quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Bruno Boghossian: Pedalando com rodinhas

- Folha de S. Paulo

Candidato cede autonomia e mantém vínculo para absorver votos do ex-presidente

O PT trocou seu registro no TSE, mas Fernando Haddad não saiu de Curitiba como candidato autônomo. Lula unge o afilhado no 12º parágrafo da carta lida à militância do partido, autorizando sua substituição na corrida presidencial. Algumas frases à frente, acrescenta: “ele será o meu representante”.

A ambiguidade remanescente na chapa petista é o trunfo final da sigla para chegar às urnas em outubro numa posição competitiva. A menos de quatro semanas do primeiro turno, Haddad ganha velocidade, mas ainda aparece com 9% nas pesquisas. Para chegar ao segundo turno, precisará cruzar a linha de chegada numa bicicleta com rodinhas.

Um retrato do eleitorado cativo do PT revela por que a figura de Lulaserá crucial até o último dia de campanha. O ex-presidente tinha 49% das intenções de voto entre eleitores com renda de até dois salários mínimos. Haddad tem 10% —mas, ali, 3 de cada 4 eleitores não sabem que é ele o candidato lulista.

A fidelidade de muitos brasileiros ao ex-presidente faz com que as projeções de transferência de votos nesse segmento e em outros nichos tradicionalmente petistas não sejam tão absurdas quanto parecem.

Apesar da saída de Lula de cena, mantiveram-se altos os índices de eleitores que dizem seguir sua orientação. No Nordeste, 52% dos entrevistados afirmam que votariam “com certeza” em seu indicado.

O PT busca convencer os eleitores de que a vitória desse nome relativamente desconhecido significará o retorno (simbólico ou real) de Lula. “Um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. Nesse dia, estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo”, afirmou o ex-presidente na carta que formalizou a troca.

Mais do que um padrinho, Lula se apresenta como fiador de Haddad —e este, por sua vez, como um executor de seus projetos. Aparentemente, trata-se de uma vacina contra a má lembrança dos anos de Dilma Rousseff. Na prática, volta a imagem daquele mero “representante”.

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