- O Estado de S.Paulo
Líder nas pesquisas recolhe exércitos e reforça os territórios já conquistados
O início oficial da campanha levou Jair Bolsonaro para atrás das trincheiras. Ex-capitão do Exército e fã confesso de estratégias militares, o líder nas pesquisas preferiu recolher seus homens e reforçar os territórios de votos já conquistados para esperar a pesada artilharia adversária que virá.
A decisão de restringir ao máximo, e talvez até abandonar, a presença em debates se inscreve nessa lógica defensiva. Bolsonaro vinha abrindo o flanco e gostando desse tipo de confronto. Contribuiu para sua sensação de que podia ir para cima o desempenho acima do esperado no Roda Viva, para o qual contribuiu a prevalência de perguntas sobre os temas que ele está acostumado a debater – ainda que sua opinião nessas matérias choque uma parte da sociedade, esta não é aquela propensa a votar nele. Veio a sabatina na GloboNews e, de novo, ele achou que saiu por cima com a tática de eleger a imprensa como adversária.
Aquela semana positiva fez com que os adversários de Bolsonaro fossem ao primeiro debate acovardados e poupassem o capitão. Essa fase acabou no debate da RedeTV!, e como escrevi aqui ainda no calor do programa, ele acusou o golpe. Tanto que mudou de estratégia. Abrir mão dos debates na posição de Bolsonaro é uma aposta de risco. Ele é o que é hoje graças a uma mística de valentão, que não foge do confronto e diz verdades na cara dos inimigos e da sociedade.
Faltar a uma, duas, três sabatinas, ignorar encontros de setores aliados, como a Confederação Nacional da Indústria, e deixar em suspenso até a participação nos debates das grandes emissoras mostra um candidato temeroso das próprias fragilidades – programáticas, discursivas, posturais.
A trincheira que ele escolheu para defender sua cidadela de 20% dos votos são as aparições de rua, embaladas pela tietagem em torno de si e amplificada pela exposição massiva nas redes sociais. Nisso ele acerta brilhantemente: tem escolhido territórios de forte simbologia para exibir sua força, como cidades grandes e médias do interior paulista, exibindo seu poderio bélico perante Geraldo Alckmin, que governou o Estado quatro vezes.
É uma aposta em algo diferente das eleições anteriores: que um fenômeno nascido e criado nas redes sociais e vitaminado nas ruas poderá se manter intacto ao ataque que será perpetrado na propaganda eleitoral e nos debates a que deixar de ir.
Pesquisa CNT/MDA divulgada nesta semana perguntou aos entrevistados qual o meio de maior influência na definição do voto. Para 34,2% são os debates. Em seguida vem o horário eleitoral na TV, com 20,4%. As redes sociais estão em quarto lugar, com 7,7%. Na TV, Bolsonaro sofrerá um massacre quantitativo. Terá 11 comerciais ao longo de toda a campanha, contra 13 diários de Alckmin – aquele mais interessado em fustigá-lo, por calcular que disputam a mesma vaga no segundo turno.
Cito os comerciais porque são a modalidade mais impermeável ao discurso de Bolsonaro para que as pessoas desliguem a TV na hora da propaganda eleitoral: o spot aparece no intervalo, quando você não espera, tem 30 segundos e pode ser usado para minar aos poucos o primeiro colocado.
O candidato do PSL parece apostar na cristalização de sua posição, que o tornaria refratário a esses estratagemas – testados em eleições anteriores, mas que ainda são uma incógnita diante dos novos paradigmas pós-Lava Jato e impeachment e num momento de crescimento do peso relativo da internet na política, aqui e no exterior.
Se insistir na nova tática, serão 40 dias na trincheira. Parece tempo demais, mas ele estocou munição e tem consigo um exército fiel, disposto a defendê-lo com unhas e dentes. E à bala.
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