DEU EM O GLOBO
O presidente Lula, que vai receber o título de Estadista Global no Fórum Econômico Mundial na próxima sextafeira, tem mantido uma relação mais amistosa com Davos do que seria de se esperar de um líder de esquerda no encontro que praticamente define os caminhos do capitalismo mundial. E certamente uma relação bem melhor do que a que mantém com o Fórum Social Mundial, que, por ironia da política, foi criado pelo PT justamente para se contrapor a Davos.
Desde seu primeiro ano de governo, Lula vem tentando se equilibrar entre os dois encontros, mas não tem tido muito sucesso com seus companheiros de “um novo mundo é possível”, mote do fórum social.
No primeiro ano, compareceu aos dois fóruns, e foi vaiado em Porto Alegre por isso.
Em contrapartida, foi tratado como a grande estrela da reunião daquele ano em Davos.
Em Porto Alegre, Lula criticou a reunião, que, segundo ele, corria o risco de se transformar em uma “feira de produtos ideológicos, onde cada um compra o que quiser e vende o que quiser”.
Lula cobrava dos organizadores do Fórum resultados concretos. Naquela ocasião, ele demonstrou saber perfeitamente diferenciar seu papel de presidente da República do Brasil do de militante político, e me lembro que explicou a diferença a um socialista francês que o encontrou na embaixada do Brasil em Paris e demonstrou descontentamento por ele ter ido a Davos.
Lula foi curto e grosso: “Hoje eu não sou militante do PT, sou presidente da República. E devo fazer tudo o que um presidente tem que fazer.” O que parecia, àquela época, uma decisão de fazer um governo apartidário acabou se revelando o embrião do que viria a ser o lulismo, um governo personalista que colocou os interesses pessoais de Lula acima do PT, mas dedicado a criar um culto à personalidade que acabou direcionando até mesmo nossa política externa.
Seu primeiro aparecimento para a cúpula do capitalismo internacional foi um sucesso naquele ano, prenunciando o que aconteceria nos anos seguintes pelo mundo, e houve até mesmo quem o chamasse de “o novo Gandhi”, num arroubo patriótico difícil de sustentar mesmo com toda a campanha contra a fome.
Em 2004 (na Índia) e 2006 (na Venezuela, em Mali e no Paquistão), Lula não foi ao Fórum Social, mas também não foi ao Econômico. Em 2005, o presidente novamente participou dos dois encontros. Em 2008, não houve Fórum Social, e Lula também não foi a Davos.
Em 2006, o presidente Lula tinha razões distintas para não comparecer aos dois fóruns mundiais entre os quais se equilibra desde que chegou à Presidência da República. O Fórum Social estava organizado para servir de palco para o histrionismo antiamericano de Hugo Chávez, com um ato políticocultural “contra a guerra e o império” em Caracas.
E o Fórum Econômico Mundial naquele ano se dedicava aos “temas intangíveis”, como motivação e produtividade, mais apropriados a executivos de grandes empresas, e que parecem quase esotéricos a presidentes de países do terceiro mundo como Lula. Além do mais, o Brasil estava fora do interesse do Fórum, ao contrário de China e Índia.
Mas houve dois anos em que Lula fez questão de assumir posições explícitas. Em 2007, com a economia mundial de vento em popa, e a brasileira entrando em ritmo de crescimento acima da média dos últimos anos, Lula escandalizou a esquerda ao decidir comparecer apenas ao Fórum Econômico, deixando de lado a reunião social no Quênia.
Naquela ocasião, o ex-assessor especial da Presidência e um dos idealizadores do Fórum Social Oded Grajew lembrou que a coincidência de datas entre os dois eventos, desde a criação do evento, em 2001, foi proposital para “fazer as pessoas escolherem seus caminhos, dizerem onde se sentem mais identificadas”.
Já em 2009, com a crise econômica internacional que estourara em setembro do ano anterior, Lula decidiu pela primeira vez comparecer apenas ao Fórum Social, que se realizou em Belém, onde fez críticas aos “donos do Universo”.
Na busca de reaproximação com os movimentos sociais, Lula criticou os Estados Unidos e os países desenvolvidos, culpando-os pela crise econômica mundial, e pôde dividir o protagonismo com os líderes esquerdistas como Chávez e Evo Morales, que sempre fizeram muito sucesso no Fórum Social e nunca puseram os pés na estação de esqui suíça que hospeda o Fórum Econômico.
Lula já assumiu vários papéis em Davos: houve ano em que foi um vendedor entusiasmado do Brasil para os investidores internacionais, coordenando uma reunião especial sobre os programas de infraestrutura que lançaria; houve anos em que foi apenas o líder carismático a encantar os “louros de olhos azuis” com sua história de vida, de superação.
Mas houve também ocasiões em que foi superado por aparições como a do presidente da Tanzânia, Benjamin William Mkapa, que na reunião de 2005 roubou de Lula o lugar de estrela da companhia, pedindo doações para comprar mosquiteiros para combater um surto de malária.
A atriz Sharon Stone estava na plateia e deu um show à parte, recolhendo donativos.
Como Lula estava lá na qualidade de representante dos emergentes Brics, países que se candidatam a futuros líderes mundiais, não teve tanta atenção quanto “o pobre da vez”.
O interesse pela América Latina tem sido crescente nas últimas reuniões de Davos, especialmente devido ao desenvolvimento econômico mantido anos seguidos, com uma melhora da distribuição de renda e o fortalecimento da democracia na região, apesar da presença crescente de governantes autoritários, cujo paradigma é Hugo Chávez, da Venezuela.
A presença de um governante de esquerda com características moderadas, e o destaque que o Brasil vem ganhando nos últimos anos, a ponto de estar sendo apontado como candidato a se transformar em quinta economia do mundo em 2030 por recente estudo da consultoria PriceWaterhouse and Coopers, tornaram a homenagem de Davos a Lula uma consequência natural em seu último ano de governo.
Ao contrário do relacionamento com o Fórum Social, que continua preferindo a liderança histriônica e radical de Chávez.
O presidente Lula, que vai receber o título de Estadista Global no Fórum Econômico Mundial na próxima sextafeira, tem mantido uma relação mais amistosa com Davos do que seria de se esperar de um líder de esquerda no encontro que praticamente define os caminhos do capitalismo mundial. E certamente uma relação bem melhor do que a que mantém com o Fórum Social Mundial, que, por ironia da política, foi criado pelo PT justamente para se contrapor a Davos.
Desde seu primeiro ano de governo, Lula vem tentando se equilibrar entre os dois encontros, mas não tem tido muito sucesso com seus companheiros de “um novo mundo é possível”, mote do fórum social.
No primeiro ano, compareceu aos dois fóruns, e foi vaiado em Porto Alegre por isso.
Em contrapartida, foi tratado como a grande estrela da reunião daquele ano em Davos.
Em Porto Alegre, Lula criticou a reunião, que, segundo ele, corria o risco de se transformar em uma “feira de produtos ideológicos, onde cada um compra o que quiser e vende o que quiser”.
Lula cobrava dos organizadores do Fórum resultados concretos. Naquela ocasião, ele demonstrou saber perfeitamente diferenciar seu papel de presidente da República do Brasil do de militante político, e me lembro que explicou a diferença a um socialista francês que o encontrou na embaixada do Brasil em Paris e demonstrou descontentamento por ele ter ido a Davos.
Lula foi curto e grosso: “Hoje eu não sou militante do PT, sou presidente da República. E devo fazer tudo o que um presidente tem que fazer.” O que parecia, àquela época, uma decisão de fazer um governo apartidário acabou se revelando o embrião do que viria a ser o lulismo, um governo personalista que colocou os interesses pessoais de Lula acima do PT, mas dedicado a criar um culto à personalidade que acabou direcionando até mesmo nossa política externa.
Seu primeiro aparecimento para a cúpula do capitalismo internacional foi um sucesso naquele ano, prenunciando o que aconteceria nos anos seguintes pelo mundo, e houve até mesmo quem o chamasse de “o novo Gandhi”, num arroubo patriótico difícil de sustentar mesmo com toda a campanha contra a fome.
Em 2004 (na Índia) e 2006 (na Venezuela, em Mali e no Paquistão), Lula não foi ao Fórum Social, mas também não foi ao Econômico. Em 2005, o presidente novamente participou dos dois encontros. Em 2008, não houve Fórum Social, e Lula também não foi a Davos.
Em 2006, o presidente Lula tinha razões distintas para não comparecer aos dois fóruns mundiais entre os quais se equilibra desde que chegou à Presidência da República. O Fórum Social estava organizado para servir de palco para o histrionismo antiamericano de Hugo Chávez, com um ato políticocultural “contra a guerra e o império” em Caracas.
E o Fórum Econômico Mundial naquele ano se dedicava aos “temas intangíveis”, como motivação e produtividade, mais apropriados a executivos de grandes empresas, e que parecem quase esotéricos a presidentes de países do terceiro mundo como Lula. Além do mais, o Brasil estava fora do interesse do Fórum, ao contrário de China e Índia.
Mas houve dois anos em que Lula fez questão de assumir posições explícitas. Em 2007, com a economia mundial de vento em popa, e a brasileira entrando em ritmo de crescimento acima da média dos últimos anos, Lula escandalizou a esquerda ao decidir comparecer apenas ao Fórum Econômico, deixando de lado a reunião social no Quênia.
Naquela ocasião, o ex-assessor especial da Presidência e um dos idealizadores do Fórum Social Oded Grajew lembrou que a coincidência de datas entre os dois eventos, desde a criação do evento, em 2001, foi proposital para “fazer as pessoas escolherem seus caminhos, dizerem onde se sentem mais identificadas”.
Já em 2009, com a crise econômica internacional que estourara em setembro do ano anterior, Lula decidiu pela primeira vez comparecer apenas ao Fórum Social, que se realizou em Belém, onde fez críticas aos “donos do Universo”.
Na busca de reaproximação com os movimentos sociais, Lula criticou os Estados Unidos e os países desenvolvidos, culpando-os pela crise econômica mundial, e pôde dividir o protagonismo com os líderes esquerdistas como Chávez e Evo Morales, que sempre fizeram muito sucesso no Fórum Social e nunca puseram os pés na estação de esqui suíça que hospeda o Fórum Econômico.
Lula já assumiu vários papéis em Davos: houve ano em que foi um vendedor entusiasmado do Brasil para os investidores internacionais, coordenando uma reunião especial sobre os programas de infraestrutura que lançaria; houve anos em que foi apenas o líder carismático a encantar os “louros de olhos azuis” com sua história de vida, de superação.
Mas houve também ocasiões em que foi superado por aparições como a do presidente da Tanzânia, Benjamin William Mkapa, que na reunião de 2005 roubou de Lula o lugar de estrela da companhia, pedindo doações para comprar mosquiteiros para combater um surto de malária.
A atriz Sharon Stone estava na plateia e deu um show à parte, recolhendo donativos.
Como Lula estava lá na qualidade de representante dos emergentes Brics, países que se candidatam a futuros líderes mundiais, não teve tanta atenção quanto “o pobre da vez”.
O interesse pela América Latina tem sido crescente nas últimas reuniões de Davos, especialmente devido ao desenvolvimento econômico mantido anos seguidos, com uma melhora da distribuição de renda e o fortalecimento da democracia na região, apesar da presença crescente de governantes autoritários, cujo paradigma é Hugo Chávez, da Venezuela.
A presença de um governante de esquerda com características moderadas, e o destaque que o Brasil vem ganhando nos últimos anos, a ponto de estar sendo apontado como candidato a se transformar em quinta economia do mundo em 2030 por recente estudo da consultoria PriceWaterhouse and Coopers, tornaram a homenagem de Davos a Lula uma consequência natural em seu último ano de governo.
Ao contrário do relacionamento com o Fórum Social, que continua preferindo a liderança histriônica e radical de Chávez.
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