Folha de S. Paulo
Tarifaço prejudicou
bolsonarismo, mas não resultou numa volta por cima política para o governo
A mais recente
pesquisa Datafolha deveria
funcionar como um "reality check", um banho de realidade, para o
governo Lula.
Pelo que o instituto apurou, a crise em torno do tarifaço de Trump contra
produtos brasileiros beneficiou o petista, mas de forma menos direta e menos
definitiva do que se poderia supor.
O bolsonarismo sofreu abalo
importante com a estripulia de Dudu, se é lícito chamar assim a campanha contra
o Brasil que Eduardo
Bolsonaro deslanchou nos EUA. É de 57% a proporção de brasileiros que
repudia a tentativa de interferência da Casa Branca no sistema de Justiça
brasileiro.
Outro dado interessante é que 61% dos entrevistados dizem que não votariam de jeito nenhum num candidato que prometesse livrar o capitão reformado e seus apaniguados de punições pelo 8/1. Mas isso nem de longe significa um golpe fatal no bolsonarismo. Nada menos do que 36% apoiam as ações do presidente americano. E, como vimos no domingo, a direita radical ainda é capaz de levar bastante gente às ruas.
Por determinações da
matemática, o enfraquecimento do bolsonarismo resultou numa ligeira melhora da
posição de Lula nos cenários de intenção de voto de primeiro e segundo turno,
mas nada que indique que a disputa será um passeio para o presidente ou algum
outro candidato situacionista.
De modo mais estrutural, a
crise das sanções praticamente não alterou a avaliação negativa do governo
Lula: 40% continuam classificando a administração como ruim ou péssima (ótimo e
bom somam 29%). É um indicativo de que será difícil vencer o pleito apenas
surfando nos erros dos adversários; será preciso também mostrar serviço.
Num terreno mais
especulativo, penso que a crise provoca mudanças qualitativas que podem, sim,
beneficiar o governo. A mais importante delas é que a chantagem trumpiana tem
um caráter tão anti-institucional que tende a afastar do bolsonarismo os
eleitores moderados. Esse grupo é pequeno, mas pode, como em 2022, revelar-se o
fiel da balança numa eleição apertada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário