terça-feira, 5 de agosto de 2025

Datafolha é banho de realidade para Lula - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Tarifaço prejudicou bolsonarismo, mas não resultou numa volta por cima política para o governo

A mais recente pesquisa Datafolha deveria funcionar como um "reality check", um banho de realidade, para o governo Lula. Pelo que o instituto apurou, a crise em torno do tarifaço de Trump contra produtos brasileiros beneficiou o petista, mas de forma menos direta e menos definitiva do que se poderia supor.

O bolsonarismo sofreu abalo importante com a estripulia de Dudu, se é lícito chamar assim a campanha contra o Brasil que Eduardo Bolsonaro deslanchou nos EUA. É de 57% a proporção de brasileiros que repudia a tentativa de interferência da Casa Branca no sistema de Justiça brasileiro.

Outro dado interessante é que 61% dos entrevistados dizem que não votariam de jeito nenhum num candidato que prometesse livrar o capitão reformado e seus apaniguados de punições pelo 8/1. Mas isso nem de longe significa um golpe fatal no bolsonarismo. Nada menos do que 36% apoiam as ações do presidente americano. E, como vimos no domingo, a direita radical ainda é capaz de levar bastante gente às ruas.

Por determinações da matemática, o enfraquecimento do bolsonarismo resultou numa ligeira melhora da posição de Lula nos cenários de intenção de voto de primeiro e segundo turno, mas nada que indique que a disputa será um passeio para o presidente ou algum outro candidato situacionista.

De modo mais estrutural, a crise das sanções praticamente não alterou a avaliação negativa do governo Lula: 40% continuam classificando a administração como ruim ou péssima (ótimo e bom somam 29%). É um indicativo de que será difícil vencer o pleito apenas surfando nos erros dos adversários; será preciso também mostrar serviço.

Num terreno mais especulativo, penso que a crise provoca mudanças qualitativas que podem, sim, beneficiar o governo. A mais importante delas é que a chantagem trumpiana tem um caráter tão anti-institucional que tende a afastar do bolsonarismo os eleitores moderados. Esse grupo é pequeno, mas pode, como em 2022, revelar-se o fiel da balança numa eleição apertada.

 

 

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