EDITORIAIS
É urgente resolver o problema das
habitações precárias
O Globo
Depois das chuvas arrasadoras que já
deixaram mais de 130 mortos e pelo menos 213 desaparecidos, o horror estampado
nas encostas instáveis de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, expôs de forma
dolorosa um problema que não pode mais ser negligenciado. Em ano eleitoral, o
déficit habitacional e a falta de políticas públicas para o setor, que empurram
milhares de famílias para áreas de risco, precisam ter destaque no debate
político dos candidatos a presidente, governador, deputado e senador.
A história se repete de forma trágica. Chuvas torrenciais na serra fluminense produziram em 2011 o maior desastre natural do país, com quase mil mortos. Era de esperar que o Brasil acordasse para o problema das habitações precárias, construídas de forma irregular e desordenada em áreas sujeitas a deslizamentos. Passado o clamor da tragédia, tudo volta à estaca zero. Em Friburgo e Teresópolis, onde bairros inteiros foram destruídos há 11 anos, casas condenadas voltaram a ser ocupadas. Em Petrópolis, um levantamento do município apontou que 27 mil famílias estavam em locais de alto risco. Continuaram no mesmo lugar. A questão não diz respeito apenas a Petrópolis. Em cidades de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e São Paulo, o drama é idêntico.
Levantamento do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Desastres Naturais (Cemaden) mostrou que 8,27 milhões de brasileiros vivem
em áreas de risco em 872 municípios. O maior contingente está na Região
Sudeste: 4,26 milhões, quase 10% da população. No Nordeste, os números não são
menos preocupantes. Em Salvador, quase metade (45,5%) dos moradores vive em
locais suscetíveis a desastres.
O que o país tem feito para resolver ou ao
menos mitigar o problema? Nada ou quase nada. Políticas habitacionais, de
qualquer esfera de governo, quando existem, são ridículas. Construções de baixa
qualidade, em zonas distantes dos polos de trabalho, agravam a situação. Os
programas habitacionais da União se prestam mais às plataformas eleitorais que
a atender à demanda urgente. O Minha Casa Minha Vida, dos governos petistas,
foi um arremedo de solução. Com graves problemas de gestão, são incontáveis as
obras paralisadas, sem falar na qualidade precária — conjuntos habitacionais
precisaram ser demolidos por falhas na construção antes mesmo de ficar prontos.
Na gestão Bolsonaro, o Casa Verde e Amarela, voltado ao Nordeste para turbinar
a campanha à reeleição, olha mais o mapa eleitoral que o mapa de risco.
Não é por falta de “visão de futuro” ou
mesmo por vontade própria que cidadãos vão morar à beira do abismo. É porque
não têm opção. Candidatos que buscarão votos nas próximas eleições precisam
dizer o que farão para tratar essa tragédia nacional. Os eleitores têm de
cobrar compromissos concretos. É óbvio que não se resolverá de uma hora para
outra um problema de décadas, mas é preciso começar — e já. Não se pode ficar
esperando o próximo temporal. O diagnóstico está feito, e a inércia tem custo
altíssimo. Lamentar a tragédia e se solidarizar com pais e mães que buscam com
as próprias mãos os filhos sob os escombros não resolve. Até quando o país
conviverá com essas cenas abomináveis?
Itamaraty é conivente com o fiasco de
Bolsonaro no exterior
O Globo
A viagem do presidente Jair Bolsonaro a
Moscou e Budapeste não trouxe surpresa. Teve um resultado comercial pífio e
provocou estrago considerável na política externa. Com 130 mil soldados russos
na fronteira ucraniana, e a Europa correndo o risco de guerra, Bolsonaro disse
a Vladimir Putin ser “solidário” à Rússia, depois alimentou a ideia fantasiosa
segundo a qual ajudou a distensionar a crise. Na Hungria, ao lado do autocrata
Viktor Orbán, usou uma frase que ecoa um lema fascista e empenhou apoio à agenda
conservadora, contrária aos imigrantes e às minorias promovida pelo húngaro. O
carnaval nem começou, e Bolsonaro já rasgou a fantasia.
Tudo isso era previsível. A viagem sempre
teve intenção de agradar ao público mais fiel e gerar imagens para a campanha eleitoral.
A pergunta a fazer é outra: como o Ministério das Relações Exteriores aceitou
tomar parte nessa pantomima? O chanceler Carlos França tinha a obrigação de
poupar o Brasil dos riscos da viagem, evitar as gafes e garantir a reputação do
Itamaraty. Em vez disso, tentou justificar a visita num artigo em que se
esmerava na arte diplomática de falar muito sem dizer nada. As vozes que
defendiam manter a agenda na Rússia para não transmitir a impressão de se
“render aos americanos” — entre elas o ex-chanceler Celso Amorim — também
terão, diante dos fatos, dificuldade de justificar seu papelão.
França assumiu o Itamaraty em abril do ano
passado, com a missão implícita de consertar o estrago deixado pelo antecessor,
Ernesto Araújo, que submetera a política externa brasileira aos desígnios de um
grupo de ideólogos da extrema direita que viam até a Organização Mundial da
Saúde (OMS) como parte de um complô sino-marxista.
O novo chanceler começou bem, e o
Ministério das Relações Exteriores parou de ser uma plataforma para ideias
delirantes. A participação brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima, realizada em Glasgow no ano passado, não foi brilhante, mas
tampouco vergonhosa. Boa parte do crédito cabe ao Itamaraty. Ressurgiu também a
articulação para a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Mas, convenhamos, ser melhor que Araújo não
é exatamente tarefa das mais difíceis para alguém que segue a tradição do
Itamaraty. Só que a expectativa em torno do nome de França era maior. Quando
assumiu, falava-se em “resgatar a credibilidade internacional do Brasil”, em
“mostrar ao mundo que o Brasil está de volta”. As visitas de Bolsonaro a Putin
e Orbán são prova de que nada disso aconteceu.
O maior risco para França agora é repetir o
desempenho medíocre do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que também assumiu
com um perfil mais profissional e a missão de reparar os danos do antecessor,
para acabar se tornando depois um mero “Pazuello de jaleco”.
Contra fake News
Folha de S. Paulo
Razoáveis, acordos do TSE com redes, à
exceção do Telegram, ainda geram dúvidas
O bom funcionamento da democracia depende
de um eleitor bem informado que escolhe de forma livre seus dirigentes e
representantes. Novas escolas da ciência política relativizam essa ideia de
estirpe iluminista, mas ninguém em sã consciência defenderá que a circulação
maciça de fake news seja virtuosa ou mesmo inofensiva.
Nesse contexto é bem-vindo o acordo entre o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e empresas que administram redes sociais para
tentar conter a desinformação durante a campanha para o pleito de outubro.
Assinaram a parceria Twitter, TikTok, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram,
YouTube e Kwai.
O Linkedin já está em negociações com a
corte, mas o Telegram, plataforma na qual o presidente Jair Bolsonaro e seus
seguidores têm grande peso, não tem representação no Brasil e continua sem
responder às solicitações.
Se as medidas acordadas —que incluem
filtragens para identificar informações enganosas, rotulagem e até a remoção de
conteúdos que violem as regras da própria empresa— bastarão para diminuir
significativamente o volume de fake news ainda é uma incógnita.
É positivo, de todo modo, o fato de que os
gigantes da tecnologia tenham começado a aceitar suas responsabilidades como
editores de informação. Preocupa, porém, que estejam adotando por aqui
políticas menos rigorosas do que as que utilizaram no pleito americano de
2020, como
noticiou a Folha.
No caso do TikTok, prevalece a percepção de
que o entendimento foi firmado de forma displicente. Os termos de uso sobre
integridade eleitoral adotados pela empresa são uma tradução descuidada do
documento utilizado no pleito dos Estados Unidos —fala-se até em voto pelo
correio, modalidade de sufrágio que não existe no Brasil.
A grande questão no momento, ou pelo menos
a que mobiliza as atenções, é o tratamento que será dado ao Telegram. Como a
empresa não tem representação nem ativos no Brasil, não está ao alcance fácil
da Justiça nacional.
Se o TSE decidir enfrentar a plataforma, só
o que poderá fazer é tentar bloquear o aplicativo, o que não é uma resposta
consensual, além de apresentar desafios técnicos.
Melhor que não se chegue a essa situação. O
que o tribunal está pedindo aos administradores de rede é perfeitamente razoável
e não parece contrariar os interesses de médio e longo prazo da empresa.
Ela, afinal, deverá enfrentar dificuldade
para monetizar os dados que coleta de seus usuários se passar a ser vista
globalmente como um covil virtual, no qual párias de todo o planeta se reúnem
para propagar o ódio e cometer crimes.
O irmão Orbán
Folha de S. Paulo
Bolsonaro se exibe para apoiadores ao lado
de referência da direita autoritária
"Meu irmão, dadas as afinidades",
foi como Jair Bolsonaro (PL) definiu sua relação com o primeiro-ministro da
Hungria, Viktor Orbán, em visita
improvisada ao país europeu —marcado por escalada autoritária que
inclui o controle de Judiciário, Legislativo e imprensa.
Ao abraçar calorosamente o autocrata
húngaro e proferir um discurso entusiasmado, o mandatário brasileiro esteve à
vontade ao lado de uma das referências da direita populista global, condição
que também disputa. Repetiu o mote fascista "Deus, pátria e família",
acrescentando "liberdade" à lista.
Como Bolsonaro, Orbán, que está no poder
desde 2010, enfrentará uma eleição árdua neste ano: em abril, sua posição será
desafiada por uma oposição multipartidária pela primeira vez unificada sob a
liderança do conservador independente Péter Márki-Zay.
Não por acaso, o premiê determinou um
congelamento de preços de alimentos; no Brasil, o presidente a toda hora ensaia
intervir nos preços dos combustíveis.
Na cantilena reacionária, Orbán afirmou que
"os cristãos têm a religião mais perseguida do mundo"; que disputará
uma "eleição para proteger as crianças", fazendo referência a um
plebiscito sobre leis anti-LGBTQIA+ que ocorrerá em paralelo ao pleito; que
"a migração é um fenômeno negativo".
Não é novidade a afinidade entre Bolsonaro
e o nacionalista húngaro —que, em 2019, foi um dos poucos líderes estrangeiros
presentes à posse do presidente brasileiro.
Naquele ano, o deputado Eduardo Bolsonaro
(SP), herdeiro ideológico do pai, visitou o país europeu. Também a ministra
Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, discursou na
Cúpula da Demografia, realizada em Budapeste, quando defendeu que o Brasil, sob
novo governo, voltara "a ser um país da família".
Para além do proselitismo conservador,
pouco de prático foi realizado. Bolsonaro assinou três memorandos, inclusive em
cooperação na área de defesa nacional.
Apesar de a Hungria ter comprado da Embraer
dois cargueiros militares KC-390 por US$ 300 milhões, negócio fechado em 2020,
os dois países não mantém volumosa balança comercial (US$ 457 milhões são
importados pelo Brasil e US$ 62 milhões, exportados).
O que interessava de fato a Bolsonaro e
Orbán era acenar a apoiadores domésticos e internacionais. No que diz respeito
à política externa, ambos contribuem para levar seus países à condição de párias
no cenário global.
Reindustrialização com democracia
O Estado de S. Paulo
Novo presidente da Fiesp rejeita envolvimento partidário e defende ações para reconstrução de uma indústria dinâmica
Qualquer governo eleito democraticamente
poderá contar com a cooperação da Fiesp, disse a jornalistas o novo presidente
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Josué Gomes da Silva. A
entidade, afirmou, ficará longe da disputa eleitoral, sem tomar posições “mais
típicas de partidos políticos”. Esse anúncio prenuncia uma importante mudança,
após 17 anos de mandato de Paulo Skaf, conhecido por suas pretensões políticas
e notoriamente alinhado ao presidente Jair Bolsonaro. Sem mencionar seu
antecessor, o novo dirigente da Fiesp foi explícito, no entanto, ao criticar o
atual presidente da República.
Bolsonaro será lembrado nos livros de
história, disse o empresário, por seus ataques ao Congresso, ao Judiciário e à
imprensa. Não eliminou, porém, a hipótese de uma reeleição, e disse torcer,
nesse caso, por um novo comportamento. Seja quem for o eleito neste ano, “o
Brasil não vai acabar”, comentou o novo dirigente da Fiesp.
Filho do falecido vice-presidente José
Alencar, companheiro de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou uma
distinção essencial entre ele e seu pai quanto ao relacionamento com o poder.
“Eu ia a Brasília como empresário”, disse Josué Gomes da Silva em resposta a um
jornalista.
Como empresário e líder de uma entidade
empresarial, um de seus objetivos, explicou o presidente da Fiesp, é reverter a
trajetória da indústria nas últimas décadas, quando o setor perdeu dinamismo e
participação na economia nacional. É preciso, acrescentou, debater a
reindustrialização do País.
Ao defender a reindustrialização, Gomes da
Silva identifica um retrocesso histórico, a perda de avanços econômicos
acumulados em muitas décadas de esforço do governo e do setor privado. Essa
percepção é obviamente distante das preocupações declaradas até hoje pelo atual
presidente da República e por seus auxiliares econômicos.
Gomes da Silva envolve o governo,
corretamente, ao defender um esforço de reconstrução da indústria,
especialmente do ramo de transformação. Mas praticamente se limita a defender
um corte de impostos por meio de uma reforma tributária. É um erro, segundo
ele, confundir diminuição de tributos com perda de arrecadação. Essa observação
pode ser verdadeira, mas convém discutir o assunto com cautela e a partir de
uma perspectiva ampla.
A tributação brasileira é claramente
disfuncional. Onera a produção de forma desproporcional, dificulta o
investimento, reduz a competitividade e é regressiva, isto é, socialmente
injusta. Mas é preciso discutir a reforma do sistema de forma ampla, evitando a
mera adição de remendos. As propostas do Executivo federal são obviamente
pobres e denotam uma espantosa limitação de ideias sobre o funcionamento da
economia real e as necessidades do setor produtivo.
Mas é preciso ir além das questões
tributárias. A estagnação da indústria está associada também a outros fatores,
como a pobreza das políticas de tecnologia, formação de mão de obra,
financiamento, infraestrutura, simplificação de procedimentos burocráticos,
fortalecimento da segurança jurídica e competitividade. Também é preciso
repensar o alcance e os propósitos da proteção comercial, além de impor um novo
dinamismo às ações de integração nas cadeias globais de produção e de comércio
e de investimento.
Qualquer política séria de reindustrialização – e de revigoramento da economia – deverá envolver o exame de todas essas questões, negligenciadas ou tratadas erradamente há décadas. Nada se fará com mágicas e nenhum grande problema se resolverá em prazo muito curto, especialmente se o Brasil continuar sujeito à incerteza fiscal e a pressões inflacionárias mais fortes que as observadas em outros países. Com seu discurso realista, o novo presidente da Fiesp dá sinais de estar preparado para inserir seus objetivos setoriais nesse quadro complexo. Pode-se discutir a reindustrialização como parte de uma ampla reabilitação da economia nacional. Será o debate mais frutífero, mas isso dependerá também da qualidade do governo instalado em 2023.
A teimosia é apartidária
O Estado de S. Paulo
Propostas legislativas para frear a alta de
preços de combustíveis e energia ignoram experiências anteriores e partem de
premissas improváveis
.
A busca de soluções para limitar o aumento
dos combustíveis costuma ser inócua, mas a qualidade das discussões tende a ser
ainda pior em anos eleitorais. Contaminado pela disputa por votos, o ano se
iniciou de forma muito semelhante ao de 2018, dominado pela celeuma sobre os
preços desses itens. Há quatro anos, a crise culminou em uma greve de
caminhoneiros que paralisou o País por semanas. Para dar fim ao movimento, o
governo de Michel Temer criou um subsídio para o diesel. Um debate sério sobre
o tema demandaria analisar, em primeiro lugar, o resultado prático dessa
política. A despeito da subvenção de R$ 9,5 bilhões, criada para reduzir o
valor do diesel em R$ 0,46 por apenas sete meses, ele caiu bem menos – de R$
3,63 em maio para R$ 3,50 em dezembro, de acordo com a Agência Nacional do
Petróleo (ANP). É de supor que mais da metade do desconto tenha sido apropriada
pelos agentes ao longo da cadeia. Mas nem o passado recente foi capaz de
convencer parlamentares e governo a desistir de mexer nesse vespeiro. Nesse
sentido, a teimosia é realmente democrática e apartidária.
Quando as políticas públicas não funcionam,
geralmente não é por falta de aviso. A Consultoria Legislativa do Senado fez
uma análise robusta para contribuir com os atuais debates legislativos sobre o
preço dos combustíveis. Uma delas diz respeito à Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) apelidada de “Camicase”, como ficou conhecido o texto
apresentado pelo senador Carlos Fávaro (PSD-MT), integrante da base aliada, e
que tem o apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente.
Segundo estimativas da equipe econômica, as perdas podem chegar a R$ 100
bilhões, a maior parte relacionada à desoneração de combustíveis e energia
elétrica.
Do outro lado do espectro político está o
projeto de lei de autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE) e relatado por
Jean Paul Prates (PT-RN). Ele muda a política de preços da Petrobras e cria uma
conta de estabilização para amenizar o repasse de reajustes dos combustíveis ao
consumidor. Para obrigar os produtores a investirem em refinarias, o fundo
seria abastecido, entre outras fontes, por um imposto de exportação sobre
petróleo bruto – iniciativa que, além de inconstitucional, ignora experiências
semelhantes tentadas pela Argentina. O senador anunciou que ouviria a opinião
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de apresentar o relatório, já
que considera que a eleição do petista é questão de tempo. Teria ainda sido
pressionado por uma ala do partido a desistir do consenso e radicalizar para
perturbar Bolsonaro, obcecado pelo tema. Daí se vê a profundidade do buraco em
que o País se meteu.
Se o custo dessas propostas será gigantesco, seria esperado que elas tivessem efetividade, o que tampouco é o caso. A nota da Consultoria Legislativa levanta pontos interessantes sobre o provável efeito limitado que quaisquer dessas medidas teriam sobre o valor dos produtos e sobre seus certeiros prejuízos fiscais e macroeconômicos. Mas talvez o problema principal, que tem sido ignorado nos debates, dizem os consultores, é que todas assumem que as elevações de preço desses itens são um fenômeno conjuntural, embora não haja qualquer certeza sobre essa hipótese. Se as tensões entre Rússia e Ucrânia dominam o noticiário internacional hoje, uma coisa é certa: excetuando-se momentos pontuais que geraram quedas bruscas, o histórico dos últimos 20 anos e a tendência de médio prazo mostram uma alta consistente do petróleo. Isso também é verdade no caso da energia, que tem sofrido aumento estrutural no País em razão da explosão dos subsídios embutidos nas tarifas, fora os custos associados à transição energética. Em ambos os casos, a nota alerta: “Uma vez retirados, o retorno desses tributos pode ser inviabilizado por dificuldades políticas ou mesmo pelos efeitos inflacionários”. A aprovação de quaisquer desses textos pelo Congresso terá certamente um alto custo para a sociedade. Já o fracasso dessas ações na contenção dos preços não será nenhuma surpresa.
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