Luciana Nunes Leal
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Ex-tucano teme que presidente queira retribuir apoio de Crivella
A participação intensa do governador Sérgio Cabral na campanha eleitoral, a farta arrecadação, que já ultrapassa R$ 3 milhões, o bom tempo na TV e a promessa de uma inédita parceria da cidade com o governo federal deram ao candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes, a liderança na disputa. A vaga praticamente assegurada no segundo turno, porém, não tranqüiliza o ex-tucano. No comando da campanha, a grande preocupação é garantir a neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com cinco candidatos de partidos aliados na briga, Lula optou por ficar fora do primeiro turno no Rio. Até agora, apesar da subida de alguns candidatos, as pesquisas indicam maior possibilidade de segundo turno entre Paes, aliado recente, e o candidato do PRB, senador Marcelo Crivella, antigo parceiro do presidente. É aí que entra a apreensão dos peemedebistas.
Em 2005, como deputado do PSDB e integrante da CPI dos Correios, Paes foi implacável nas acusações a integrantes do governo Lula. Crivella ficou ao lado do presidente. Agora, o temor dos peemedebistas é de que Lula compense, no segundo turno, a solidariedade do senador, até para agradar ao vice-presidente José Alencar, também do PRB.
“Não vou criar constrangimento para o presidente Lula. Ele tem sido corretíssimo. Não dá para pedir outra coisa que não seja a eqüidistância”, disse Paes na quarta-feira, acomodado na van que o levava de um ponto a outro da zona norte carioca, onde fez uma série de caminhadas, muitas delas longe da imprensa. É o corpo-a-corpo “sem patrulha”, nas palavras do candidato. A estratégia de Paes é divulgar apenas um, no máximo dois, compromissos de campanha por dia. O resto faz parte da agenda reservada.
Com poucos assessores e candidatos a vereador e muitos cabos eleitorais distribuindo bandeiras e cartazes, Paes segue o modelo da campanha vitoriosa de Cabral em 2006: dá atenção especial aos idosos, cumprimenta as mulheres com beijo na mão, conversa como se encontrasse velhos conhecidos.
Questionado sobre o peso do governador em seu desempenho nas pesquisas, Paes não tem dúvidas: “Cem por cento. Ele foi fundamental.” Cabral, cada vez mais presente no programa de TV e na agenda de campanha de fim de semana, terá atuação decisiva também no segundo turno, não só para negociar apoio dos candidatos derrotados como para tentar garantir a distância de Lula da sucessão carioca.
Para o governador, tamanho empenho na campanha de Paes se justifica. Além de tentar garantir um aliado na prefeitura, ele acredita que sair vitorioso na capital lhe dará mais visibilidade no cenário nacional. Em 2010, no entanto, o plano de Cabral ainda é buscar a reeleição. Se for confirmada a disputa entre Crivella e Paes, o prefeito Cesar Maia (DEM), antigo aliado e padrinho político do peemedebista, provavelmente ficará com o candidato do PRB. Uma vantagem para Paes é o fato de que Cabral tem em seu governo partidos que hoje estão em outras candidaturas, como PT e PSB, mas que tenderiam a se aliar ao PMDB no segundo turno.
DIFICULDADES
Além da dúvida sobre o comportamento de Lula, a cautela da equipe de Paes se justifica também pelo fato de que o candidato ainda tem dificuldades em alguns pontos da cidade, apontadas em pesquisas internas encomendadas pelo PMDB. Em bairros da periferia com grande influência da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Crivella é bispo licenciado, e em grandes favelas, como o Complexo da Maré, Paes está em desvantagem. Por outro lado, os peemedebistas animam-se com o crescimento na zona oeste e também na zona sul, onde é forte o candidato do PV, Fernando Gabeira, em coligação com o PSDB.
Em três semanas, Paes subiu 15 pontos no Ibope, passando de 12% para 27%. Crivella caiu 5 pontos, de 28% para 23%. Pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira confirmou tendência de queda de Crivella e mostrou Paes isolado na liderança.
O candidato do PMDB faz uma campanha rica. Até agora, arrecadou R$ 3,165 milhões, equivalentes a 68,3% da arrecadação de todos os adversários juntos. O maior doador é o empresário Eike Batista, com R$ 500 mil. Empresas da construção civil e imobiliárias também são colaboradoras.
Sempre que indagado sobre a aparente incoerência entre o comportamento na CPI dos Correios em 2005 e a defesa de Lula que faz agora, além do fato de já ter passado por outros quatro partidos (PV, PFL, PTB e PSDB), Paes diz que esses são seus “maiores pecados”. Ele não esconde o fato de ter sido afilhado político do prefeito Cesar Maia e também fala com orgulho da sólida formação liberal, dos tempos do PFL - hoje DEM.
Hoje, Paes se define como “político de centro, com visão importante do papel do Estado”. Fiel ao atual aliado, cita o governador fluminense como político que admira. “Estou numa fase Sérgio Cabral”, define. Entre os estrangeiros, cita o presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill. Acha o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González “fantástico”, o ex-presidente americano Bill Clinton “sensacional” e a senadora Hillary Clinton “maravilhosa”.
TUCANOS
Embora tenha deixado o PSDB, Paes tem entre os tucanos não só amigos, mas colaboradores de campanha, como o vereador Luiz Guaraná e o deputado estadual Pedro Paulo. “Tenho muito orgulho dos apoios. Também não crio constrangimentos para aqueles do meu partido que não estão comigo”, diz Paes.
Entre os peemedebistas ausentes da campanha está o ex-governador Anthony Garotinho. Adversário de Cabral - embora militem na mesma legenda -, Garotinho avisou ao candidato que não participaria da campanha. Preferiu concentrar-se no esforço de eleger a filha Clarissa vereadora e a mulher Rosinha, ex-governadora, prefeita de Campos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário