
Por enquanto, não há como admitir que nos dois mandatos e, de modo contundente no segundo, exercido por Luiz Inácio Lula da Silva, possa ter sido semeada a ideia de uma época pela qual boa parte dos brasileiros espera em vão. A popularidade do ex-presidente Lula independe do cargo e da condição de ex, com o qual vai demorar a se acostumar. Ele está solto e sem pressa de encontrar o que fazer. Para passar tempo já tem o estilo à vontade que se firmou no segundo mandato e lhe facilitou enrolar o que estivesse à mão. Candidaturas têm prazo fixo, e erro de cálculo em política não volta atrás. Lula mira 2014 sem perder de vista o resto. Primeiro, não ser esquecido. Segundo, ser lembrado sem exagero. E, terceiro, não deixar passar oportunidades ocasionais. É encontrar o que fazer para passar o tempo, e boa sorte.
Que fazer, no entanto, para não dissipar os 87% de popularidade? Fora do governo é temeridade insistir por aí. O próprio Lula deve ter se assustado com a hipótese de vir a ter mais de cem por cento de brasileiros dispostos a aprová-lo. Que houvesse, vá lá. Que a pesquisa revelasse, no entanto, não cairia bem numa democracia que já resistiu a seis eleições presidenciais sem correr qualquer risco. O ex-presidente se sente em plena forma e se dispõe a procurar uma atividade ocupacional maneira. Quem sabe, fundar um clube de ex-presidentes, com a inclusão dos vices que não encontram o que fazer, nem durante o mandato, nem depois. Principalmente, vice que não tenha se destacado no que não fazia.
É natural aos eleitores entenderem as razões pelas quais o ex-presidente Lula terá de caprichar no gênero Chacrinha, quando proclamava que não veio ao mundo senão para confundir. A democracia resistiu a ambos porque soube fazer concessões na hora em que foram necessárias. Temos então de entender que a iniciativa continua com Lula, mas as possibilidades só na aparência tendem à facilidade que encontrou depois que o mensalão, em vez de servir à oposição, caiu no seu colo e beneficiou quem percebeu a tempo perigo entre os que vinham com ele e se entendiam em torno de oportunidades consideradas históricas para o PT.
Se a popularidade chegasse mais perto dos cem por cento, o que fosse de Lula estaria com ele, e ele estaria longe do que tivesse de acontecer. Ao desistir do terceiro mandato, Lula estava abrindo uma porta a outro personagem que não tinha a ver com a sucessão, e optando por ficar do lado de fora para voltar na oportunidade seguinte. Estava se sacrificando à causa da democracia, que não teve oportunidade de agradecer a gentileza e poupar- lhe a crise que se desenhava. Fez como o PSDB, que, no auge do mensalão, concluiu que Lula poderia cair por força apenas da gravidade, e lavou as mãos. A democracia agradeceu, mas não se sentiu obrigada a corresponder. A reciprocidade não funciona em política. A candidatura Dilma Rousseff pegou de muda, mas a ponte para Lula passar não figura no PAC.
Não perguntem ao próprio Lula para não ouvirem o que não querem. Ele deixou de falar como presidente. Na condição de ex, ainda não. Tudo indica que vai se apresentar como o único ex-presidente em atividade e intimidar a concorrência. Do jeito como vinham se equilibrando um presidente para sair sem passar recibo e uma presidente para entrar com elegância, deu o que pensar a quem é dado a esse vício.
Em boa hora, porém, a situação se resolveu com a passagem do poder. Dissipou-se a nuvem doméstica e ficou claro que, descontando a expectativa, o governo Luiz Inácio Lula da Silva pode vir a ser considerado, sem favor de qualquer natureza, o último da série que comprovou não saber o brasileiro, até hoje, onde começa a esquerda e onde termina a direita. Ou vice-versa.
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