quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O vídeo de Felca e os golpistas – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Adeptos da 'pauta moral' correram para legislar contra abuso de crianças nas redes

Quem tem crianças na escola e acompanha grupos de mães e pais de estudantes em WhatsApp lia pelo menos desde a sexta-feira passada uma inundação de alertas a respeito de um vídeo do influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, 27, o Felca, que denunciava explorações variadas de crianças em mídias de plataformas sociais. Publicado na quarta passada, dia 6, o vídeo tinha quase 34 milhões de visualizações até o final da tarde desta terça, 12.

Quem vive no mundo real, muito digital e formatado culturalmente pelas más influências algorítmicas e conspirações da desrazão, sabe disso tudo e muito mais. Pelo bem ou pelo mal, deputados federais resolveram tomar uma atitude ou, pelo menos, tirar uma casquinha da repercussão do que disse Felca.

lobby das "big techs" vem convencendo, por assim dizer, parlamentares a emperrar a tramitação de projetos de regulação de plataformas sociais. O lobby faz sucesso entre a direita, ainda mais entre bolsonaristas. O que o chavão chama de "pauta moral", porém, incentivou a direita a se mexer.

Vai ser interessante saber o que vai sair dessa tentativa particular do que será, de algum modo, regulação das plataformas sociais e definição de crimes que lá são cometidos ou propagandeados.

Como todo mundo também sabe, a extrema direita e a direita do centrão já direitista dão apoio à campanha de Donald Trump contra o funcionamento das instituições brasileiras. Os capitães dessa ofensiva alegam que há abusos judiciais contra a liberdade nas redes e atacam reações contra a impunidade das "big techs".

Segundo reportagem desta Folha, os até agora 32 projetos dos deputados "...incluem restrições à monetização de vídeos, fotos e transmissões ao vivo com participação de menores, além de regras para atuação artística de crianças e adolescentes no meio digital...". Penas seriam agravadas para quem explora sexualmente os menores de idade. Obviamente, ok.

Além disso, e aí a coisa começa a pegar, a "adultização digital precoce" viria a ser crime, assim como divulgar "conteúdos com conotação sexual" e estimular "comportamentos perigosos". Ok também, claro. Embora necessário, difícil é fazer legislação correta, como é difícil em tantos outros casos de promoção do crime, sua indução e propaganda pelas redes.

Difícil: o que é um conteúdo criminoso? Quem pode ser tido como responsável pelo crime? Certamente o autor da publicação, quem a financia, talvez quem veja essas coisas ou as circule por aí, por meio digitais principalmente. Quem aceita a publicação é responsável? Que tipo de ordem judicial (ou outra, institucional) pode exigir que a publicação saia do ar?

Essa conversa e essas dúvidas sérias também não são novas. São um problema difícil também para quem discute o assunto de modo racional e decente. Mas são também motivos da pororoca golpista das direitas, um instrumento de ataque contra o Supremo, movimento apoiado agora pela conspiração Trump-Bolsonaro.

Não é possível aparecer com projetos de lei que não tratem da responsabilidade sobre "conteúdos", como se diz hoje em dia. Isso tem de ficar estabelecido ou as leis não vão valer nada. Agora, é saber como os santarrões, hipócritas e oportunistas em geral vão lidar com a questão.

Alguns conteúdos poderão ser objeto de medidas duras, outros não? A pergunta não é retórica. O governo vai apresentar novo projeto da regulação das "big techs", por estes dias.

 

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