Valor Econômico
Petistas importantes demonstram preocupação com a nova estratégia de comunicação adotada pelo presidente Lula
Vozes relevantes do PT demonstram preocupação
com a nova estratégia de comunicação adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Nada pessoal contra o titular da Secretaria
de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira, sublinham.
Eles reconhecem a importância de seu trabalho durante campanha de 2022 e o fato
de o ministro ter sido nomeado há cerca de um mês, em uma situação delicada.
Mas o receio é com o risco de agravamento do problema de imagem do governo.
Explica-se: a comunicação da Presidência da República tem a missão institucional de difundir as políticas públicas do Poder Executivo, após coordenação interministerial e com o uso de pesquisas sobre o que interessa ou preocupa a sociedade. Por ser impessoal e técnica, argumentam, chega à população com muito mais credibilidade do que quando a mensagem passa a ter uma roupagem de campanha eleitoral.
Contudo, ela pressupõe que o governo tenha
entregas para fazer. A ausência desse ativo está no centro das preocupações
desses correligionários de Lula. O próprio presidente já reconheceu em recente
entrevista que o povo tem razão de reclamar de sua administração devido à falta
de realizações, embora frequentemente reitere que 2025 será um ano de colheita.
Nas palavras de uma dessas lideranças
históricas do PT, o presidente decidiu fazer uma aposta ao antecipar o clima de
disputa eleitoral. E o risco, para um governo que luta para recuperar a
credibilidade, é que em campanhas a população sempre duvida do que ouve. Essa
avaliação foi compartilhada na véspera das eleições das Mesas Diretoras da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Ou seja, antes de as mais recentes
pesquisas de opinião aferirem queda relevante na avaliação do governo.
Na mesma noite, Lula reuniu-se com as
bancadas do PT. No encontro, cobrou ajuda na defesa de sua gestão. “Nada de paz
e amor”, bradou.
De lá para cá, o próprio Lula elevou o tom.
Reiterou, por exemplo, a promessa de oferecer gás de cozinha gratuito para 22
milhões de famílias. Afirmou que o botijão de gás sai da Petrobras por
R$ 36, perguntando aos presentes quanto eles pagavam pelo produto. Ouviu
valores que chegavam a quase cinco vezes mais, segundo relatos, em um movimento
para neutralizar as críticas direcionadas ao governo.
Fez algo semelhante nessa segunda-feira (17).
Disse que Petrobras e
governo “levam a fama” quando é preciso reajustar preços dos combustíveis,
embora a gasolina e o diesel sejam vendidos na ponta pelo dobro do preço
praticados pelas refinarias da estatal. Defendeu que a empresa venda
combustíveis diretamente para os grandes consumidores, pois “o povo é assaltado
pelo intermediário”.
No início do mês, informou que o governo
federal anunciaria “nos próximos dias” novas medidas para ampliar a atuação dos
bancos públicos. A ideia é que eles tenham forte atuação na oferta do crédito
pela nova modalidade do empréstimo consignado privado. Em outro evento, desta
vez na Bahia, assegurou que pretende fazer muitas políticas de crédito para
incentivar o consumo no país. Nos bastidores, há quem cite no governo um estudo
feito por economistas americanos relacionando a elevação do custo do crédito nos
Estados Unidos à queda da popularidade do ex-presidente Joe Biden.
Lula também tem reiterado a promessa de
enviar ao Congresso a proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$
5 mil por mês. O presidente já recebeu do Centrão a sinalização de que o
projeto será bem recebido na Câmara, desde que inclua uma adequada compensação
fiscal. Até agora esses deputados não viram um texto pronto com a matéria.
É verdade que o Palácio do Planalto
desqualificou a notícia de que se pretendia elevar o valor do benefício do
Bolsa Família em razão da inflação de alimentos, algo que repercutiu
negativamente no mercado. No entanto, permanece a pressão em alguns setores do
governo para que se pise no acelerador, em um perigoso caminho no qual tudo
pode valer para melhorar a percepção da população em relação à economia.
Preocupa o PT e aliados o que ocorreu com
Biden. A economia americana ia bem e a inflação desacelerava quando ocorreram
as últimas eleições americanas, mas o Partido Democrata não conseguiu manter-se
no poder.
Em recente artigo, o famoso estrategista
democrata James Carville escreveu que Donald Trump retornou à Casa Branca
porque, pela primeira vez em sua carreira política, conquistou uma faixa de
eleitores de classe média e de baixa renda focados na economia. “Perdemos por
uma razão muito simples: era, é e sempre será a economia, estúpido”, anotou,
dando nova vida ao seu famoso bordão. “Os Democratas simplesmente perderam a
narrativa econômica. A única via para a salvação eleitoral é retomá-la. A
percepção é tudo na política, e muitos americanos nos veem como alheios à
economia - não sentindo a dor deles, ou então preocupados demais com outras
coisas.”
Ele também lembrou no texto que neste ano a
cúpula do Partido Democrata deve se reunir e publicar uma agenda econômica
criativa, popular e ousada. “Devemos estar na ofensiva com uma agenda econômica
popular e populista que eles [republicanos] não podem apoiar.”
O PT se reúne nesta semana no Rio de Janeiro
com a presença de Lula para comemorar os 45 anos de fundação do partido. Pode
ser um momento esclarecedor sobre a fórmula adotada pelo presidente para
melhorar sua popularidade e, consequentemente, os potenciais efeitos dessa
estratégia na economia.
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