Folha de S. Paulo
Em 2026, o eleitor não vai avaliar Trump: vai
escolher o que lhe parecer melhor para sua vida no Brasil
O ministro Alexandre
de Moraes não poderá entrar nos Estados
Unidos, bem como "seus familiares e aliados da corte", conforme
anunciou o secretário de Estado, Marco Rubio.
Guardadas as proporções, algo parecido foi
tentado anos atrás pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT), que queria
cancelar o visto do então correspondente do New York Times, Larry
Rohter, por causa de uma matéria que o desagradou.
Lula foi em boa hora impedido por Márcio Thomaz Bastos, à época ministro da Justiça, cuja morte o privou de seu melhor conselheiro. Estivesse entre nós, doutor Márcio talvez lhe dissesse para maneirar na reação às provocações do celerado do Norte.
Em matéria de grito, Donald Trump sabe melhor do que ninguém se enrolar nas próprias cordas vocais. Na busca por uma nova marca, o governo parece ter encontrado uma na expressão "soberania nacional". Matéria perecível e de uso limitado.
Quando outubro de
2026 chegar, o eleitorado daqui não vai querer saber o que diz ou
deixa de dizer o presidente americano. Estará, sim, interessado em cotejar
perdas e ganhos da gestão Lula e ouvir os planos de seus oponentes para o país.
O efeito positivo da guerra
contra o inimigo externo tem prazo de validade. Se, e quando, os
prejuízos em aumento do desemprego, queda na produção, danos ao comércio e
inflação alta chegarem aos bolsos e às mesas dos brasileiros, a conta será
cobrada do chefe da nação.
Mais que os festejos momentâneos em torno do
colossal erro dos adversários, a Lula compete fazer frente aos problemas reais
do desequilíbrio fiscal, da elevada dívida pública, da baixa produtividade e de
tudo que gera atraso no desenvolvimento.
Nesse campo, o presidente pode ganhar a
batalha da almejada reeleição, caso consiga aliar a resistência à chantagem de
Trump a uma conduta de estadista.
O regozijo de agora pode virar rejeição se a
justa indignação da sociedade for percebida como massa de manobra a serviço de
propósitos imediatistas e meramente eleitorais.
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