O Estado de S. Paulo
Os dois lados do espectro político do Brasil trabalham pela escalada com os Estados Unidos
O governo americano não
prepara novas sanções contra o Brasil. Donald Trump já atingiu o objetivo
principal, de rebater para a esquerda o estigma autoritário. Diante disso, Lula
e o grupo de Jair Bolsonaro voltaram a fomentar a escalada que interessa a ambos.
De acordo com minha apuração, o Departamento de Estado não tinha planos, até sexta-feira, de adotar novas medidas contra autoridades do STF e do Planalto. O Escritório do Representante de Comércio dos EUA também não recebeu instruções de estudar tarifa adicional contra o Brasil por importar da Rússia, como fez com a Índia.
A aplicação da Lei Magnitsky
contra Alexandre de Moraes, último movimento concreto do governo americano, no
dia 30, foi seguida pelo ministro do STF com a ordem de prisão domiciliar de
Bolsonaro. A medida foi bastante contestada por juristas e até por colegas de
Moraes no Supremo.
Os filhos do ex-presidente
externaram sua dor de ver o pai preso injustamente. A indignação dos
bolsonaristas foi acompanhada de acusações de abuso de poder por parte do
ministro do STF por especialistas e pela opinião pública não capturada pela
narrativa da esquerda. Esse é o ponto ótimo do ambiente informacional, do ponto
de vista de Trump.
Se os EUA adotassem novas
medidas, as críticas se voltariam contra o governo americano, por tentativa de
ingerência nos assuntos internos do Brasil. Daí o desinteresse em escalar,
neste momento. O máximo a que os EUA chegaram foi uma ameaça na conta da
embaixada americana no X.
Mas como a tensão interessa
politicamente a Lula – ou ele e seus assessores parecem acreditar nisso –, o
presidente voltou à carga contra Trump. Em entrevista à Reuters, disse que não
procuraria o americano agora, para não se humilhar. Em ligação ao premiê
indiano, Narendra Modi, buscou mobilizar o Brics contra os EUA.
Lula quis aproveitar o
desconforto de Modi com a imposição de mais 25% de tarifa contra a Índia, em
razão das importações da Rússia, elevando a alíquota a 50%. Trump não impôs, e
até a semana passada não pretendia impor, essa sobretaxa ao Brasil. Até porque
os produtos brasileiros já estão com 50%. E nem contra os chineses, com quem
negocia acordo comercial, de forma profissional e sigilosa, como deve ser.
Segundo apuração da
jornalista Débora Bergamasco, da CNN Brasil, Eduardo Bolsonaro e Paulo
Figueiredo articulam reunião com funcionários do governo americano para
“atualizar a situação política e jurídica do Brasil”. Os dois lados no Brasil
trabalham pela escalada com os EUA.
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