- Folha de S. Paulo
David Christian explica de forma didática os primeiros instantes do universo
O que pesa mais na definição do curso da história? A ação de indivíduos ou movimentos desencadeados por forças mais profundas? Embora algumas historiografias oficiais enfatizem o papel de grandes líderes —pense no quadro de Pedro Américo retratando a proclamação da Independência por dom Pedro 1º—, durante a maior parte do século 20 preponderaram correntes que valorizavam os grandes movimentos.
Destacam-se aí o marxismo, com a luta de classes e o materialismo histórico, a turma dos Annales, com sua “longue durée” e o pessoal da biogeografia, para quem características topográficas, climáticas e demográficas são decisivas. Todas essas escolas, porém, se mostram acanhadas diante da “big history”, que pretende reunir saberes de todas as disciplinas para contar a história do que aconteceu desde o Big Bang, 13,8 bilhões de anos atrás, até o presente e ainda antecipar o que ocorrerá nos próximos 10100 anos.
David Christian, um dos principais representantes da “big history”, lançou há pouco “Origin Story”, que coloca esse ambicioso projeto no papel.
Christian tem um impressionante domínio sobre várias ciências e consegue explicar de forma didática os primeiros instantes do universo, o surgimento de estrelas, planetas e a eclosão da vida. O homem só aparece na metade do livro, o que é exótico numa obra historiográfica.
É que, na “big history”, o homem deixa de ser o protagonista e cede o papel principal à oposição entre complexidade e entropia. Hoje a complexidade está dando as cartas por aqui, mas sabemos que, no final, a entropia triunfará.
“Origin Story” está longe de ser uma obra ruim, mas falta-lhe algo difícil de definir, algo entre o charme, o drama e o sentido de propósito. Talvez seja esse o risco que se corre quando tiramos o homem do centro da história e o colocamos no papel bem mais modesto que é o que de fato ocupa numa narrativa verdadeiramente universal.
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