O Estado de S. Paulo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai fazer dobradinha com a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, nas articulações políticas com o Congresso para isolar aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a partir de agosto, quanto terminam as férias parlamentares. Ferrenhos adversários no PT, os dois se uniram no governo para cumprir a meta fiscal, dispostos a enfrentar a rebelião que se anuncia com a possível prisão de Bolsonaro.
Revoltados com o presidente Lula e com o
Supremo Tribunal Federal (STF), deputados e senadores do PL e do Centrão
prometem obstruir votações de interesse do Palácio do Planalto.
Nesse cabo de guerra, enquanto o governo e o
PT colam em Bolsonaro e em seu filho Eduardo o desgaste do tarifaço de 50%
imposto ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a oposição joga a
culpa no colo de Lula e do ministro do STF Alexandre de Moraes, relator da
trama golpista na Corte.
Haddad e Gleisi sabem que o Congresso
retomará as atividades com a faca nos dentes após o presidente vetar o aumento
do número de deputados de 513 para 531. Além disso, nem a Câmara nem o Senado
engoliram a derrota no caso do IOF.
Chamado de “Taxad”, Haddad foi jogado no
ringue justamente depois que propôs o aumento do IOF. Enfrentou a oposição do
ministro da Casa Civil, Rui Costa, até que, quase indo a nocaute, virou o jogo
ao encontrar uma mensagem de apelo popular: falou em cobrar impostos do “andar
de cima”.
Mais do que uma propaganda de curto prazo, o
discurso da reforma da renda será o mote da campanha de Lula à reeleição, em
2026. O desafio do governo, agora, é conseguir dinheiro para fechar as contas.
As de 2025 estão resolvidas, mas as do ano que vem, não.
É aí que entram em cena o PL de Bolsonaro e
partidos do Centrão com o mesmo propósito: atrapalhar ao máximo a vida de Lula
no Congresso.
Todos ameaçam derrubar a Medida Provisória
que prevê a incidência de IR sobre emissões de títulos, como letras de crédito
agrícola e imobiliário. Apenas com essa MP, o governo pretende arrecadar R$
31,4 bilhões até 2026. Sem o dinheiro, a equipe econômica já avisou que terá de
cortar emendas parlamentares.
Diante desse cenário de dificuldades, e com a
sirene do apocalipse que vem dos EUA tocando cada vez mais forte, Gleisi se
aliou a Haddad. A resolução política do PT, que, sob comando da então deputada,
chamava o arcabouço de “austericídio fiscal”, virou pó. E o ex-presidente da
Câmara Arthur Lira (PP), que sempre deu as cartas no Centrão, é hoje chamado no
Planalto de “companheiro Lira”.
Lula e o PT apostam agora na desidratação de
Bolsonaro e de seus possíveis herdeiros, como o governador Tarcísio de Freitas,
para avançar mais algumas casas nesse tabuleiro.
Mas é bom ter cautela: com Trump e Bolsonaro
na parada, tudo pode acontecer, inclusive nada. O jogo é de alto risco e
desfecho imprevisível.
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