domingo, 10 de agosto de 2025

Trump já atingiu seu objetivo no Brasil - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Os dois lados do espectro político do Brasil trabalham pela escalada com os Estados Unidos

O governo americano não prepara novas sanções contra o Brasil. Donald Trump já atingiu o objetivo principal, de rebater para a esquerda o estigma autoritário. Diante disso, Lula e o grupo de Jair Bolsonaro voltaram a fomentar a escalada que interessa a ambos.

De acordo com minha apuração, o Departamento de Estado não tinha planos, até sexta-feira, de adotar novas medidas contra autoridades do STF e do Planalto. O Escritório do Representante de Comércio dos EUA também não recebeu instruções de estudar tarifa adicional contra o Brasil por importar da Rússia, como fez com a Índia.

A aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, último movimento concreto do governo americano, no dia 30, foi seguida pelo ministro do STF com a ordem de prisão domiciliar de Bolsonaro. A medida foi bastante contestada por juristas e até por colegas de Moraes no Supremo.

Os filhos do ex-presidente externaram sua dor de ver o pai preso injustamente. A indignação dos bolsonaristas foi acompanhada de acusações de abuso de poder por parte do ministro do STF por especialistas e pela opinião pública não capturada pela narrativa da esquerda. Esse é o ponto ótimo do ambiente informacional, do ponto de vista de Trump.

Se os EUA adotassem novas medidas, as críticas se voltariam contra o governo americano, por tentativa de ingerência nos assuntos internos do Brasil. Daí o desinteresse em escalar, neste momento. O máximo a que os EUA chegaram foi uma ameaça na conta da embaixada americana no X.

Mas como a tensão interessa politicamente a Lula – ou ele e seus assessores parecem acreditar nisso –, o presidente voltou à carga contra Trump. Em entrevista à Reuters, disse que não procuraria o americano agora, para não se humilhar. Em ligação ao premiê indiano, Narendra Modi, buscou mobilizar o Brics contra os EUA.

Lula quis aproveitar o desconforto de Modi com a imposição de mais 25% de tarifa contra a Índia, em razão das importações da Rússia, elevando a alíquota a 50%. Trump não impôs, e até a semana passada não pretendia impor, essa sobretaxa ao Brasil. Até porque os produtos brasileiros já estão com 50%. E nem contra os chineses, com quem negocia acordo comercial, de forma profissional e sigilosa, como deve ser.

Segundo apuração da jornalista Débora Bergamasco, da CNN Brasil, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo articulam reunião com funcionários do governo americano para “atualizar a situação política e jurídica do Brasil”. Os dois lados no Brasil trabalham pela escalada com os EUA.

 

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