pinho, nº 39, no bairro do Canela, em Salvador, Bahia. A cerimônia, que contará com a participação da reitora do IFBA, Luzia Mota, será aberta ao público, considerando a limitação do espaço. Os(as) interessados(as) devem se inscrever por meio do link https://suap.ifba.edu.br/eventos/inscricao_publica/448/
A programação da solenidade
contará com apresentações musicais e homenagens em vídeos de artistas como
Paulinho da Viola, Alexandre Leão, Raimundo Fagner, Paulinho Boca de Cantor,
Gereba e Targino Gondim, além da educadora Amabília Almeida. Foram
convidados para artistas como Raimundo Sodré, Carlinhos Cor das Águas, Cláudia
Cunha, Xangai, Virgínia Rodrigues e Rita Tavares, entre outros.
“Ainda viro este mundo em
festa, trabalho e pão”
Viramundo, Gilberto Gil e
Capinan
Entre outras autoridades
convidadas para a sessão solene estão a ministra da Cultura, Margareth Menezes,
secretários de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, e de Salvador, Ana Paula
Matos; os reitores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Cesar Miguez,
do Instituto Federal Baiano (IF Baiano), Aécio José Araújo Passos Duarte, as
reitoras da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), da Universidade Federal do
Sul da Bahia (UFSB), da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), respectivamente
Adriana Marmori Lima, Joana Angélica da Luz, Amali de Angelis Mussi
e Georgina Gonçalves dos Santos; o poeta Aleilton Fonseca, que integra a
Academia de Letras da Bahia (ALB), da qual Capinan também é membro.
DHC: a mais alta honraria
“A expressão honoris causa
vem do latim e significa “por causa da honra”. O título de doutor honoris causa
é diferente daquele recebido pela pessoa que conclui um curso doutorado. A
concessão do título honorífico reconhece que a atuação da personalidade em sua
área é tão relevante e honrosa que lhe confere legitimidade para ser
considerada doutora, independente da formação educacional da personalidade
homenageada. Trata-se da mais alta honraria concedida por universidades e
institutos, públicos ou privados.
Para a reitora e presidente
do Conselho Superior (Consup) do IFBA, Luzia Mota, a concessão do título a
Capinan tem repercussões positivas para a comunidade acadêmica. “A concessão do
título de Doutor Honoris Causa a José Carlos Capinan é um ato de grande
relevância simbólica e política para o IFBA. Capinan é uma personalidade cuja
obra entrelaça arte, política, educação e resistência. Poeta, letrista,
intelectual público, gestor público, ele representa a força do pensamento
inventivo e da produção cultural baiana no cenário nacional”, explica.
“Esse reconhecimento
fortalece a identidade do IFBA como uma instituição que valoriza a cultura como
forma de conhecimento e como expressão de emancipação. Para os estudantes,
especialmente os jovens das periferias e do interior da Bahia, é uma oportunidade
de verem nas trajetórias culturais do seu povo uma referência legítima de saber
e transformação. Capinan traduz, em sua história, o compromisso com as causas
populares, o que se alinha perfeitamente com a missão do IFBA de formar
cidadãos críticos, comprometidos com a democracia, a justiça social e o
desenvolvimento humano”, defende Luzia.
José Carlos Capinan nasceu
em 19 de fevereiro de 1941, em Arraial das Pedras, distrito de Entre Rios, mas
foi registrado em Esplanada, ambas cidades do interior da Bahia. Publicitário,
teatrólogo, poeta, escritor, médico, é considerado um dos letristas mais
importantes da música popular brasileira desde a década de 1960. Já realizou
parcerias com diversos compositores como Caetano Veloso, Edu Lobo, Gilberto
Gil, Geraldo Azevedo, Jards Macalé, João Bosco, Moraes Moreira, Paulinho da
Viola, Roberto Mendes e Sueli Costa.
"Esse reconhecimento
fortalece a identidade do IFBA como uma instituição que valoriza a cultura como
forma de conhecimento e como expressão de emancipação. Para os estudantes,
especialmente os jovens das periferias e do interior da Bahia, é uma oportunidade
de verem nas trajetórias culturais do seu povo uma referência legítima de saber
e transformação."
Luzia Mota, reitora
Capinan é um dos integrantes
da Tropicália, movimento artístico dos anos 1960 e 1970 que transformou o
panorama cultural brasileiro. Na sua trajetória, também foi diretor da TV
Educativa da Bahia (1985), secretário municipal de cultura de Camaçari, cidade
da Bahia, (1986) e secretário estadual de cultura da Bahia (1987-1989). Ainda
foi diretor do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Atualmente,
é membro da Academia de Letras da Bahia.
Recentemente, em 26 de abril
de 2023, Capinan recebeu a Medalha do Mérito Cultural, da Câmara Municipal de
Salvador (CMS), e, em 13 de setembro de 2024, aos 83 anos, recebeu o título de
Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Para que instituições de
ensino possam conceder títulos de mérito acadêmico a pessoas que se destacaram
na sua comunidade interna ou fora dela, é preciso seguir protocolos e trâmites
formalmente estabelecidos. Foi em 17 de dezembro de 20224, durante a última
5ª Ordinária do Consup, que o colegiado votou pela aprovação da concessão
do título de Doutor Honoris Causa (DHC) a José Carlos Capinan, após relatoria
do conselheiro Vinícius Oliveira Casais, membro titular do segmento docente.
Antes disso, em 26 de julho
de 2024, a proposta de concessão da honraria foi encaminhada ao Consup pelo
professor Rui Carlos de Sousa Mota, membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão (Consepe). Por conhecer as normas que possibilitam a indicação de
personalidades de significativa relevância para a ciência, cultura e, de forma
mais ampla, sociedade baiana e nacional, o professor conta que a ideia foi
motivada por ser “conhecedor da obra do poeta J.C. Capinan”.
“Quando o IFBA concede este
título a um poeta, escritor, ensaísta, médico, publicitário, compositor,
estamos sinalizando para a sociedade como um todo que somos uma instituição de
ciência e tecnologia onde também se faz e vive cultura e arte. Temos diversos
artistas das mais diversas áreas em nosso quadro de servidores, que certamente
se sentirão representados pela indicação. Ressalto ainda que este título de DHC
deve ser motivo de orgulho de toda Rede Federal”, defende Rui, ao avaliar a
importância do reconhecimento da trajetória artística e cultura de Capinan.
Como mensagem ao artista, o
professor do IFBA exalta: “Capinan é merecedor de todas as homenagens
possíveis, seu trabalho humanístico e plural ultrapassa as fronteiras da Bahia
e, não à toa, tem parceiros no Brasil que cantam e encantam gerações com sua poesia”.
"Dormir no teu colo
é tornar a nascer
Violeta e azul
Outro ser
Luz do querer "
Papel machê, Capinan e João
Bosco
Essa ação para
reconhecimento por meio de honrarias está prevista no Regimento
Geral do IFBA, aprovado pela Resolução nº 26, do Consup, em 27 de junho de
2013, e retificado pela Resoluções nº 05, de 29 de maio de 2017, e nº 44, de 24
de janeiro de 2022. No documento, está normatizado que compete ao(à) reitor(a)
conferir títulos e condecorações, no Art. 24. Já do Art. 219 ao Art. 225, há a
previsão de que será o Conselho Superior a autorizar o(a) reitor(a) a conferir
os títulos de mérito acadêmico, nas modalidades de: (1) Professor(a) Honoris
Causa, (2) Professor(a) Emérito, (3) Medalha de Mérito Educacional, e (4)
Doutor(a) Honoris Causa. De forma mais objetiva, o Regimento do Consup – aprovado pela Resolução/Consup
nº 10, de 16 de maio de 2018 – também trata sobre o tema: “Propor e apreciar a
concessão de títulos de mérito acadêmico e autorizar o reitor a conferi-los”.
Para concessão do título de Professor(a)
Honoris Causa, o(a) homenageado(a) deve ser distinguido(a) pelo exemplar
exercício de atividades acadêmicas ou que, de forma singular, tenha prestado
relevantes serviços à Instituição.
Já o título de Professor(a)
Emérito(a) é concedido a professores(as) do IFBA que tenham se
distinguido por sua atuação nas áreas de ensino, pesquisa ou extensão.
Em relação à Medalha
de Mérito Educacional, pode ser conferida a pessoas dos vários segmentos da
sociedade ou do quadro de servidores(as) e de estudantes do IFBA, em função de
colaboração dada ou serviços prestados à Instituição ou, ainda, por ter
desenvolvido ação que tenha projetado positivamente na sociedade o trabalho
desenvolvido no Instituto. A concessão da Medalha é feita pelo(a) diretor(a)
geral de campus por indicação do diretor de ensino ou coordenação do curso.
"Soy loco por ti,
América
Loco por ti de amores
Soy loco por ti, América
Loco por ti de amores"
Composição de Capinan e
Gilberto Gil
Por fim, o título
de Doutor(a) Honoris Causa é concedido a personalidades que tenham
contribuído para o desenvolvimento sociocultural da Instituição, da Região, do
Estado ou do País ou pela atuação em favor das ciências, letras, artes ou
cultura. A concessão desse título possui regulamentação própria,
que limita a um homenageado por ano e estabelece a deliberação sobre a proposta
no início do primeiro semestre letivo em sessão realizada uma vez por ano.
Exceções estão atreladas a ocorrência de oportunidade excepcional e inadiável.
A presidente do Consup,
Luzia Mota, comenta que: “A decisão do IFBA de regulamentar e conceder o título
de Doutor Honoris Causa a figuras públicas é um marco
institucional e simbólico. Esse gesto vai além do reconhecimento formal — ele
expressa uma postura política e pedagógica de valorização dos saberes que se
constroem fora dos muros da academia, mas que dialogam profundamente com sua
missão pública”.
“Trata-se de uma forma de o
Instituto afirmar sua vocação para a pluralidade de saberes, valorizando
trajetórias que impactam a formação humana, a educação, a cultura e a luta por
justiça social. É, também, um gesto contra-hegemônico, especialmente quando
dirigido a personalidades negras, nordestinas e ligadas às lutas populares, que
historicamente não ocupam o centro dos espaços de validação acadêmica. Ao fazer
isso, o IFBA se inscreve num campo institucional que busca romper com a lógica
meritocrática estreita e reconhece o valor da arte, da militância e da
ancestralidade na construção de um mundo onde os saberes são voltados à
formação humana integral”, completa.
"Abolição
No coração do poeta
Cabe a multidão
Quem sabe essa praça repleta
Navio negreiro já era
Agora quem manda é a galera
Nessa cidade nação"
Cidadão, Capinan e Moraes
Moreira
Nos documentos formais do
IFBA, está normatizado que a apreciação da concessão de tais títulos de mérito
acadêmico será realizada a partir de proposta fundamentada apresentada pelo
reitor(a), pelos membros do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe)
ou do próprio Consup.
Nesse sentido, Luzia lembra
que propostas de concessão da Medalha de Mérito Educacional a
técnicos(as)-administrativos(as) e estudantes do IFBA também podem ser
encaminhadas para avaliação do Conselho. A gestora frisou ainda que “temos
feito essa divulgação porque talvez a comunidade desconheça essa possibilidade,
mas em todos os espaços que eu tenho ido, tenho divulgado que é possível
qualquer pessoa do IFBA, indicar nomes de colegas que considere que merecem uma
honraria da nossa instituição, porque é de profunda importância nós
reconhecermos os nossos próprios valores, homenagearmos e aplaudirmos
profissionais da nossa comunidade. A concessão do título de Doutor Honoris
Causa é importante para nós também porque é uma tradição da Academia, mas a
titulação de Professor Emérito, Professor Honoris Causa e a
Medalha de Mérito Educacional são muito importantes como reconhecimento ao
trabalho e às realizações de pessoas da comunidade interna”.
Sobre a possibilidade de
concessão de títulos a servidores do IFBA, Luzia comenta que há perspectiva e
regulamentação. “Queremos fortalecer a memória institucional e valorizar os
servidores e servidoras que marcaram a história do IFBA com dedicação, excelência
e compromisso público. Tais reconhecimentos não apenas homenageiam indivíduos,
mas também ajudam a construir uma cultura institucional de pertencimento,
respeito e valorização da trajetória coletiva que edifica nossa instituição.
Entendemos que conceder essas distinções não é apenas uma forma de honrar o
passado, mas também de inspirar as novas gerações a enxergarem no serviço
público e na educação um espaço emancipador, legítimo de reconhecimento,
pertencimento”, destaca.
Primeiro título concedido
pelo IFBA
Parceiro de Capinan em
composições como, Viramundo, Soy loco por ti, America, e La
lune de gorée, o artista Gilberto Gil foi a primeira figura pública a
receber o título de Doutor Honoris Causa concedido pelo IFBA.
A homenagem aconteceu em 14 de março de 2023, também no Espaço Cultural 2 de
Julho, da Reitoria do IFBA. No seu discurso à época, Gil falou: “Assim canta a
canção, ao filho da terra que saiu por aí a semear a arte da canção e a colher
desta arte a parte de estimo que passaram a dedicar, a esse filho chamam-no
aqui hoje para prestar-lhe uma homenagem, concedem-no o título de Doutor e
Honra ao seu labor de lavrador dos sons e das palavras e atribuem um valor a
mais, como em seu caderno de poesias, mais um elo de validade, e para a cidade
anunciam porque o fazem e eu digo...é para juntar as pessoas que o fazem. É
que, eu aqui hoje, não sou mais que um mero pretexto para que se juntem mais
uma vez as pessoas, aqui reproduzimos o ato da crença na civilidade, a crença
no dever de alimentar o fogo do futuro, com a lenha do passado, aqui, é o tempo
e o além do tempo, que é celebrado, obrigado, obrigado, infinitamente
obrigado”. Fonte: Canto da MPB
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