Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
A China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Será?
É um equívoco confundir a globalização com o neoliberalismo, a implementação das idéias monetaristas de Milton Friedman, dos EUA, e de Friedrich August Von Hayek, da Grã-Bretanha, após a crise do petróleo de 1973. Como os governos não conseguiam financiar os gastos públicos do Estado de bem-estar social que surgiu após a II Guerra Mundial, os dois economistas defenderam sua retirada da economia como forma de combater os déficits públicos, equilibrar as balanças comerciais e controlar a inflação. A tese funcionou. Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, lideraram a reforma conservadora que promoveu um longo ciclo de crescimento mundial e implodiu a União Soviética. Foram 30 anos de hegemonia, cujo colapso político pode ser atribuído ao militarismo do republicano George Bush, que se atolou nos cafundós do Iraque e do Afeganistão. No plano econômico, a desregulamentação do mercado financeiro entrou em parafuso nos Estados Unidos. A bagunça fez a casa cair. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, mas a globalização continua.
Samuelson
Qualquer estudante de economia conhece as idéias de Paul Samuelson, Prêmio Nobel de 1970, autor do manual de economia mais estudado no mundo. Decano da escola keynesiana, já publicou três artigos sobre a crise. O primeiro foi em novembro passado, no NY Times, no qual defendeu a ação do governo para controlar o mercado. No segundo, no mesmo órgão, lembrou que o Japão pagou muito caro pela “bolha” do mercado imobiliário dos anos 1980, numa longa estagflação. Na semana passada, no Tribune Media, o velho professor comparou a política de Bush no Iraque e no Afeganistão aos fracassos De Gaulle na Argélia e de Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon no Vietnã. Relembrou as lições da Grande Depressão: “O capitalismo puro não pode evitar alguns ciclos econômicos. Tampouco pode se contar com o ‘laissez-faire’ dos mercados para cuidar dos próprios males”. Para ele, o governo precisa fazer tudo para evitar a estagflação.
Soros
O megainvestidor Geogr Soros adora ganhar dinheiro com crises. Seu livro sobre o assunto, New Paradigm For Financial Markets: The Credit Crisis of 2008 and What it Means (O novo paradigma para o mercado financeiro: a crise de crédito de 2008 e o que ela significa), virou um best-seller. Ele avisa que a crise está longe de acabar. Existiria uma “superbolha” no mercado financeiro, criada pelo que chama de “fundamentalismo de mercado”. Todas as crises financeiras, desde a primeira do México, em 1982, foram conseqüência do dogma de que os mercados são capazes de se auto-regular. “Para conseguir que os bancos tapassem os buracos em suas balanças de pagamento, estas instituições receberam permissão para buscar novos modos de fazer dinheiro. Também foram encorajados a jogar esses prejuízos para fora de suas folhas de balanço e repassar, vender papéis das dívidas para outros, para recuperar recursos. Assim, imaginava-se que fossem compensados”, explica Soros. Segundo ele, regras após regras foram abandonadas. “O resultado foi o surgimento de um mercado financeiro disfuncional, com segmentos particulares completamente sem supervisão e fazendo negócios absurdos”. Para Soros, o mercado e suas instituições devem cumprir regulamentações e ser supervisionados.
Minqi Li
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
A China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Será?
É um equívoco confundir a globalização com o neoliberalismo, a implementação das idéias monetaristas de Milton Friedman, dos EUA, e de Friedrich August Von Hayek, da Grã-Bretanha, após a crise do petróleo de 1973. Como os governos não conseguiam financiar os gastos públicos do Estado de bem-estar social que surgiu após a II Guerra Mundial, os dois economistas defenderam sua retirada da economia como forma de combater os déficits públicos, equilibrar as balanças comerciais e controlar a inflação. A tese funcionou. Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, lideraram a reforma conservadora que promoveu um longo ciclo de crescimento mundial e implodiu a União Soviética. Foram 30 anos de hegemonia, cujo colapso político pode ser atribuído ao militarismo do republicano George Bush, que se atolou nos cafundós do Iraque e do Afeganistão. No plano econômico, a desregulamentação do mercado financeiro entrou em parafuso nos Estados Unidos. A bagunça fez a casa cair. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, mas a globalização continua.
Samuelson
Qualquer estudante de economia conhece as idéias de Paul Samuelson, Prêmio Nobel de 1970, autor do manual de economia mais estudado no mundo. Decano da escola keynesiana, já publicou três artigos sobre a crise. O primeiro foi em novembro passado, no NY Times, no qual defendeu a ação do governo para controlar o mercado. No segundo, no mesmo órgão, lembrou que o Japão pagou muito caro pela “bolha” do mercado imobiliário dos anos 1980, numa longa estagflação. Na semana passada, no Tribune Media, o velho professor comparou a política de Bush no Iraque e no Afeganistão aos fracassos De Gaulle na Argélia e de Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon no Vietnã. Relembrou as lições da Grande Depressão: “O capitalismo puro não pode evitar alguns ciclos econômicos. Tampouco pode se contar com o ‘laissez-faire’ dos mercados para cuidar dos próprios males”. Para ele, o governo precisa fazer tudo para evitar a estagflação.
Soros
O megainvestidor Geogr Soros adora ganhar dinheiro com crises. Seu livro sobre o assunto, New Paradigm For Financial Markets: The Credit Crisis of 2008 and What it Means (O novo paradigma para o mercado financeiro: a crise de crédito de 2008 e o que ela significa), virou um best-seller. Ele avisa que a crise está longe de acabar. Existiria uma “superbolha” no mercado financeiro, criada pelo que chama de “fundamentalismo de mercado”. Todas as crises financeiras, desde a primeira do México, em 1982, foram conseqüência do dogma de que os mercados são capazes de se auto-regular. “Para conseguir que os bancos tapassem os buracos em suas balanças de pagamento, estas instituições receberam permissão para buscar novos modos de fazer dinheiro. Também foram encorajados a jogar esses prejuízos para fora de suas folhas de balanço e repassar, vender papéis das dívidas para outros, para recuperar recursos. Assim, imaginava-se que fossem compensados”, explica Soros. Segundo ele, regras após regras foram abandonadas. “O resultado foi o surgimento de um mercado financeiro disfuncional, com segmentos particulares completamente sem supervisão e fazendo negócios absurdos”. Para Soros, o mercado e suas instituições devem cumprir regulamentações e ser supervisionados.
Minqi Li
O chinês Minqi Li ensina economia na Universidade de Utah, em Salt Lake City. Escreveu um ensaio intitulado “Uma era de transição: os Estados Unidos, a China, o pico petrolífero e o fim do neoliberalismo”, no qual endossa as teses de Immanuel Wallertein de que o neoliberalismo morreu. Mas faz um paralelo muito interessante sobre as relações entre os Estados Unidos e a China. “Como à Eurozona falta impulso de crescimento e o Brasil, Rússia e Índia permanecem relativamente pequenos para desempenhar papéis decisivos na economia global, a China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Poderá a China conduzir o capitalismo mundial a um outro período de estabilidade e crescimento rápido?”, indaga. Após meados dos anos 1990, o neoliberalismo deparou-se com a resistência crescente por todo o mundo. Muitos governos estão restaurando a regulação estatal e a proteção social, como é o caso brasileiro.
“Provavelmente observaremos um retorno ao domínio keynesiano ou às políticas capitalistas de Estado por todo o mundo”, prevê Minqi Li. Para ele, porém, o ambiente global está à beira do colapso. Não há mais espaço ecológico para outra grande expansão do capitalismo com base no padrão energético atual. Além disso, a China optou por uma via perversa de expansão: sua produção é muito maior do que a procura mundial e não pode ser suportada pela oferta de energia e matérias-primas. A crise global também baterá à porta dos chineses e a saída será reorientar sua produção industrial para um mercado interno cujo consumo de massas hoje é limitado pelos baixos salários.
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