Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O segredo é de polichinelo. Tanto que o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal, na quinta-feira deu oficialmente com a linha nos dentes e saiu dizendo que a oposição seria “imbatível” se disputasse a eleição de 2010 com uma chapa tucana puro-sangue: José Serra para presidente e Aécio Neves de vice.
O deputado não inventou nem inovou. A idéia vem sendo cogitada há algum tempo na seara oposicionista e agora já começa a ser discutida como uma possibilidade real. A única capaz de levar a oposição de volta ao Palácio do Planalto e impedir o presidente Luiz Inácio da Silva de eleger seu sucessor.
No campo da elaboração teórica é de uma lógica impecável: abandona o mito de que a união de partidos diferentes aumenta a chance de vitória e adota o princípio da unidade regional juntando os governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País.
Em números redondos e aproximados, o Brasil tem pouco mais de 130 milhões de eleitores, sendo 30 milhões paulistas e 14 milhões mineiros. Somam 44 milhões e resultam em cerca de um terço do eleitorado brasileiro.
De posse desse capital, reza a fórmula em discussão, daria para enfrentar com folga o favoritismo de Lula, notadamente no Nordeste, sem contar a expectativa de boa pescaria ao Sul, a partir do Paraná.
Ainda no terreno das idéias, Serra firmaria com Aécio o compromisso de não disputar um novo mandato, se eleito, deixando a vaga para o colega em 2014. Não por acaso nem por motivo diverso, o governador de São Paulo continua insistindo em patrocinar uma proposta de emenda constitucional extinguindo a reeleição para presidentes, governadores e prefeitos.
Tendo em vista a inexistência de tempo hábil e consenso para aprovar algo no gênero a fim de que a próxima eleição presidencial já se dê sob a nova regra, Serra defende a tese para afirmar seu comprometimento com ela, ainda que na condição de voto vencido.
Conta com a vantagem moral de ter ficado contra a reeleição quando o PSDB usou do poder da Presidência para tornar constitucional o direito a dois mandatos consecutivos, com validade imediata para propiciar o benefício a Fernando Henrique Cardoso.
O DEM, teoricamente pretendente à vaga de vice, não apenas concorda em deixar o lugar para Aécio como é dos mais entusiasmados com essa possibilidade. Afinal, sabe bem como a Esplanada dos Ministérios dispõe de campos mais férteis que a vice a serem explorados.
E por que para Aécio seria um bom negócio ser coadjuvante no Executivo quando poderia ser protagonista no Legislativo, como presidente do Senado, por exemplo?
Na visão de companheiros de partidos e correligionários de possíveis alianças, porque no Senado há embates e desgastes inexistentes para um vice-presidente.
Além disso, teria alguma função especial na área onde exercita melhor seus dotes políticos de “ajeitador” de contrários e poderia circular por toda parte em missões de representação mais adequadas ao temperamento do mineiro que à personalidade do paulista, pouco dado a festejos.
Posto dessa forma, parece tudo muito bonito, colorido e até mesmo resolvido. Mas por ora há apenas o método, faltando ainda resolver o principal: a remoção dos obstáculos para sua execução. O mais pesado deles, no momento, é justamente o governador Aécio Neves, com quem as coisas precisam ser muito bem combinadas antes de ser anunciadas.
O governador de Minas está ciente da dianteira de Serra dentro e fora do partido, mas não ignora sua força de líder hoje com domínio político absoluto sobre um Estado (não é o caso de Serra em São Paulo) e com nítido trânsito de preferência entre setores do empresariado e mesmo partidários. Aécio, portanto, continua candidato a presidente até que o quadro se confirme ou se modifique.
O menos interessado em assumir o projeto sem que esteja sacramentado e, de preferência, com Aécio Neves escolhido para lançá-lo, é José Serra.
Da parte dele equivaleria a tratar Aécio como figura secundária e, em conseqüência, arriscar-se a arrumar uma confusão com o eleitor de Minas, que deposita na figura do governador a expectativa da reabilitação do Estado como passagem obrigatória do eixo de poder nacional.
Por isso, o plano original seria deixar que as coisas seguissem um curso mais ou menos natural e formular a intenção de montar mesmo a chapa “pura” só a partir de meados de 2009.
Os dois governadores vêm circulando juntos em alguns eventos das campanhas municipais, posaram para fotos com o mais bem-sucedido tucano do certame (Beto Richa, com 72% da preferência para a reeleição em Curitiba) e até já se depararam com adesivos “Serra-Aécio” confeccionados por militantes, mas não passaram recibo: nem de gosto nem de desgosto.
Entre outros motivos por causa do volume de água que ainda há de rolar por baixo das pontes antes de a paz de espírito reinar entre os homens de boa vontade do PSDB e adjacências.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O segredo é de polichinelo. Tanto que o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal, na quinta-feira deu oficialmente com a linha nos dentes e saiu dizendo que a oposição seria “imbatível” se disputasse a eleição de 2010 com uma chapa tucana puro-sangue: José Serra para presidente e Aécio Neves de vice.
O deputado não inventou nem inovou. A idéia vem sendo cogitada há algum tempo na seara oposicionista e agora já começa a ser discutida como uma possibilidade real. A única capaz de levar a oposição de volta ao Palácio do Planalto e impedir o presidente Luiz Inácio da Silva de eleger seu sucessor.
No campo da elaboração teórica é de uma lógica impecável: abandona o mito de que a união de partidos diferentes aumenta a chance de vitória e adota o princípio da unidade regional juntando os governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País.
Em números redondos e aproximados, o Brasil tem pouco mais de 130 milhões de eleitores, sendo 30 milhões paulistas e 14 milhões mineiros. Somam 44 milhões e resultam em cerca de um terço do eleitorado brasileiro.
De posse desse capital, reza a fórmula em discussão, daria para enfrentar com folga o favoritismo de Lula, notadamente no Nordeste, sem contar a expectativa de boa pescaria ao Sul, a partir do Paraná.
Ainda no terreno das idéias, Serra firmaria com Aécio o compromisso de não disputar um novo mandato, se eleito, deixando a vaga para o colega em 2014. Não por acaso nem por motivo diverso, o governador de São Paulo continua insistindo em patrocinar uma proposta de emenda constitucional extinguindo a reeleição para presidentes, governadores e prefeitos.
Tendo em vista a inexistência de tempo hábil e consenso para aprovar algo no gênero a fim de que a próxima eleição presidencial já se dê sob a nova regra, Serra defende a tese para afirmar seu comprometimento com ela, ainda que na condição de voto vencido.
Conta com a vantagem moral de ter ficado contra a reeleição quando o PSDB usou do poder da Presidência para tornar constitucional o direito a dois mandatos consecutivos, com validade imediata para propiciar o benefício a Fernando Henrique Cardoso.
O DEM, teoricamente pretendente à vaga de vice, não apenas concorda em deixar o lugar para Aécio como é dos mais entusiasmados com essa possibilidade. Afinal, sabe bem como a Esplanada dos Ministérios dispõe de campos mais férteis que a vice a serem explorados.
E por que para Aécio seria um bom negócio ser coadjuvante no Executivo quando poderia ser protagonista no Legislativo, como presidente do Senado, por exemplo?
Na visão de companheiros de partidos e correligionários de possíveis alianças, porque no Senado há embates e desgastes inexistentes para um vice-presidente.
Além disso, teria alguma função especial na área onde exercita melhor seus dotes políticos de “ajeitador” de contrários e poderia circular por toda parte em missões de representação mais adequadas ao temperamento do mineiro que à personalidade do paulista, pouco dado a festejos.
Posto dessa forma, parece tudo muito bonito, colorido e até mesmo resolvido. Mas por ora há apenas o método, faltando ainda resolver o principal: a remoção dos obstáculos para sua execução. O mais pesado deles, no momento, é justamente o governador Aécio Neves, com quem as coisas precisam ser muito bem combinadas antes de ser anunciadas.
O governador de Minas está ciente da dianteira de Serra dentro e fora do partido, mas não ignora sua força de líder hoje com domínio político absoluto sobre um Estado (não é o caso de Serra em São Paulo) e com nítido trânsito de preferência entre setores do empresariado e mesmo partidários. Aécio, portanto, continua candidato a presidente até que o quadro se confirme ou se modifique.
O menos interessado em assumir o projeto sem que esteja sacramentado e, de preferência, com Aécio Neves escolhido para lançá-lo, é José Serra.
Da parte dele equivaleria a tratar Aécio como figura secundária e, em conseqüência, arriscar-se a arrumar uma confusão com o eleitor de Minas, que deposita na figura do governador a expectativa da reabilitação do Estado como passagem obrigatória do eixo de poder nacional.
Por isso, o plano original seria deixar que as coisas seguissem um curso mais ou menos natural e formular a intenção de montar mesmo a chapa “pura” só a partir de meados de 2009.
Os dois governadores vêm circulando juntos em alguns eventos das campanhas municipais, posaram para fotos com o mais bem-sucedido tucano do certame (Beto Richa, com 72% da preferência para a reeleição em Curitiba) e até já se depararam com adesivos “Serra-Aécio” confeccionados por militantes, mas não passaram recibo: nem de gosto nem de desgosto.
Entre outros motivos por causa do volume de água que ainda há de rolar por baixo das pontes antes de a paz de espírito reinar entre os homens de boa vontade do PSDB e adjacências.
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