Impacto do tarifaço no Brasil pode não ser tão dramático
O Globo
Qualquer programa de ajuda
do governo precisa ter foco e, sobretudo, ser temporário
Não era apenas bravata. O
Brasil foi alvejado por Donald
Trump com a maior punição em seu tarifaço, uma sobretaxa de 50%
nas exportações aos Estados
Unidos (se até o fim do mês a Índia não ceder à pressão para que
pare de comprar petróleo russo, será o único país sujeito a taxação igual). A
fúria tarifária de Trump, vale lembrar, tem escala planetária. Como tarifas
subiram para praticamente todos os parceiros comerciais americanos, o resultado
será um rearranjo da economia global. Para reduzir os danos aos exportadores
brasileiros, o governo federal terá de analisar caso a caso suas demandas.
O Tesouro não tem recursos
sobrando, e o Executivo não deveria aumentar ainda mais o endividamento para
socorrer todos os que passarem por dificuldade. Qualquer programa de ajuda deve
ter foco e, sobretudo, ser temporário — afinal, sabe-se lá quanto tempo durarão
as tarifas. Para vários segmentos, o sobressalto agudo poderá ser passageiro. O
deslocamento das mercadorias para o mercado interno é sempre uma saída, e há
dezenas de compradores externos além dos Estados Unidos.
Exportadores de café estão
entre os que sem dúvida conseguirão encontrar novos mercados. Há escassez nos
estoques mundiais, e a demanda se mantém inalterada. O setor tem tudo o que é
preciso para buscar alternativas: tradição exportadora, contatos em vários
países e mão de obra especializada em comércio internacional. Esse também é o
caso da indústria de carnes. Com atuação marcante de grandes grupos
empresariais, ela na certa tem mais capacidade de enfrentar as adversidades.
Em setores como a indústria têxtil, de calçados, frutas ou pescados, a situação é outra. Há grande participação de pequenas e médias empresas, mais suscetíveis a problemas como falta de capital de giro. As próximas semanas e meses serão desafiadores, em especial para empresas que trabalham com produtos perecíveis. Mesmo para essas, porém, o governo não deve antecipar linhas de socorro, sob o risco de desestimular a procura por novos mercados. Com o rearranjo no comércio global, é provável que oportunidades surjam.