terça-feira, 22 de julho de 2025

‘Movimentações atípicas’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem, como e por que lucrou montanhas de dinheiro com o anúncio do tarifaço de Trump?

Agora, mais essa: quem teve informação privilegiada e lucrou montanhas de dinheiro com o anúncio de tarifas de 50% para produtos brasileiros nos EUA? É uma suspeita gravíssima e envolve Donald Trump, capaz de tudo na principal potência do mundo, que parece anestesiada diante de tantos descalabros. Um deles, aliás, também passou praticamente em branco: Elon Musk remexendo documentos secretos do Pentágono sobre a China, onde tem negócios bilionários. Inacreditável!

Segundo o Jornal Nacional, da Rede Globo, houve uma daquelas formidáveis “movimentações financeiras atípicas” no dia 9 de julho, coincidindo com a carta de Trump anunciando o tarifaço para o Brasil. A conexão entre a divulgação da carta e as operações de compra e venda de dólar entrou no radar da AGU e do Supremo: o ministro Alexandre de Moraes mandou investigar.

Menos de três horas antes do anúncio de Trump, com a cotação a R$ 5,46, a compra de dólares disparou para US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões. Veio o anúncio, às 16h17, e, cerca de dois minutos depois, houve o movimento em sentido contrário, com a disparada da venda de dólar – que tinha passado de R$ 5,46 para R$ 5,60. Parece pouco? Pois gerou um ganho fabuloso que precisa ser explicado. Houve informação privilegiada? Quem passou? Quem lucrou?

E assim as “movimentações atípicas” ganham capítulo à parte na novela já tão intrincada de Trump, que embola o julgamento de Jair Bolsonaro (por tentativa de golpe) com Brics, China, Rússia, “quintal dos EUA”, big techs, desmatamento, 25 de Março e até o Pix com os 50%. Toneladas de frutas e pescados do Brasil correm o sério risco de estragar, sem portas para o diálogo e sem solução à vista.

Geraldo Alckmin e Mauro Vieira tentam abrir canais antes de 1.º de agosto, mas parece tarde demais e o problema é bem mais em cima: Trump é um megalomaníaco raivoso e Lula foi longe demais nos recados malcriados para os EUA e nos acenos a China, Rússia e a um Brics agora “adornado” pelo Irã.

Na reunião “Democracia Sempre”, em Santiago, com os presidentes de Chile, Colômbia, Uruguai e Espanha, nesta segunda-feira, Lula voltou a cutucar Trump, ao falar que “inimigos da democracia usam o comércio como instrumento de coerção e chantagem”.

Pode ter sido um tiro pela culatra. Dos 20 países da América Latina, 12 deles da América do Sul, só quatro foram defender democracia, multilateralismo e Brasil? Aliás, dois dos países do Mercosul estão contra e dois a favor de Trump. E a Unasul? Evaporou? Se o encontro no Chile era para demonstrar força e união, o resultado pode ser oposto: fraqueza e desunião.

 

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