quarta-feira, 23 de julho de 2025

Defesa oferece a Moraes saída para adiamento de prisão - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O acolhimento da tese da defesa sobre a impossibilidade de conter o uso que as redes sociais fazem de Bolsonaro conferiria um rótulo “garantista” ao processo

Ante a saída espetaculosa de Jair Bolsonaro da Câmara dos Deputados, com a exibição da tornozeleira e o testamento de um perseguido frente a uma multidão de jornalistas, a prisão do ex-presidente parecia um desfecho certo. Afinal, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que proibia a veiculação de entrevistas até por perfis em redes de terceiros, havia sido frontalmente descumprida. De inevitável, porém, a prisão do ex-presidente findou improvável.

Apenas na manhã desta quarta, quando cai a inviolabilidade do domicílio, garantia constitucional para o período noturno, será possível saber se o ex-presidente será preso, mas, no fim da terça, não era esta a expectativa entre advogados, procuradores e até no Supremo Tribunal Federal.

Concorreriam para este recuo, a necessidade de Moraes mostrar-se mais “garantista” ante as ponderações da defesa de que o réu não tem controle sobre o uso que terceiros venham a fazer de suas declarações. “É notório que a replicação de declarações por terceiros em redes sociais constitui desdobramento incontrolável da dinâmicas contemporâneas de comunicação digital”, diz a defesa.

Ao responder os pedidos de esclarecimento de Moraes, os advogados de Bolsonaro apresenta embargos no sentido de que o ministro esclareça como, não estando proibido de dar entrevistas, o ex-presidente possa vir a controlar o uso que delas as redes sociais de terceiros possam fazer. É a deixa para um recuo do ministro, que, assim, neutralizaria as críticas de que sua decisão padece do vezo da censura.

A rigor, as condições para uma prisão preventiva, ante as evidências de que o ex-presidente, em aliança com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), faz coação e obstrução no processo, já estavam dadas desde a adoção das medidas cautelares, como a tornozeleira eletrônica, mas ideia de que a prisão apenas deveria se dar depois do julgamento domina, até aqui, as apostas.

Dessa forma, o Supremo se blindaria das críticas que marcaram sua atuação em outros processos envolvendo presidentes da República e Moraes, em particular, das acusações que pesam contra o acúmulo de poderes com que conduz este processo da trama golpista.

A expectativa, no bolsonarismo, é que, a uma prisão, se seguiria a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro. Com esta lei, o governo americano pune supostos violadores de direitos humanos com congelamento de ativos e banimento de suas instituições financeiras.

A aplicação desta lei, no entanto, parece preocupar menos do que a repercussão da prisão para a cruzada americana contra o comércio brasileiro às vésperas da entrada em vigor do tarifaço, previsto para 1º de agosto. Os ministros reagiram com uma relativa indiferença à decisão de Trump de suspender o visto de entrada no país de sete dos 11 do colegiado.

No PL de Bolsonaro a disposição de ir para o confronto só foi barrada pela proibição, anunciada pelo presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), de funcionamento das comissões de Segurança e Relações Exteriores da Casa durante o recesso. Ambas as comissões serviriam de palanque para a claque bolsonarista.

Ainda que a nota da defesa tenha sido no sentido do estrito cumprimento da decisão de Moraes, no entorno bolsonarista a prisão preventiva também passou a ser vista como alternativa capaz de levar a uma reação ainda mais dura do governo americano. No governo brasileiro, a torcida, silenciosa, é por uma trégua do embate jurídico até que as reações da imprensa americana, de formadores de opinião como o prêmio Nobel Paul Krugmann, ativo na defesa do Brasil, e até de recursos judiciais de empresários americanos prejudicados pelo tarifaço, comecem a se adensar.

 

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